O RETORNO DO PROFETA
Conta-se que, depois de longa ausência, o profeta retornou ao seu povo. E juram, todos aqueles que o ouviram, que estas foram as suas palavras:
“Retorno, como vos prometi. E não em outras vestes, não com outras palavras, nem mesmo no sopro do vento.
E não foi a saudade que me trouxe a vós, embora sempre presente em minha alma. A saudade, sendo gerada do amor, tem na sua tristeza a alegria e no castigo a própria recompensa.
Sempre estivestes comigo, e jamais a vossa lembrança me foi pesada. Pois a bagagem que um homem leva em sua alma é, ao mesmo tempo, a mais leve das cargas e a mais forte das correntes.
Mas não é pela saudade que retorno e sim porque, mais uma vez, preciso de vós.
Deixei-vos, para ouvir novas vozes e conversar com o meu silêncio. Porque é no silêncio que o homem melhor encontra as suas perguntas e as suas próprias respostas; e é nas perguntas dos seus irmãos, que reconhece as suas próprias dúvidas.
Aquele que me deu a voz ainda não a quis retirar, e as perguntas ainda se agitam em minha alma. E, se isto ocorre, é preciso continuar a missão. Pois um homem não pode parar de ensinar, enquanto algo ainda lhe restar a aprender. E o pouco que consegui amealhar se perderia, se não o confiasse à vossa guarda.
Por isto, retorno. E sei que, na vossa bondade, me permitireis continuar a aprender, enquanto finjo ensinar-vos. Pois mesmo o mais sábio dos homens necessitaria da crença de seus irmãos, para acreditar em suas próprias palavras.
Calou-se. E, enquanto os homens partiam a espalhar a notícia de sua volta, o medo visitou seu coração. E disse, para consigo mesmo:
“- Terei eu feito bem, em retornar?
Acaso arde ainda, em minha alma, a chama que poderá acender a lâmpada da sabedoria, em seus pensamentos?
E, novamente, as minhas palavras conseguirão tocar os seus corações?
Assusta-me o pensar que talvez me tenham transformado em uma imagem, como os homens gostam de fazer àqueles a quem amam. Pois, se assim for, por certo os decepcionarei; nenhuma realidade se pode comparar à perfeição de um sonho.
E, ao decepcioná-los, talvez enfraqueça os nossos laços. Como o amor, quando nutrido da saudade, às vezes desfalece após o reencontro.
Entretanto, ninguém foge ao seu destino. E, quando pensamos caminhar, é a mão do Infinito que guia os nossos passos. Assim, se aqui me encontro, é que era necessária a minha volta.
Pois, como não é precioso o metal que não resiste ao teste, também não se pode chamar de amor o sentimento que não resiste à realidade. E o amor não pode temer a si mesmo.
Decerto, a missão não está cumprida. E aquele que se detém a meio do caminho que escolheu, jamais conhecerá a alegria da chegada. Devo, pois, erguer mais uma vez a minha voz e ensinar aos meus irmãos aquilo que eu mesmo preciso aprender.
E não me cabe temer, ou duvidar do que lhes direi. Pois Aquele que aqui me trouxe decerto falará por mim, como o vento que canta nas folhas das palmeiras; e nenhuma palmeira, por mais insignificante que seja, deixa de cantar e ouvir a canção do vento, desde que a ele ofereça as suas folhas.
E, por mim, a mão do Infinito possa tocar as mais lindas melodias.”
Este é, com pequenas adaptações, o capítulo de abertura do livro “Hassan”.
“Retorno, como vos prometi. E não em outras vestes, não com outras palavras, nem mesmo no sopro do vento.
E não foi a saudade que me trouxe a vós, embora sempre presente em minha alma. A saudade, sendo gerada do amor, tem na sua tristeza a alegria e no castigo a própria recompensa.
Sempre estivestes comigo, e jamais a vossa lembrança me foi pesada. Pois a bagagem que um homem leva em sua alma é, ao mesmo tempo, a mais leve das cargas e a mais forte das correntes.
Mas não é pela saudade que retorno e sim porque, mais uma vez, preciso de vós.
Deixei-vos, para ouvir novas vozes e conversar com o meu silêncio. Porque é no silêncio que o homem melhor encontra as suas perguntas e as suas próprias respostas; e é nas perguntas dos seus irmãos, que reconhece as suas próprias dúvidas.
