TALVEZ

Poderíamos, talvez, transigir um pouco mais. 

Talvez a vida fosse mais fácil, se nos preocupássemos mais em ser felizes do que em “estarmos certos”. Talvez devêssemos atentar mais à amizade e ao amor, do que a “termos razão”.

Talvez possamos imaginar, hipoteticamente, que ninguém pode estar certo todo o tempo; e, partindo desse princípio, consigamos aceitar o fato de que, às vezes, também podemos errar.

E isso não nos diminui em nada. Talvez até nos engrandeça, termos a humildade de aceitar os nossos erros. Porque este é o princípio para que possamos mudar e começar a fazer certo.

Pessoalmente, desde que amadureci eu acredito que não vale a pena alguém discutir e colocar em risco amizades e amores, apenas para mostrar que ele, sim, “está certo”.

Porque estar certo faz bem ao nosso orgulho... e só a ele. Isto não torna alguém feliz, apenas “dono da verdade”; e ninguém gosta de ser chamado assim. Só queremos sê-lo.

Mas, pensando bem, talvez... e apenas talvez, isso não seja tão importante. Até porque pode afastar de nós pessoas que nos amam. Pois ninguém se conforma em estar sempre errado.

Ninguém se conforma em jamais ser ouvido. E, ainda que muitos se acostumem a fingir concordar, é difícil viver ao lado de quem sempre está certo; até porque não seria ao lado, mas abaixo.

Por tudo isto, acredito que não vale a pena arriscar relacionamentos, só para ter razão. A questão é que, ao nosso ver, os outros se comportam assim: sempre querem estar certos.

Talvez... e apenas talvez, pudéssemos pensar que não é bem assim. Talvez a teimosia e o orgulho que censuramos nos outros possam não estar apenas neles, mas também em nós.

Claro, é uma possibilidade remota: afinal, tendemos a achar que estamos certos. Mas, talvez, devamos tentar imaginar que, por mais improvável que seja, também erramos, às vezes.

Então, esta pode ser uma das raríssimas vezes em que nos enganamos. E talvez valha a pena parar um pouco e pensar no assunto; engolir o nosso orgulho e considerar todos os ângulos.

Talvez possamos fazer isto. E, se realmente o conseguirmos, talvez venhamos a descobrir o valor da tolerância; não só para a convivência, mas também para ampliar os nossos horizontes.

Talvez valha a pena considerar esta possibilidade: descer um pouco ao nível dos outros, para conviver com eles; errar às vezes. Ou talvez – quem sabe? – continuar tendo sempre razão.

Ainda que seja preciso viver só.

Música:

http://ohassan.dominiotemporario.com/midis/1_ernesto_cortazar_autumn_rose.mid

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