Há uma
tristeza imprecisa, que às vezes me visita.
De repente,
sem que nem por quê. A qualquer tempo, a qualquer momento, sem nenhuma razão de
ser. Uma sensação de nostalgia, de insegurança ou perda, sem saber de
que.
É algo
assim como a lembrança de tempos que não cheguei a viver; como a saudade de coisas
que não me recordo de ter vivido. Ou a impressão de que o futuro nada trará de
novo.
Entretanto,
não é nada que possa definir. É como uma espécie de limbo cinzento, onde me
movo sem chegar a lugar nenhum; falo e escuto a minha voz, mas não entendo o
que digo.
Ou
melhor: entendo, mas sei que não era o que queria dizer. Como se as palavras
viessem de algum lugar, além de mim; como se eu não soubesse os meus próprios
pensamentos.
É como se
eu estivesse disperso, em milhares de fragmentos que o vento espalha. Como uma
árvore que vê as suas folhas caindo e pergunta a si mesma se voltará a ser
completa.
Porém,
não chega a ser bem uma tristeza; porque não consigo sentir tristezas ou
alegrias que durem mais de um momento. É como um cansaço infinito, que me
envolve e absorve.
Do nada.
As menores coisas me deixam inquieto; ou me trazem uma enganosa serenidade, mas
a inquietação ou a serenidade logo se vão. E me resta a imensa sensação
de vazio.
É como se
a vida ou o mundo não tivessem cores. Como se a paisagem fosse um imenso
deserto, onde as pessoas se movessem entre as areias sem fim, até onde a vista
alcança.
Também
neste deserto, o céu e a terra se encontram no horizonte. Mas não existe o sol,
nem a lua, nem as estrelas; nem nuvens ou colinas. Nada que venha atenuar a monotonia.
É a
sensação de estar acompanhado e, ao mesmo tempo, só. Como se a solidão
estivesse em minha alma, a sugar-me, embora não me impeça de ver os que
caminham comigo.
É como se eu caminhasse na imprecisa fronteira entre a sensatez e o absurdo; como se, ao mesmo
tempo, estivesse meio insano e fosse capaz de raciocinar com uma clareza maior.
A verdade
é que não consigo defini-la; como explicar algo que nem eu entendo? Porém,
tenho a impressão de ser entendido; pois creio que todo mundo se sente assim,
às vezes.
Sim;
acredito que cada um de nós teve e tem momentos assim. E me pergunto se não
serão lembranças que não sabemos que temos, de momentos que não sabemos que já
vivemos.
Em outros tempos, outras jornadas e outros caminhos.
Música:
http://ohassan.dominiotemporario.com/midis/roger_willians_em_algum_lugar_do_passado.mid
Link música
Link vídeo
Texto inspirado pela fantástica imagem.
Para que haya alegría necesitas saborear la tristeza. La vida setrata de eso. Te mando un beso
ResponderExcluirNas nossas vidas temos DIAS e dias... Nuns a alegria se faz presente, noutros, temos que buscá-la...Muitas vezes nem o motivo de estarmos mais pra baixo sabemos... Mas comigo, chega pra fazer pensar... Adorei! abração, linda nova semana! chica
ResponderExcluirEstás certo: não estás sozinho nessas sensações.
ResponderExcluirEu diria que são estes tempos incertos que vivemos que nos tornam apreensivos e, tantas vezes, vazios e meios perdidos entre nuvens, neblinas e vácuos. Ou, à medida que vamos deixando a verdura dos anos para trás e a maturidade da vida se adiantando sempre mais, assim nos visita uma "imprecisa fronteira entre a sensatez e o absurdo; como se, ao mesmo tempo, estivesse meio insano e fosse capaz de raciocinar com uma clareza maior." Tão bem o dizes!
Prossigamos com o nosso barco, ainda que, tantas vezes, "imprecisamente"!
Boa semana, amigo!
Abraços.
Boa noite Árabe!