Aquele que me deu a voz ainda não a quis retirar, e as perguntas ainda se agitam em minha alma. E, se isto ocorre, é preciso continuar a missão. Pois um homem não pode parar de ensinar, enquanto algo ainda lhe restar a aprender. E o pouco que consegui amealhar se perderia, se não o confiasse à vossa guarda.
Por isto, retorno. E sei que, na vossa bondade, me permitireis continuar a aprender, enquanto finjo ensinar-vos. Pois mesmo o mais sábio dos homens necessitaria da crença de seus irmãos, para acreditar em suas próprias palavras.
Mais uma vez, caminharei entre vós. E vos falarei do que eu próprio quero ouvir; porque, em essência, são os mesmos os desejos de todos os homens. E não poderia ser de outra forma, uma vez que todos viemos da mesma Fonte e caminhamos para o mesmo Destino.”
Calou-se. E, enquanto os homens partiam a espalhar a notícia de sua volta, o medo visitou seu coração. E disse, para consigo mesmo:
“- Terei eu feito bem, em retornar?
Acaso arde ainda, em minha alma, a chama que poderá acender a lâmpada da sabedoria, em seus pensamentos?
E, novamente, as minhas palavras conseguirão tocar os seus corações?
Assusta-me o pensar que talvez me tenham transformado em uma imagem, como os homens gostam de fazer àqueles a quem amam. Pois, se assim for, por certo os decepcionarei; nenhuma realidade se pode comparar à perfeição de um sonho.
E, ao decepcioná-los, talvez enfraqueça os nossos laços. Como o amor, quando nutrido da saudade, às vezes desfalece após o reencontro.
Entretanto, ninguém foge ao seu destino. E, quando pensamos caminhar, é a mão do Infinito que guia os nossos passos. Assim, se aqui me encontro, é que era necessária a minha volta.
Pois, como não é precioso o metal que não resiste ao teste, também não se pode chamar de amor o sentimento que não resiste à realidade. E o amor não pode temer a si mesmo.
Decerto, a missão não está cumprida. E aquele que se detém a meio do caminho que escolheu, jamais conhecerá a alegria da chegada. Devo, pois, erguer mais uma vez a minha voz e ensinar aos meus irmãos aquilo que eu mesmo preciso aprender.
E não me cabe temer, ou duvidar do que lhes direi. Pois Aquele que aqui me trouxe decerto falará por mim, como o vento que canta nas folhas das palmeiras; e nenhuma palmeira, por mais insignificante que seja, deixa de cantar e ouvir a canção do vento, desde que a ele ofereça as suas folhas.
Que seja eu, portanto, como a lira que oferece as suas cordas.
E, por mim, a mão do Infinito possa tocar as mais lindas melodias.”
Este é, com pequenas adaptações, o capítulo de abertura do livro “Hassan”.
Sei que o texto é grande, mas não consegui reduzí-lo mais sem mutilar o seu sentido.
E, confesso, gosto muito dele...
55 Comentários:
Árabe, o Retorno do Profeta é simplesmente maravilhoso! Lindo como tudo que Hassan escreve. Bom fim de semana!
Beijos
Belíssimo e muito sensível o texto aqui adaptado. As palavras, vesti-as todas, como a uma luva feita sob medida - perfeita para o momento!
Feliz final de semana e recebe os beijos meus.
Giulia
Vir aqui é levar na alma a certeza de bons ensinamentos, sempre.
A sabedoria transborda nos textos que partilhas conosco, feliz somos nós que desfrutamos das tuas palavras.
Agradeço sempre meu Amigo, tua visita ao meu mundo.
Deixo um punhado pérolas incandescentes de boas palavras neste pedaço que destaco.
“ Pois Aquele que aqui me trouxe decerto falará por mim, como o vento que canta nas folhas das palmeiras; e nenhuma palmeira, por mais insignificante que seja, deixa de cantar e ouvir a canção do vento, desde que a ele ofereça as suas folhas.”
Com carinho
Eärwen
Árabe! Lindo demais! Belas palavras, como sempre! Mais um texto encantador... Por falar nisso, você conhece o encanto do Sol e da Lua? Passa por lá, pra conhecer a história deles.
Bom fim de semana!
Beijos
Lindo demais mas também um certo paradoxo...mas a vida é issso mesmo feita de paradoxos não é?....
Passei te desejando um fim de semana leve, suave, lindo, cheio de amor...desfruta dele!...
Beijinho prateado com carinho
SOL
Oi Árabe!
O texto é lindíssimo, cheio de verdades incontestáveis. Obrigada!
beijo grande, bom fim de semana!
