O Árabe

Idéias, sentimentos, emoções. Oásis que nos ajudam a atravessar os trechos desérticos da vida...

sexta-feira, 21 de março de 2025

A ALMA E O CORPO

 


A vossa alma é livre como o vento.

Porque pela mesma força foram ambos criados.

E, juntos, corriam sob o céu, no princípio dos tempos, antes que a agrilhoásseis à terra.

Mas reduzistes a alma a escrava do corpo, quando este é que deveria servir àquela.

Eis que muitas vezes vos tenho ouvido dizer: vou alimentar-me; ou: vou deitar-me com as mulheres.

Nunca, entretanto um de vós fez chegar aos meus ouvidos: vou alimentar minh’alma.

E a vossa alma se alimenta de tão pouco!

Dai-lhe, apenas:

a beleza, para que recupere as suas forças;

a sabedoria, para que conduza o seu destino;

o amor, para que possa mitigar a sua sede;

a fé, para que repouse no Pai.

Pois, se agora viveis no mundo dos corpos, um dia retornareis ao mundo das almas.

E contas vos serão pedidas.

E haverá aqueles que, de tão envolvidos no mundo dos corpos, não acharão o caminho para o mundo das almas.

E a estes nem se poderá pedir contas, enquanto não despertarem para a realidade da alma

E a mentira do corpo.

Aprendei, pois, a conciliar vosso corpo e vossa alma.

E, ao zelardes por uma, do outro não vos descuideis.

Porque o corpo é a morada da alma; e dele deveis cuidar, para que ela se sinta feliz em habitá-lo.

Vídeo 

Do meu primeiro livro, Na Trilha do Profeta, publicado em 1988, pela ACIGI, que adquiriu os direitos autorais. O desenho simbólico foi feito por minha mãe. 

sexta-feira, 14 de março de 2025

AOS MEUS FILHOS

 


Coube-me trazer-vos a este mundo.

Nos primeiros passos pela vida, remover as pedras do vosso caminho; e buscar ensinar-vos como remover as pedras que no futuro vos couberem.

Outra não é a função dos pais, pois cada pessoa tem o seu próprio caminho e as suas próprias pedras.

Assim, eis que não posso caminhar por vós. Porque necessitais tropeçar, para que possais aprender a erguer-vos; e sofrer, para que possais conhecer a felicidade.

Pois assim aconteceu e ainda acontece a vosso pai; e antes dele, a todos os pais deste mundo, que um dia foram também filhos.

E essa é a essência da vida, que se renova a cada momento.

É necessário que eu me conforme com a ideia de que não vos posso ter sempre entre os meus braços; de que não vos posso proteger, senão através do que vos possa ensinar.

É necessário que eu não vos veja apenas como partes do meu ser, mas como seres humanos; e, assim, merecedores do riso e do pranto. Que possais ter as vossas próprias alegrias e as vossas próprias tristezas.

Pois não está em meu poder promovê-las ou evitá-las, apenas compartilhar de ambas; festejar as vossas vitórias e reconfortar-vos nos fracassos, embora neles chore também o meu coração.

Não sei se vos faço entender o quanto vos amo.

Pode a rosa explicar a um botão como é o desabrochar? Ou a borboleta transmitir à crisálida a sensação de voar?

Assim, como poderiam as minhas palavras fazer-vos sentir algo que apenas experimentei ao vos ver nascer?

Sabei, entretanto, que sois parte de mim.

E os vossos risos, como as vossas lágrimas, ecoam em meu coração; e são, muitas vezes, a causa dos meus próprios risos ou das minhas próprias lágrimas.

Acreditai que o meu maior sonho é ver realizados os vossos sonhos; e, assim como tendes as vossas esperanças, sois as minhas esperanças.

Um dia partireis, pois a vida vos reclama; e não é a mim que pertenceis, mas ao mundo e a vós mesmos. Pois ninguém pertence senão a seus próprios pensamentos e anseios.

Todavia, deveis saber que sempre podereis retornar aos meus braços, como jamais vos afastareis do meu coração. Porque não foi unicamente o ser que eu vos dei, mas também o meu amor.

E, assim, não sois apenas os filhos do meu corpo.

Mas do meu verdadeiro Eu.

Vídeo

(Texto do livro A Sabedoria de Hassan, 1993)

Imagem da internet


sexta-feira, 7 de março de 2025

A VERDADE DE CADA UM

 



Atentai para os vossos sentidos. 

