domingo, 27 de janeiro de 2008

A LENDA DO ROUXINOL

Conta uma antiga lenda chinesa que certo dia o Imperador, passeando pelos jardins do palácio, ouviu cantar um rouxinol. E era tão lindo o seu canto, que as cores pareciam tornar-se mais vivas e o mundo mais belo.

Encantado, determinou que o pássaro fosse capturado e levado ao palácio, para que pudesse ouvi-lo cantar em todas as horas do dia; e que os mais hábeis artesãos recebessem os metais mais preciosos e as gemas mais raras, para que pudessem construir a mais rica gaiola que já se viu neste mundo.

Assim se fez. E ao pássaro extraordinário foi reservado um local de honra no palácio, onde a esmerada iluminação fazia refulgir todo o esplendor da magnífica gaiola.

Entretanto, o rouxinol definhava a cada dia. As suas penas, antes brilhantes e vistosas, tornaram-se opacas e nunca mais se ouviu o seu canto. Em vão, ordenou o Imperador que lhe fossem trazidos os mais atraentes e saborosos petiscos, que com as próprias mãos ofertava ao pássaro amado.

Um dia, o rouxinol fugiu. E nem todos os emissários do império, enviados pela China inteira, foram capazes de encontrá-lo novamente.
Então a tristeza dominou o Imperador, minando as suas forças. E em pouco tempo viu-se o poderoso regente preso ao leito, dominado por misteriosa e persistente doença, contra a qual de nada adiantavam os remédios receitados pelos maiores médicos do mundo, que para curá-lo foram chamados.

E veio uma madrugada em que, em meio ao delírio da febre, julgou o Imperador ver ao pé de seu leito o rouxinol. Queixou-se, desvairado:

- Ingrato, eis que te dei tudo de mim! Dei-te a gaiola mais rica que jamais existiu, o melhor lugar do palácio e até mesmo os melhores petiscos do mundo, com as minhas próprias mãos! Eu te amava e mesmo assim me abandonaste!
Respondeu-lhe o rouxinol:

- Dizes que me amavas... e mesmo assim era mais importante a tua vaidade. Para que todos pudessem ver e ouvir o pássaro maravilhoso que possuías, me encerraste em uma gaiola, ao teu lado, privando-me de tudo que eu mesmo amava.

Julgas, acaso, que a gaiola mais rica possa substituir a beleza e a imensidão do céu? Ou que os esplendores do palácio me sejam mais agradáveis que voar livre entre as flores, vendo a sua beleza e respirando o seu aroma, sentindo o calor do sol e o orvalho fresco da manhã?

Certo é que me alimentaste com as tuas mãos e que para mim procuraste os petiscos que melhores julgavas. Mas como podes acreditar que me fossem mais saborosos que os alimentos por mim mesmo escolhidos e por meu próprio bico colhidos?

Porém, não me cabe julgar-te. Sei que é assim entre os homens; o que chamais amor não é senão a satisfação das vossas vontades. Em nome do que dizeis sentir, buscais acorrentar a vós aquele que jurais amar; e não acreditais que alguém vos ame, a menos que se curve a vossos desejos, esquecendo as suas próprias necessidades. O que chamais “dor de amor” é, na verdade, o vosso egoísmo contrariado.

Deixa-me, apenas, mostrar-te o que é o amor. Porque, embora os emissários que enviaste para capturar-me não me tenham encontrado, eu jamais me afastei de ti; escondi-me em um arbusto do jardim, de onde às vezes podia ver-te, sem que me visses. E renunciei ao canto, que me denunciaria, para desfrutar da liberdade.

Entretanto retorno, agora que precisas de mim. E apenas te peço que não tentes prender-me, ou o amor se perderia na revolta. É certo que não estarei contigo todo o tempo que quiseres, mas hás de ouvir-me sempre que me for possível. Deixa-me cantar para ti porque te amo, não porque assim o desejas!

Raiava o dia. E o Imperador, já melhor da febre que o castigara, julgou ouvir um som maravilhoso que se espalhava pelo quarto, trazendo de volta a alegria e as cores da vida. Abriu os olhos para a luz do amanhecer, como se os abrisse para a esperança.

No parapeito da janela, cantando como nunca, estava o rouxinol.

A história não é de minha autoria. Conheci-a há muito tempo, tanto que não me lembro do seu nome, nem da forma como era contada. Esta é uma versão que, talvez, nada conserve da original, a não ser a idéia. É inteiramente livre... como deveria ser o amor.