Árabe querido,
Estou tomando a liberdade de enviar um comentário padrão para todos os blogs que eu amo de paixão. O motivo é que resolvi encerrar o meu blog por motivos pessoais. Não tenho mais condições de participar da blogosfera do jeito que eu gosto, mas não vou ficar para todo sempre distante. Por favor, leia o meu último post que explica a minha razão.
Beijocas
Yvonne
Árabe, não importa o tamanho do texto e sim o seu conteúdo. mesmo que escreva aqui o livro, leremos com prazer porque sempre tem algo a nos ensinar.
Um beijo!
Olá Tudo bem?Está muito bom,gostei.Como sei que gostas do meu blog, decidí convidar-te lêr mais uma nova História no meu blog do Mitos urbanos.Passa por lá e comenta porque esta história, é empolgante.
http://novos-mitos-urbanos.blogspot.com
Tava precisando beber dessas palavras...
Tem uma semana muito feliz!
beijos
Profetas das palavras há muitos, de acções poucos, Gostei
Saudações amigas e boa semana de trabalho
Olá, amigo!
Mais uma boa do Hassan.
Um abraço.
Mais uma vez, pela manhã, vir ler os teus pensamentos filosóficos. Mais uma vez li e reli e virei ler novamente. Obrigada por nos dares algo de consistente nesta blogoesfera tão diversificada.
Um grande abraço e uma óptima semana.
Seja Feliz!
Salve
A sabedoria de teus posts sempre me alegra, amigo.
Notável.
Abraços
Muito bonito,Arabe. Alias,sempre que venho aqui recebo com muita tranquilidade estas mensagens. Abracao!!
Olá...Pois que bela adaptação esta, não conheço o livro que desse ser belissimo, adorei ler...
Doce meu beijo
bonito!!!
desculpe-me a ignorancia, querido, mas me conte: quem é Hassan?
beijocas e valeu a força,
MM.
Eu também gosto...
A minha gratidão.
Árabe, amigo querido: fazendo uma pesquisa na Internet (ajudando minha filhota num trabalho escolar) deparei-me com um belo poema do Gibran e tive vontade de trazê-lo para ti. Acredito que já o conheças, e mesmo assim pensei em fazer-te este agrado. E quando aqui chego deparo com mais uma das belas e significativas mensagens com que nos presenteias sempre. Esta de hoje, amigo, está simplesmente perfeita! Que profunda sabedoria deixou-nos Hassan nas suas parábolas, nas suas lições tão gratificantes à nossa alma, ao nosso entendimento, ao aprimoramento do nosso verdadeiro Eu. E tu, amigo, portador que és dessas preciosas lições de vida, fazes com que a palavra do Hassan continue a ser ouvida e a fazer brotar a sua própria continuidade, assim “como as águas de um rio que, ao seguirem adiante, asseguram a perenidade de seu curso.”
É este o poema do Gibran que tanto encantou à minha alma nesta tarde que já se finda, e que trago para enfeitar o teu olhar:
Amai-vos um ao outro,
mas não façais do amor um grilhão.
Que haja, antes, um mar ondulante
entre as praias de vossa alma.
Enchei a taça um do outro,
mas não bebais da mesma taça.
Dai do vosso pão um ao outro,
mas não comais do mesmo pedaço.
Cantai e dançai juntos,
e sede alegres,
mas deixai
cada um de vós estar sozinho.
Assim como as cordas da lira
são separadas e,
no entanto,
vibram na mesma harmonia.
Dai vosso coração,
mas não o confieis à guarda um do outro.
Pois somente a mão da Vida
pode conter vosso coração.
E vivei juntos,
mas não vos aconchegueis demasiadamente.
Pois as colunas do templo
erguem-se separadamente.
E o carvalho e o cipreste
não crescem à sombra um do outro.
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Ficam sorrisos e pétalas para enfeitar as horas que estão por via, e um beijo no teu coração.
"E aquele que se detém a meio do caminho que escolheu, jamais conhecerá a alegria da chegada."
invariávelmente, encontro aqui, escrito por Ti, o que preciso "ouvir"!!
Não só esta frase encontrei, outras mais...
E a sensação de que é para mim!
Obrigado
Amigo Árabe
Grande abraço
olá Árabe!
É sempre lindo entrar aqui e ler os teus textos maravilhosos e eu como entendo pouco destes assuntos
Venho sempre aprender contigo o bom que aqui deixas para todos os teus leitores
obrigado
te espero no meu blog
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bjos no coração
carla granja
Árabe, quando quiser escrever, não preocupe-se com o tamanho. Guarde as convenções para aqueles que vivem disso. Aqui, há um mundo a ser descoberto.