E para as vossas emoções.

Buscai, antes de tudo, sentir.

Atentai para uma manhã de sol, e uma noite de lua. Deixai que o vosso corpo sinta o calor do sol e o frescor da noite.

Atentai para o milagre da gravidez. E observai como uma rosa brota; como do botão surge a beleza, que vos encanta o coração.

E atentai para as vossas próprias reações. Observai como a beleza vos toca, como vos desperta emoções que fogem ao domínio dos sentidos.

 Atentai para tudo isto.

E percebereis que, em vós, existe algo que foge ao domínio do corpo. E vos encontra em vosso verdadeiro Eu.

 Assim, sabereis que sois mais do que pensais.

 Pois, em verdade, viveis em função do momento.

E ele não é mais do que um momento; uma gota perdida no infinito oceano que é a Vida.

Aprendei a ver a Verdade.

E esta vos ensina que transcendeis ao corpo.

E sois mais do que os vossos sentidos, do que as vossas passageiras vontades. Porque a Verdade não reside em vosso corpo, mas em vosso verdadeiro Eu.

E, confusamente, o percebeis.

Estais sempre em busca do que sois.

E jamais vos encontrais. Porque vos procurais onde pensais existir. É quando a Verdade se perde entre vossas ilusões.

Assim, julgais a vossa beleza pelas reações que desperta entre os que vos cercam; e a vossa inteligência pelos erros e acertos do dia-a-dia. E vos enganais, porque a beleza não está no corpo, nem a inteligência onde os homens julgam descobri-la.

Sois o que sois. E não adianta vos buscardes.

Pois, enquanto o fizerdes, não vos encontrareis. Enquanto vos virdes pelos olhos dos outros, jamais vos vereis como sois.

Eis que cada um é como é. E deve procurar apenas a sua verdade.

Pois, para ele, essa é a verdade maior.

Vídeo

(Do meu livro Hassan, 2018. Em breve, na Amazon) 

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

ORAÇÃO DA HUMILDADE

 


Milhões de seres humanos existem sobre a Terra.

E por que haveria eu de julgar-me melhor que qualquer um deles?

Acaso não temos a mesma essência, não somos filhos do mesmo Pai? E não possui cada um de nós um verdadeiro Eu?

Que eu seja como o junco, que não afronta o vento, mas antes lhe cede a passagem; pois o carvalho, que julga poder detê-lo, muitas vezes tomba durante a desnecessária luta.

Que a humildade não se afaste de meu coração, pois a presunção leva à prepotência e na sua origem está a dúvida do próprio valor; o que menospreza os outros é aquele que não tem certeza da própria serventia.

Que os meus lábios se calem, antes de proferir palavras que humilhem os meus irmãos. Pois aquele que ao seu redor semeia ofensas, acabará por colher a solidão.

Que jamais venha eu a fazer mau juízo de alguém, porque cada homem projeta nos outros o que julga de si mesmo. E que os meus pés não pisem sobre os meus irmãos, mas apenas sobre os seus sofrimentos.

Eis que não desejo a pompa e a glória terrenas, pois as suas fanfarras ensurdecem os ouvidos humanos para as verdades da vida. Mas, se ao topo me conduzir o destino, que possa eu continuar amigo dos meus amigos e coerente com as minhas verdades.

Que jamais se turve a minha alma, na mentirosa embriaguez do poder. Pois somos o que somos, não o que julgamos possuir.

Será maior, perante o Pai, o filho que de mais posses desfruta? E o que fará de suas terras, do seu dinheiro e de todos os seus bens, durante a Grande Viagem?

E será, acaso, mais feliz aquele que se acostuma a mandar? O que fará, quando ninguém mais houver para obedecer às suas ordens?

Infeliz daquele que dedica as suas forças a semear aparências de poder, que se desfarão nas águas do tempo.

Pois as verdadeiras sementes são eternas, desde o início do homem sobre o mundo. E, na sua aparente simplicidade, sobrevivem a todos os tiranos que um dia se julgaram deuses.

Por isto, que eu possa eu plantar sempre ao meu redor:

- o amor

- a amizade

- a tolerância

- a compreensão.

Que sejam as minhas palavras como a brisa que retempera, não como o furacão que destrói.