UPGRADE, EM 02/02/2008 - Recebi, graças à amizade da Rachel, mais estes dois selinhos que ornamentam a nossa página. Agradeço de coração e peço licença para dedicá-los a vocês que, com as suas presenças, fazem florir o nosso oásis.

62 comentários:

  1. Árabe! Essa história é linda! E concordo plenamente. Acredito que quando existe amor entre duas pessoas, ele por si, os aprisiona. Não pela imposição, pelo egoísmo, pela força, mas porque a saudade, o sentimento e a vontade de estarem juntos, assim propõe.
    Boa semana! Fique com Deus!
    Beijos

    ResponderExcluir
  2. Amar é deixar o ser amado livre, sem dúvida!
    Beijo-te as mãos, Mestre!

    ResponderExcluir
  3. Maravilhosa esta história,ARABE. E muito verdadeira.
    Quem dera a sua essência conseguisse penetrar nas pessoas e em alguns duros corações.
    Parabens!!

    Abração e uma otima semana


    http://www.ramsessecxxi.blogger.com.br

    ResponderExcluir
  4. Conheço essa lenda, é a mais pura verdade, no afã da posse sobre nosso amor ficamos egoístas, aprisionamos, ceifamos sua liberdade.
    Que beleza!
    dias lindos
    beijos

    ResponderExcluir
  5. Pouco importa. Ela está bem contada.
    Não a conhecia.
    Um abraço.

    ResponderExcluir
  6. Eu já tinha lido essa história, amigo!
    E, indubitavelmente, o conceito de amor está sempre atrelado ao de liberdade, não duvido disso.
    O que me "aprisiona" no amor, é, às vezes, a impossibilidade de vivenciá-lo, quando há situações que deveras fogem ao nosso humano e pequeno poder.

    Um abraço!

    ResponderExcluir
  7. tambem a conhecia, mas é gososo a ler novamente e do modo como o oi escrito
    Saudações amigas

    ResponderExcluir
  8. "...como podes acreditar que me fossem mais saborosos que os alimentos por mim mesmo escolhidos e por meu próprio bico colhidos?"
    Existem pessoas que querem fazer como algumas mães que, julgando amarem, não deixam seus filhos serem, existirem. Amor é conservar o certo; conservar é trabalhar; amor é ação, mas não 'castração'.
    Amar é 'estar', e não 'ter'.
    Muito bom texto!

    ResponderExcluir
  9. Podendo não ser a original não deixa de ser bela e autêntica...a liberdade não combina com muitas coisas...assim, o rouxinol perdendo a liberdade perdia a vida, e o Imperador "enamorando-se" do canto mavioso do rouxinol perdeu a sua independência...porque o amor é uma forma de criar laços que atam...há que saber viver com eles desatados mas por perto...

    Muitos beijos aqui da Teia.

    ResponderExcluir
  10. amor só dura em liberdade.... já dizia a canção!

    beijos, querido

    MM.

    ResponderExcluir
  11. _ Dizes que me amavas... e mesmo assim era mais importante a tua vaidade.
    Como sempre, texto maravilhoso.
    Passando para agradecer à ti. Obrigada por tua amizade, sempre.
    Bjs com carinho amigo.

    ResponderExcluir
  12. meu amigo! a liberdade é a maior riquesa que podemos ter neste mundo,a liberdade de escolher ,amar e lutar pelo que queremos . gostei deste conto maravilhoso

    ++▄██▄+++▄██████▄+++▄██▄+++
    +██████+██████████+██████+
    +████████████████████████+
    +███████ para ti ██████+++
    ++██████████████████████++
    +++████████████████████+++
    +++++████████████████++++++
    +++++++████████████++++++++
    ++++++++++++██++++++++++++++
    ++▄███▄+++++██+++++▄███▄+++
    +███████++++██++++███████++
    ++███████+++██+++███████+++
    ++++██████++██++██████+++++
    ++++++█████+██+████++++++++ Bjinhos...
    carla granja

    ResponderExcluir
  13. Bela...Linda ....Fabulosa...

    Uma lição de vida.

    Queremos aprisionar o amor...Tê-lo nosso , por vezes à força...Mas a sua força é tão grande e poderosa que tem direito a ser livre.