ResponderExcluirCompreendo muito bem o que sentes, tempos angustiante que temos enfrentado, não tem como ser diferente para ninguém. O meu esforço para ficar bem, tem sido constante, mas com a esperança que dias melhores virão. Temos dias sombrios, mas dia seguinte, aparece o sol muito lindo, para lembrarmos que, nem todos os dias serão nublados, tristes. Árabe, que a nossa semana tenha leveza, paz e que tenha fé! Grande abraço e muito grata! FICA COM DEUS!
Não sei o que comentar, querido amigo, porque não tenho tristezas imprecisas. As minhas são sempre muito objetivas. Creio que lhe fazia muito bem fazer um pouco de psicoterapia com alguém muito competente. Este isolamento prolongado -- rodeado de morte -- tem deixado as suas marcas. Uma boa alimentação, fresca e variada, também é muito importante...
ResponderExcluirRoger Williams e Bárbara Streisand são excecionais. Um prazer ouvi-los.
Venho despedir-me porque vou entrar em férias prolongadas, tenho tudo explicado nos meus blogues...
Desejo-lhe um inverno aconchegante, com muito amor e carinho. Abraço grande.
~~~~
Mind blowing post
ResponderExcluirAdorei ler iste seu escrito que se sae do que vinha escrevendo. Un texto que desvela o seu sentir, o seu estado emocional e que toca a parte mais persoal e íntima.
ResponderExcluirExpresado dum jeito poético e exquisito que denota tuda a sua capacidade como escritor.
Eu entendí isse estado do que fala. Tal vez, levamos boa parte da vida percorrida. Temos uma percepção diferente, estamos menos atarefad@s cas coisas materiais...
Gratamente surpreendida por issta prosa poética e seu significado.
Gostei da imagem que acompañha suas palabras e símil coa árbore.
Um abraço
Gostei da canção da Barbra e vi o video do menino em Ceuta.
ResponderExcluirBoa tarde meu Amigo e bom Árabe,
ResponderExcluirUm texto lindíssimo inspirado na bela imagem!
Quem não passou ou não estará a passar por momentos como esses que descreve de forma tão abrangente?
Todos temos nossos momentos de tristeza, de alegria, de evasão, de vazios, momentos em que parece não saber quem somos e para onde vamos.
Por vezes necessitamos de um abanão para nos reencontrarmos e nos posicionarmos no momento em que estamos.
Mas tanto se tem passado nos últimos tempos, que penso, que veio ainda agravar mais todas essas sensações.
Vamos ter esperança e sorrir quando o sol brilha e nos acalentar quando a noite cai.
Adorei a música (desta vez deu para ouvir), e Memory que está em perfeita sintonia com suas palavras.
Um beijinho e uma boa semana.
Ailime
Boa tarde Árabe. Acho que todos nós já passamos por isso. E você nos faz refletir sobre essa situação através de palavras sábias e sinceras.
ResponderExcluirEntrei sem os sapatos, para não
ResponderExcluirfazer barulho, mas deixei à porta
bater. Desculpa.
Tudo bem com você, meu amigo? Estimo
que sim apesar da melancolia estampada
no texto. Ficou bom, muito bom, não
fosse a tristeza aparente.
Um abraço grande do amigo que eu sou.
A imagem é maravilhosa e o texto não lhe fica atrás.
ResponderExcluirAmigo, te abraço com carinho
Olá, amigo Árabe!
ResponderExcluirUm texto demore preciso, muito lúcido que o ser humano normal sente de vez em quando.
A melancolia invade o coração de muitos nesta Pandemia. É absolutamente natural, dizem todos os especialistas.
Você se compreende com tanta objetividade que mostra seu desvelo no autoconhecimento.
Tenha certeza de que foi muito compreendido.
Cada um tem seu temperamento que deve ser respeitado.
Se todos fôssemos xerox, seria horrível.
Parabéns pelo excelente texto!
Tenha dias abençoados!
Abraços fraternos de paz e bem
Your blog is amazing ��
ResponderExcluirAssim é, J.P. É preciso conhecer a tristeza, para saborear a alegria. São as duas faces da Vida. Obrigado, meu abraço; bom resto de semana.
ResponderExcluirVerdade, Chica! Procuramos, sempre, estar em alto astral... mas, lá um dia, a tristeza nos visita. Ainda bem que passa logo! :) Meu abraço, amiga; obrigado, bom resto de semana.