Que persista em mim o respeito aos meus irmãos, para que deles eu obtenha o respeito. E não o temor, que é apenas o ódio sob a máscara do medo.

E que em mim sempre exista a humildade.

Pois é ela o caminho para a verdadeira grandeza.

Vídeo

(Publicado em A Sabedoria de Hassan, 1993) 

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

O RETORNO

 

Hassan terminou de subir a colina.

Cansado, assentou-se sobre a grama macia e olhou ao seu redor, sob o sol morno do fim da tarde. Viu as plantas e as flores que o cercavam e pareciam plenas de vida, após a chuva miúda que caíra. 

Olhou a paisagem, tão familiar. E, como nenhum retorno é pacífico e sem temores, pensou, envolvido pelas lembranças e dando voz às dúvidas que o agitavam e inquietavam a sua alma gentil:

“Serei eu, acaso, como a estação das flores? E no outono da vida, onde me encontro, conseguirei fazer brotar novas ideias, naqueles que me ouvirem? Lançarei boas sementes?

Faz algum tempo, que me despedi dos meus irmãos. Não porque me faltasse a vontade de falar-lhes, mas já não conseguia encontrar em mim as respostas para as nossas perguntas.

E, quando assim acontece, é preciso que o pregador se recolha à solidão. Porque é apenas no silêncio, que conseguimos ouvir o nosso verdadeiro Eu, onde ecoa a voz do Universo.

Agora, que retorno, voltarão acaso a ouvir as minhas palavras? E, se o fizerem, serei capaz de prosseguir o meu trabalho? Serei a flauta, atravessada pelo sopro reconfortante do Bem?

Porque é certo que nada sou, senão um homem igual a todos os outros; e muitas vezes tenho dificuldades para seguir os conselhos que saem da minha própria boca, apesar de também ouvi-los.

Entretanto, se aqui retorno por meus próprios passos, não me cabe questionar ou duvidar. Devo, apenas, concentrar-me no desejo de dividir as ideias e os sentimentos que surgem em mim.

Porque o Coração do Universo não desampara aqueles que n'Ele acreditam; nem permitirá que as minhas palavras sejam ditas, senão para glorificar a Sua essência, que vive em cada um.

Acreditar e ser grato; cultivar a paz entre os seres humanos; amar e respeitar os nossos irmãos. Eis o que devemos fazer todos os dias, para que nos seja dado percorrer o bom caminho.

Porque a tolerância e o Amor não pesam às nossas costas, nem em nossos corações. E, se me cabe a missão de divulgar a Palavra, é com amor que o farei, para que também possa ouvi-la.

Pois, lembro-me de haver dito, a generosidade traz em si mesma a própria recompensa; e aquele que acende uma lâmpada é o primeiro a beneficiar-se da claridade que se espalha à sua volta.

Seguirei a minha jornada. E nada tenho a pedir, senão que a humildade jamais abandone o meu coração e o Amor esteja sempre em mim; porque assim ele falará por minha boca.

Embora eu seja apenas um homem, entre meus irmãos.”.

  

sexta-feira, 10 de novembro de 2023

A DESPEDIDA

 


Hassan olhou para aqueles que se reuniam, à espera de suas palavras.

E pensou: “Eis que ainda não vos deixei, e a saudade já aperta a minha alma. Porque foram muitas as vezes em que aqui nos reunimos, e conversamos entre as nossas almas.”.

“E a saudade não é a ausência dos corpos, mas a proximidade das almas. Não está na dor da separação, mas na doçura das lembranças. E não traz apenas a mágoa, mas também o conforto.”.

“Por isto, o meu coração se entristece; mas, também, se rejubila. Pois, se vos preciso deixar, é porque já ensinei tudo que sabia. Devo partir, em busca de novos saberes que vos possa transmitir.”.

“Pois a verdade é que posso perder-me de mim mesmo, na tentativa de ser o vosso guia. E ninguém deve pretender guiar os seus irmãos, se não souber encontrar o seu próprio caminho.”. 

“Devo partir, em busca de novos aprendizados. Porque toda fonte precisa renovar as suas águas para que, cristalinas e frescas, possam mitigar a sede daqueles que a procuram.”.

“Ou se tornará estagnada, como uma lagoa; e escuras serão as suas águas, que deveriam ser mensageiras da luz. Porque a luz está dentro de cada homem, mas só o Conhecimento a acende.”.