    Adorei

    Tal como no meu poema para amigos...És um ser de eleição

    Bjgrande

    ResponderExcluir
  14. "Não se prenda quem é livre
    Não se pratique a maldade
    de fechar numa gaiola
    quem nasceu para a liberdade" Também não é de minha autoria, mas a prisão, seja ela qual fôr, deve ser horrível, menos a prisão do nosso coração onde se guardam os nossos grandes amores bem fechados a sete chaves.
    Seja Feliz!

    ResponderExcluir
  15. Será que se chama amor a um amor que não é livre? Ainda assim chama-se Amor?

    Não....não me parece.

    Beijo de Gata!

    ResponderExcluir
  16. Assim deveria ser o amor. Espero que um dia aprendamos que o amor liberta e não escraviza, sim é uma difícil decisão, mas quando a tomamos vemos que na realidade ganhamos.
    Linda esta Lenda meu Amigo, não poderias ter escolhido melhor.

    Pérolas incandescentes de liberdade dos sentimentos, banhadas no rio de lava que em meu mundo corre.

    Com carinho

    Eärwen

    ResponderExcluir
  17. Eu conheço a história. Ou acabei de inventá-la agora, contigo.
    Amor implica liberdade e esse foi o aprendizado mais difícil, pra mim.
    Mas valeu a pena. Pra ser o bem, pra dar cor.

    ResponderExcluir
  18. Oie Árabe! De volta ao oásis relendo, ouvindo a maravilhosa musica. Enfim, aprendendo...
    Beijos

    ResponderExcluir
  19. É a única forma de funcionar, Olhos de Mel... eu acho. :)

    ResponderExcluir
  20. Com certeza, São! O amor se baseia na opção e a liberdade é essencial.Tão certo, como longe me encontro de ser um mestre... :)

    ResponderExcluir
  21. Acaba conseguindo penetrar, sim, DO... ainda que através de muitas lágrimas. Grande abraço.

    ResponderExcluir
  22. Verdade, Clarinha... e é difícil agir diferente, esquecendo a ânsia de posse. :)

    ResponderExcluir
  23. Obrigado, amigo Vieira. Agora, já a conheces... embora, talvez, não tão bela como a original. :) Abração.

    ResponderExcluir
  24. É por aí, Gerlane. Dificil não é vencer o amor, mas as nossas limitações... :)

    ResponderExcluir
  25. Obrigado, Valente. Esta é uma daquelas histórias que superam o espaço e o tempo. Grande abraço.

    ResponderExcluir
  26. Geovane, você está certo. Este é um dos erros que os pais cometem mais amiúde. E me incluo entre eles... :)

    ResponderExcluir
  27. Certíssimo, Su! É como disse Gibran: "Que haja espaços na vossa junção, para que as estrelas do céu possam brilhar entre vós.". :)

    ResponderExcluir
  28. Bem colocado, Mônica... belo poder de síntese! :)

    ResponderExcluir
  29. Obrigao, Lua. E não agradeça pela amizade... você a conquistou. :)

    ResponderExcluir
  30. Obrgado, Carla. Pela rosa e pela gentileza! :)

    ResponderExcluir
  31. Grato, Garça amiga. Sou feliz, ao eleger os meus amigos... :)

    ResponderExcluir
  32. Bem pensado, Benó. Precisamos saber lidar com essa prisão, para qeu possamos atingir a plena liberdade...

    ResponderExcluir
  33. Nem a mim, Gata, nem a mim. Acho que o amor é a liberdade de escolher alguém... :)

    ResponderExcluir
  34. Ela é verdadeiramente, linda, Eärwen... e como nos faz pensar! :)

    ResponderExcluir
  35. Kátia, acredite: eu ainda estou aprendendo... mas tento a cada dia! :)

    ResponderExcluir
  36. Olhos de Mel, a música realmente é linda, não? :) Qt a aprender... é o que fazemos todos, eu inclusive! :)

    ResponderExcluir
  37. Venho só desejar-te um Carnaval de alegre alegria!
    Beijos deste lado do mar.

    ResponderExcluir
  38. Uma lenda muito, mas muito bonita. gostei.

    ResponderExcluir
  39. Ola Árabe!
    O amor é livre!
    se alguém pensar que aprisionar vai fazer a pessoa o amar, ou ser feliz esta totalmente enganada, na pobreza ou na riqueza, a liberdade é o mais importante
    Querido Árabe, tenho dois prémios para ti em meu blog
    Desejo que teu fim de semana seja maravilhoso
    beijinhos mil
    Rachel

    ResponderExcluir
  40. Querido amigo,que bela história...quem ama solta as amarras...amor é ser livre,numa partilha diaria de tudo que a vida tem...

