AS VOSSAS PEGADAS

Não é à velhice, que deveis temer.

Nem sequer à morte; ambas são consequências da jornada. Felizes são aqueles que chegam a uma ou outra com a consciência tranquila, e a certeza de bem terem vivido os seus momentos. 

Temei, sim, os arrependimentos que possais ter acumulado ao longo do caminho. Pois, quanto mais próximo se mostra o fim da viagem, mais eles se fazem presentes e amargos em vós.

Não deveis temer os achaques do corpo, se a vossa alma for capaz de viajar nas asas do sonho e passear nos jardins da esperança. Porque vos sentireis vivos e jovens, enquanto assim for.

Temei, sim, que o desânimo e a descrença se instalem em vossa alma. Pois é quando permitis que isto aconteça, que o desamparo da velhice e o medo da morte vos assaltam e magoam, com força.

Sereis vivos e jovens, enquanto jovem for a vossa alma; enquanto fordes capazes de sentir e acreditar. Pois não é das vossas pernas e nem dos vossos pés, que depende o vosso dom de voar.

Sereis vivos e jovens, enquanto a ternura e o encantamento existirem em vós; enquanto a música e a beleza vos emocionarem e a visão do amanhecer vos despertar a gratidão por um novo dia.

Sereis jovens, enquanto vos sentirdes vivos. Pois é apenas quando abandona os seus sonhos, que o homem renuncia a si mesmo; quando deixa de escutar o que lhe diz o verdadeiro Eu.

Não deveis temer a velhice ou a morte, como não deveis temer o futuro: vós o construís, dia após dia. Sábio não é temê-lo; é fazer o que estiver a vosso alcance, para que seja o melhor possível.

Eu vos tenho dito, e repetido, que de nada vos adianta buscar o sentido da Vida; melhor fareis se apenas viverdes. Porque a Vida se renova em todos os dias, e este é o seu próprio sentido.

Vivei, portanto! Em todo dia, em toda hora, apenas vivei! E atentai para que o vosso único cuidado seja aproveitar bem cada momento e vivê-lo de forma a tornar ainda melhor o momento seguinte.

Porque é isto que levareis, de cada jornada: as emoções que nela vivestes e o aprendizado que vos proporcionou. Aqui nada deixareis, senão pegadas... que as águas do tempo decerto apagarão.

Não temais a velhice, nem a morte. Pois as flores são, um dia, botões; e, depois de tombadas tornam-se adubo e renascem em novas flores. A nuvem que se desfaz em chuva volta a ser nuvem.

Cuidai, sim, de serdes os melhores botões, enquanto botões; e as melhores flores, quando flores. Cuidai, sim, de serdes as melhores nuvens e as mais puras chuvas, para fertilizar bem o solo.

Deixai, aqui, as vossas melhores pegadas. A Eternidade espera por vós.

Música:

http://ohassan.dominiotemporario.com/midis/ernestocortazar-eternity(sm).mid