BALADA DO DESAPEGO

Pratiquemos o desapego.

Por maior que seja o nosso amor por alguém, ou o nosso desejo de algo. Porque desapegar não significa deixar de amar ou querer, mas saber que não podemos controlar tudo e todos.

Desapegar é convencer-nos de que ninguém ou nada nos pertence; até porque tudo que existe neste mundo é transitório, a começar por nós mesmos. Um dia, seremos só lembranças.

Apontai-me um homem que não precisou partir, quando chegou o seu dia. Ou, partindo, não deixou aqui todos e tudo que encontrou nesta jornada. Julgais que será diferente convosco?

Se assim pensais, podeis desiludir-vos. Porque todos nos iremos, um ou outro dia; e nada ou ninguém poderemos levar conosco. Tudo aqui ficará e voltaremos do mesmo jeito que viemos.

Praticar o desapego, portanto, é amar ou desejar com sensatez. Porque não é sensato o navegante que se irrita com as calmarias, ou o caminhante que pragueja contra o sol a pino.

Praticar o desapego é entregar-nos por inteiro aos nossos amores e a desfrutar do que temos, sabendo que um dia nos serão tirados. Sejamos conscientes, e mais aproveitaremos de tudo.

Porque – talvez não entendais – é a morte que dá sentido à vida; como é a escuridão que nos faz sentir a importância da luz. Acaso não é o tormento da sede, que nos leva a desejar água?

É por isto, que tantas vezes vos tenho repetido: o sentido da vida é apenas viver, da melhor forma que pudermos. Saber que o amanhã chegará, mas aproveitar o hoje, que é tudo que temos.

Não nos cabe temer pelo amanhã, tampouco ansiar por ele; como de nada nos adianta, agora, lamentar pelo ontem. Se o tivéssemos vivido de outra forma, decerto seria diferente o hoje.

Aprendamos, pois, que desapegar não é deixar de amar ou querer. Ao contrário: é entregar-se tanto, que nada importa senão o agora. Porque nele esquecemos o que passou, ou o que virá.

É amar ou querer, sem vínculos ou cobranças. Caminhar para o futuro, com o coração livre de medos ou remorsos; é saber que o importante não é ser feliz sempre, mas ser feliz agora.

Desapegar não é amar menos; é amar mais. É ser livre para querer; para confiar e sentir, sem temor de sofrer. Desapegar é acreditar em si mesmo; acreditar que é possível seguir em frente.

Sim: desapegar é ser livre. É escolher o amor, sem dependência e sem obrigações. É compreender que não podemos ter ou proteger quem amamos, mas podemos caminhar ao seu lado.

É sermos felizes, enquanto podemos.

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