Mundo esse que me encantou.
Abraços.
Obrigado, Lu, pela atenção e gentileza. Bom resto de semana!
Grato, Giu. Este é o nosso desejo: que as palavras possam ser úteis a todos que nos honram visitando o oásis. Bom resto de semana.
Se sabedoria existir, Eärwen, podes estar certa que é da vida. :) E gosto de visitar o teu belo mundo. Bom resto de semana.
Já conheci, Olhos de Mel... e gostei muito! :) Boa semana.
Com certeza, Sol, a vida é cheia de paradoxos. Muita vezes, o pranto de hoje traz o sorriso de amanhã... :) Boa semana.
Incontestável, mesmo, Tina, é a sua gentileza! :) Bom resto de semana, amiga.
Yvonne, amiga, agradeço a sua consideração e lamento desde já a sua ausência. Volte quando puder, você é sempre bem-vinda!
Obrigado, Claudinha. E, de certa forma, estou mesmo transcrevendo o livro... só que aos poucos, para não abusar da paciência dos amigos. :) Boa semana.
Estou passando por lá, sim, henriqueseis... sempre me atrai a boa leitura. :)
Obrigado, Verônica. Interessante como as palavras, às vezes, nos trazem novas forças, não é? :) Boa semana.
Grato, amigo Valente. Também de desejo uma semana de paz e alegrias.
Grato, Vieira, por tua presença e pel ahonrosa opinião. Grande abraço, boa semana.
Sou eu que devo agradecer, Benó. Afinal, vocês são a razão de ser do nosso oásis. Feliz semana!
Sou um pouco como você, Defensor... esta é a sabedoria que a vida nos trouxe. :) Abraço, amigo.
Este é o nosso objetivo, DO... e ficamos felizes por atingí-lo, acredite! :) Grande abraço, bom resto de semana.
Agradeço, Collybry, por tua gentileza e sensibilidade. Bom resto de semana.
Confesso que não sei, Mônica... eu o julgava um personagem, mas talvez seja o inverso. :) Bom resto de semana.
A minha gratidão a vocês, cara São, que fazem o nosso oásis. :) Bom resto de semana, amiga.
De coração agradeço, Bia. O belíssimo poema em prosa é do livro "O Profeta", e mais uma vez me faz ver a diferença que me separa do Gibran, meu escritor e filósofo favorito. Aliás, foi como uma homenagem a ele, que surgiram as palavras de Hassan... :) Bom resto de semana.
Zé Manel, amigo, acredita: muitas vezes, depois de escrever as palavras de Hassan, julgo que sou o primeiro a beneficiar-me delas!... :) Abraço, amigo, e bom resto de semana
Obrigado, Carla, e devo confesar que também aprendo muito, ao visitar os blogs dos amigos... :) Bom resto de semana.
Agradeço, Auréola... e confesso: realmente, não me tolhem muto as convenções. :) Bom resto de semana.
Creio ser uma necessidade humana o retorno do nosso sábio interior para que este possa nos falar com a profundidade de quem quer acertar, de quem quer ser feliz, de quem quer fazer felicidade.
Lindo texto, Árabe.
BeijUivooooooooooooosssssss da Loba
Linda a frase:"A saudade, sendo gerada do amor, tem na sua tristeza a alegria e no castigo a própria recompensa."
Gostei muito...
Que bom poder estar sempre aqui...
Bjinhuus
se o texto é grande, não dei por isso. li com prazer.
e as dúvidas que se nos apresentam e que conseguimos superar, fortalecem-nos.
Não há medicamento mais adequado,precioso e eficaz para curar desgraças do que um amigo.
Nele nós encontramos, conforto quando estamos em dificuldade-
Com ele podemos partilhar a felicidade dos momentos de alegria.
Beijinho prateado com carinho e votos de um feliz fim de semana
SOL
Grande amigo Árabe, poderoso texto! Abraço forte
Bem colocado, Keila! O verdadeiro Eu é o sábio interior que vive em cada um de nós. :)
Celly, bom mesmo é estar com vocês, aqui em nosso oásis. :)
Com certeza, cara princesa. É das dúvidas que nascem as certezas... :)
Grato, Sol. E estou certo de que você já sabe que pode contar sempre com o amigo aqui. :)
Obrigado, Eduardo! Um grande abraço, e um belo fim de semana.
Saudações amigas
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