O Árabe

Idéias, sentimentos, emoções. Oásis que nos ajudam a atravessar os trechos desérticos da vida...

sábado, 26 de julho de 2008

OS VOSSOS BENS

Estais divididos entre dois mundos.

E isto acontece porque em vós existe um verdadeiro Eu, que vos faz transcender a matéria e perceber a luz. Que vos liga ao Coração do Universo.

E habitais um corpo; ao qual deveis preservar, como o fazeis a vossas casas e vossos trajes.

Por isto, necessitais dos vossos bens.

É preciso que alimenteis o vosso corpo. Que o abrigueis e dele cuideis o melhor que vos for possível, assim como o fazeis à ferramenta que vos serve.

E, embora a Natureza vos forneça tudo de que necessitais, de há muito desaprendestes de nela encontrar o vosso sustento. Assim, dependeis das vossas moedas de troca.

Sede, portanto, previdentes. E cuidai dos vossos bens.

Para que não vos vejais forçados a depender da alheia caridade. Porque, em vosso mundo, o homem não dá para tornar-se melhor, e sim para sentir-se superior àquele que recebe; assim, o que seria caridade se transforma em humilhação.

Vigiai, entretanto, para que a prudência não se torne em avareza.

Pois o avarento, por temer privações no futuro, as sofre no presente. E isto o torna pobre, em meio a toda a riqueza que acaso possua.

Não é sábio aquele que se priva do que poderia desfrutar, mas o que para o futuro guarda o que lhe sobra.

Assim como não é sábio o homem que consagra toda a sua vida a aumentar os seus bens. Porque descobrirá, ao final do caminho, que na Terra deixará os cofres cheios e levará ao Pai apenas um coração vazio.

Executai, pois, o vosso labor. E dele retirai o necessário à subsistência do vosso corpo.

Guardai, entretanto, tempo para o vosso lazer e os vossos sentimentos. Porque é através deles que estareis alimentando o vosso verdadeiro Eu, que não está sujeito aos ditames do tempo.

Zelai pela convivência com aqueles que vos são caros. É do seu e do vosso amor, que estareis crescendo em direção ao Infinito. E é esse crescimento a verdadeira razão de cada uma das vossas jornadas sobre a Terra.

Acompanhai os vossos filhos, desde pequenos. Ou descobrireis, um dia, que se tornaram estranhos para vós. Por todos os bens que lhes puderdes dar, eles apenas vos serão gratos; só a certeza do vosso amor fará com que vos amem.

Estai com os vossos amores. Tende sempre presente que o amor desprezado poderá um dia dissolver-se na tristeza da solidão acompanhada. Pois o amor, como todos os sentimentos, necessita ser renovado a cada dia.

Deveis cuidar dos vossos bens, sem a eles vos escravizardes.

Pois isso seria escravizar o vosso verdadeiro Eu.

Extraído do livro "Hassan"

sábado, 19 de julho de 2008

A CANÇÃO DA CONVIVÊNCIA

Ao franzir o semblante, diante de um espelho, ninguém espera ver nele refletido um sorriso.

Entretanto, é assim que fazemos aos nossos irmãos: neles descarregamos as nossas mágoas e as nossas inquietações, e esperamos que sempre nos ofereçam um sorriso amável e um gesto de carinho. Como se um espinho se pudesse transformar em rosa, ou da ofensa pudesse brotar o elogio.

Das nossas ações, dependem as reações daqueles que nos cercam. Como da intensidade do vento dependem as belas canções das palmeiras, ou os vendavais que a tudo destroem.

Precisamos de companhia. Porque o homem não é como a montanha, que se eleva por si própria; somos, antes, como as gotas que, unidas, formam este infinito oceano a que chamamos Universo. Todavia, nós mesmos construímos os invisíveis muros que nos separam.

Da compreensão surge a integração e da orientação a confiança. Da humilhação e da ofensa, entretanto, surgem a mágoa e o ressentimento, que mais cedo ou mais tarde nos envolverão em suas ondas turvas.

Assim, devemos vigiar os nossos sentimentos; porque é deles que brotam as nossas palavras e as nossas ações. E a palavra ofensiva que a alguém dirigirmos, por esse alguém nos será devolvida; como o prejuízo que a outrem causarmos, por ele nos será cobrado.

A gentileza é como a flor, a espalhar o seu doce perfume por quantos dela se acercam. E a agressividade é como a onda impetuosa que, ao encontrar o dique, se dobra sobre si mesma e retorna ao mar revolto de onde partiu.

Aquele que ofende aos seus irmãos apenas semeia as pedras que machucarão os seus próprios pés. E cria para si mesmo um deserto árido e impiedoso, onde não encontrará a sombra da amizade, ou o poço cristalino da companhia, cujas águas dessedentam o nosso coração.

Enganam-se aqueles que julgam dominar através do temor que infundem. Porque assim fomentam a raiva e a revolta, que nas dobras das suas vestes sombrias escondem os aguçados punhais da vingança.