    Doce meu beijo

    ResponderExcluir
  41. "Dizes que me amavas... e mesmo assim era mais importante a tua vaidade"

    Que todo amor que surgi-lhe seja maior que qualquer vaidade, qualquer incerteza ou qualquer defeito da qualidade humana.

    Grande Bjo!
    Bom carnaval!

    ResponderExcluir
  42. Boa semana de Carnaval com alegria, e boa disposição
    Saudações amigas

    ResponderExcluir
  43. Seja lá como for Árabe a história é bela ...linda...e neste mundo em que vivemos precisamos e. faz-nos bem ler coisas assim
    Beijinho prateado com carinho
    Feliz fim de semana
    SOL

    ResponderExcluir
  44. Olà amigo, é linda esta historia mesmo que esteja longe do original a menssagem esta bem perto do real, grande lição de vida, é verdade que por vezes é preciso cairmos tão fundo para dar-mos importancia as pequenas coisas da vida que nos rodeia e que são verdadeiros tesouros sem os quais a vida deixaria de ter sentido, por vezes para a nossa liberdade apresionamos a liberdade de outros, uma coisa importante, é relembrar de que não estamos sòs e que o equilibrio sò é conseguido respeitando tudo e todos que nos rodeiam

    Um grande abraço de amizade

    ps: quando tiver um tempinho faça uma vista pra mim ta?

    ResponderExcluir
  45. Essa leitura me fez pensar que quase todos os pais, com raríssimas exceções, prendem seus filhos em lindas gaiolas douradas.

    Vir aqui não é só a garantia de puro deleite, mas também é a certeza de que terei motivos a mais para pensar e sentir. Obrigada, amigo.

    BeijUivooooooooooossssssss da Loba

    ResponderExcluir
  46. linda história. E eu estou aqui rindo porque é a mesma história que contei hoje no DD, só que com cenas da minha vida. Mas eu realmente acredito nisso, que o amor verdadeiro não prende, liberta.
    bjos e ótimo carnaval

    ResponderExcluir
  47. passando para ver se tinhas novidades e para te desejar uma boa semana. tenho um poema simples do carnaavl se quiseres passa por cá bjo e boa semana
    carla granja

    ResponderExcluir
  48. Obrigado, São! Espero que também para ti, tenham sido dias de paz e alegria!

    ResponderExcluir
  49. Grato, Rui. Gostei, também, do teu blog! :)

    ResponderExcluir
  50. Rachel, de coração te agradeço os selos... e a amizade! :)

    ResponderExcluir
  51. Com certeza, Collybry: sem liberdade o amor se transforma em servidão...

    ResponderExcluir
  52. É isso, Celly: ele precisa ser assim... ou não resiste às nossas imperfeições. :)

    ResponderExcluir
  53. Obrigado, amigo Valente. Espero que também o teu Carnaval tenha sido de paz e alegria. Grande abraço.

    ResponderExcluir
  54. Grato, Sol. Eu acredito, também, que histórias como esta ajudam a direcionar as nossas vidas...

    ResponderExcluir
  55. Eu também acredito nisso, Keila... e tenho me policiado muito, acredite! :)

    ResponderExcluir
  56. Renata, e às vezes a gente sofre um bocado, pra aprender isso... :)

    ResponderExcluir
  57. Obrigado, Carla. Estou indo visitar o teu jardim, sim, daqui a pouco...

    ResponderExcluir
  58. Boa colocação, amigo Felisberto! E volte sempre, o oásis é nosso. :0 Grande abraço.

    ResponderExcluir
  59. Árabe
    É linda esta histório e nunca é demais contá-la. Amar é respeitar a liberdade do outro, é dar sem obrigação, é compreender e acorrer sempre que nos chamam.
    Um abraço

    ResponderExcluir
  60. Só hoje vi o seu comentário, amiga Lídia. E que bela definição do amor!... :)

    ResponderExcluir
  61. Esta é uma linda história, da autoria de um ilustre contador de histórias:Hans Christian Andersen, que em cada conto, cada história, transmite uma mensagem.
    Como esta que o amor é espontaneo, livre, quando sincero.
    Lindo, gostei muito deste post!
    Teres

    ResponderExcluir
  62. Obrigado, Teres! Pela tua gentileza, e por me informares o ilustre autor da história. O saber nunca se perde! :)

    ResponderExcluir