“Devo, pois, calçar novamente as minhas sandálias; tomar do meu cajado e lançar aos ombros a minha mochila. E prosseguir a minha caminhada, em busca do aprendizado de que preciso.”.

“Entretanto, valioso foi o tempo que passei em vossa companhia. Porque era a mim mesmo que eu falava, enquanto fingia ensinar-vos. Tudo que vos disse, também ouviu o meu verdadeiro Eu.”.

“Incontáveis vezes, nas vossas dúvidas encontrei as minhas dúvidas; e, ao responder às vossas perguntas, respondi às minhas próprias perguntas. Pois a verdade é que somos todos iguais.”.

“Assim nos faz a centelha do Coração do Universo, que determina a nossa essência. E existe em todos nós, não importando a cor, o gênero, a idade, os desejos e o país onde se nasce.”.

“Não importam as diferenças que tentemos criar entre nós; sempre seremos semelhantes. Porque é assim que acontece entre irmãos; e somos irmãos, caminhando juntos a mesma jornada.”.

“Esta é a verdade que vos deixo, no momento em que me vou: somos todos irmãos, porque filhos do mesmo Pai. Asseguro que levarei a vossa lembrança; e assim estareis sempre em meu coração.”.

“No vento, sentirei o vosso carinho e assim não estarei só. No sol, sentirei o calor da vossa amizade, que me aquecerá durante a chuva e as noites frias. E, unidos pelo afeto, estaremos juntos na distância.”.

“Até que voltemos a nos encontrar.”. 

Música:

http://ohassan.dominiotemporario.com/midis/JaimeVillalba-Nocturne.mid

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sexta-feira, 3 de novembro de 2023

AS JANELAS DA ALMA

 


Abra as janelas da sua alma.

Dê asas aos seus sonhos e eles voarão, livres, colorindo o seu verdadeiro Eu e todo o mundo ao seu redor. Espalharão sementes de felicidade, como ao pólen espalham as borboletas.  

Porque essa é a sua razão de ser; em um mundo onde as desilusões são constantes, é preciso acalentar ao menos um sonho, para que possamos ter momentos de felicidade.

Pois o homem que não pode fugir às notícias de guerra, necessita sonhar com a paz; como aquele que caminha sozinho alimenta o sonho de encontrar um dia o amor e a companhia.

A abastança costuma ser o sonho de quem nada tem e conhece o sofrimento das privações; a maternidade é o sonho daquelas a quem não foi concedido o dom de gerar alguém.

Os sonhos existem para complementar a nossa vida; para nos fazer imaginar, por um instante, que temos o que nos falta. E é por isso que todos temos sonhos: ninguém pode ter tudo.  

Assim é: encontramos nos sonhos as cores que faltam, no cenário muitas vezes cinzento da vida. Reencontramos a alegria, a fé e a esperança que as desilusões nos haviam roubado.

Vivemos, nos sonhos, aquilo que não podemos viver na realidade. Alimentamos de ilusões a nossa alma, para que suporte a realidade; ninguém está satisfeito com aquilo que tem.

Abra, portanto, as janelas de sua alma. Liberte os seus sonhos e permita-se voar nas suas asas. Um dia, você talvez venha a cair; mas terá voado e sido feliz, durante algum tempo.

E – pergunte-se – quantos podem dizer isso de suas vidas? Quantos renunciam às ilusões, por medo das desilusões? E de que vale uma vida sem sofrimento, mas sem felicidade?

Solte os seus sonhos; viva neles. Não tema o dia em que morrerão; eles mantêm você vivo. E, à medida que forem caindo, outros os substituirão; porque sonhar é o segredo de viver.

Na verdade, é quando os seus sonhos morrem que você começa a morrer. Para que esperar o amanhã, se nele não existir a esperança? Para que caminhar, sem chegar a lugar algum?

Alimente os seus sonhos. Sejam eles de amor, de segurança, de prosperidade ou de paz no mundo; creia nas coisas mais impossíveis, desde que façam você feliz por algum tempo.

Porque, afinal, é isto que importa: os momentos de felicidade e esperança. São eles que nos tornam melhores, que tornam a vida melhor. São eles que nos fazem seguir em frente.

Até que chegue a Grande Viagem. 

Musica:

http://ohassan.dominiotemporario.com/midis/ernesto_cortazar_aurora.mid

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