ResponderExcluirAcho que tudo isso faz parte de nós, não é, Fa? Mas, realmente, precisamos seguir com o barco... ainda que, às vezes, "imprecisamente". :) Obrigado, amiga; meu abraço, bom resto de semana.
ResponderExcluirIsso, Maria Luzia: há dias de sol e de chuva... na natureza, e na nossa alma! Meu abraço, amiga, obrigado; bom resto de semana!
ResponderExcluirAs minhas, Majo, confesso: raramente são objetivas; são sazonais, sem motivos definidos, desde que eu era menino. As objetivas, resolvo rapidamente. :) Quanto à terapia, acho que é justamente o que faço quando escrevo; a escrita é meu divã. :) Obrigado, amiga, meu abraço; bom resto de semana!
ResponderExcluirThank you, Rajani!
ResponderExcluirBom saber que o entendes, Beatriz! Acredito piamente, amiga, que todos (ou quase todos) passamos por isto. Disse-me um amigo, com tendências religiosas, que talvez se deva à expulsão do Éden, mas não sei... ainda acredito mais em lembranças de outras jornadas. Lindas as músicas, não? Meu abraço, obrigado; bom resto de semana!
ResponderExcluirÉ exatamente o que penso, Ailime: quem não passou, não está ou não estará um dia a passar por momentos assim? O principal é que os superemos, sempre! Alegre em saber que ouviste as músicas; acredita que as escolho com muito carinho, para vós! Meu abraço, amiga; obrigado, bom resto de semana!
ResponderExcluirGrato, Luiz. Acredito sim, amigo, que todos passamos por momentos assim. Meu abraço, bom resto de semana!
ResponderExcluirBom rever você, mestre Sílvio; sinto saudades dos amigos, sempre! Acredito que essa melancolia ocasional existe em todos nós, que escrevemos, não acha? Meu abraço, obrigado; bom resto de semana!
ResponderExcluir
ResponderExcluirSempre gentil e carinhosa, São; obrigado, amiga! Meu abraço, bom resto de semana.
Tento compreender-me, sim, Rosélia... embora confesse que nem sempre o consigo! E concordo: é na diversidade, que está o maior encanto da vida. Obrigado, amiga; meu abraço, bom resto de semana!
ResponderExcluirCaro amigo Árabe!
ResponderExcluirEntre sombras e caminhares solitários, melancólicos, nostálgicos, vivendo no limbo!
Tudo resumindo, dias melhores vindouros!
Um abracinho!
Obrigado, Megy! E, tenha certeza, acredito que assim será. Precisamos, de vez em quando, viver algumas horas de sombra, para nos lembrarmos de valorizar a luz! Meu abraço, bom fim de semana.
ResponderExcluirEncantada com a sua resposta...
ResponderExcluirA poesia também tem sido a minha terapia ocupacional e estimulante.
Agradeço a sua escrita e bom gosto musical.
Abraço, Amigo. ✨🤍✌
~~~~
Verdade, não é, Majo? Acho que nós, que escrevemos, usamos este dom como forma de catarse, dividindo os nossos sentimentos! Obrigado, amiga; meu abraço, boa semana!
ResponderExcluirÉ Sempre muito bom te ler.
ResponderExcluirEm minha adolescência, isso faz uns 200 anos, eu tinha a sensação de estar vivendo na época errada, mais ou menos o que você descreveu....uma saudade de não sei o que , não sei onde e não sei de quem ,como sobrevivi não sei, linda, loira e desligada ainda tem quem diga que sou sensata e equilibrada, olha como eu disfarço bem!!!
Beijos
Joelma
Bom saber que você gosta, Joelma... mas não exagerou um pouco na distância da adolescência, não?:) Se realmente foi há 200 anos, preciso concordar: era mesmo a época errada! :) Falando sério, acho que às vezes todos nos sentimos assim, né? Mesmo com toda a minha idade, ainda não me livrei disso! Meu abraço, amiga, obrigado; bom resto de semana!
ResponderExcluir