Como se enganam aqueles que a todos se julgam superiores, e aos seus irmãos oferecem o desdém; porque ninguém é verdadeiramente grande, enquanto a vaidade permanece em sua alma. E estes jamais encontrarão um braço amigo, que os ampare na queda do pedestal onde se tentam colocar.

Sejamos gentis e ao nosso redor espalhemos a compreensão. É assim que veremos florescer à nossa volta um belo jardim, cujas plantas nos oferecerão os seus aromas e o sabor dos seus frutos.

É assim que conheceremos a paz.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

O AMOR E A LIBERDADE

Como o rio sacrifica a liberdade de suas águas, ao percorrer o seu leito, precisamos estabelecer os nossos limites, para que possamos seguir o nosso curso.

Entretanto, a liberdade é necessária ao nosso Eu maior. E, assim como o rio muitas vezes transborda e leva a destruição às suas margens, também o espírito aprisionado busca as formas de exprimir a sua revolta.

Por isto, devemos ter cuidado ao escolher as nossas cadeias. E ter presente que não nos cabe o direito de escravizar a nenhum de nossos irmãos. Ou a sua revolta findará por esmagar-nos, ao romper os diques que lhe tentamos impor.

Por que dizemos “meu marido”, “meu filho”, “meu pai” e “meu amigo”? Acaso podemos possuir alguém, se a verdade é que livres fomos criados, para que pudéssemos aprender o que necessitamos?

Ninguém existe, que aprenda com a experiência alheia; cada homem é o seu próprio professor, e o seu único aluno. Se o homem sente apenas as suas próprias dores, é justo que apenas ele possa escolher o seu caminho.

Algumas cadeias nos são leves; porque nós mesmos as escolhemos. São assim os laços do Amor que, ao estabelecer-se em nosso coração, constroem a ponte invisível que nos liga ao coração do Universo, onde está a nossa verdadeira essência.

Afortunados são aqueles que recebem o Amor em seus corações. Ele desperta em nós a consciência do Ser, que nos conduz a um mundo melhor, onde a Vida reluz em todas as cores e o sopro do vento nos traz as mais lindas canções.

Não devemos, entretanto, escravizar-nos ao amor; ou tentar escravizar o ser amado. Pois o Amor, por emanar do Universo, traz em si o sopro da liberdade, e é apenas em liberdade que o podemos viver.

Muitas vezes, lamentamos o amor que se foi. E não percebemos que, se por ele choramos, o Amor ainda existe em nós; não foi o Amor que perdemos, mas alguém a quem amamos. Como não foi o desamor que o levou, mas o nosso egoísmo que o afastou de nós.

Aquele que a outrem se escraviza, findará por dele afastar-se, premido pela própria revolta. Como aquele que tenta dominar será, um dia, vítima da revolta que no outro despertou.

Do medo, são forjados os nossos grilhões. Mais livre é o encarcerado que luta para defender as suas convicções, do que aquele que as sacrifica para caminhar entre os outros homens.

E o medo, em si, nada mais é do que a falta de confiança no Pai.

E a negação do nosso verdadeiro Eu...

Desculpo-me com os amigos, pela impossibilidade de visitá-los, ou até mesmo de responder aos seus gentis comentários, na semana que passou. Confio em que esta semana consegurei retomar a agradável rotina de amizade e aprendizado.

sábado, 5 de julho de 2008

A LIBERDADE DO PERDÃO

O perdão, quando concedido entre os homens, vem quase sempre acompanhado pelo silvo do chicote; poucas vezes, encontra a suave música da compreensão.

E, quando assim acontece, os erros são guardados na memória do ofendido, como uma dívida que jamais será saldada, porque reside no passado e será cobrada no futuro. Ao ofensor, cabe apenas pagar os juros da reiterada humilhação.

Em si mesmo, este perdão é uma mentira; e, como todas as mentiras, não resiste à luz da verdade. Porque não é um perdão, mas apenas a aceitação de um fato; e aquele que o concede é como o credor que não esquece o débito, mas antegoza a eterna cobrança dos juros que julga devidos.

Este não é o perdão que se mostra, mas a vingança que se oculta. E não é o Amor que o concede, mas o ódio que finge concedê-lo. Nele não está a compreensão que liberta, mas a revolta que escraviza.

O verdadeiro Perdão traz consigo o esquecimento. É como uma fonte de águas límpidas, a lavar de um coração a amargura do rancor e de outro o sofrimento do remorso; e, ao fazê-lo, constrói entre esses corações uma sólida ponte, que os ventos do destino jamais conseguirão lançar por terra.

O falso perdão, entretanto, é como um lodaçal coberto por uma vegetação traiçoeira, que ao menor sopro de vento exibe a sua verdadeira face. E, ao submergir a ambos, ofensor e ofendido, em suas fétidas águas, impede que os seus corações se possam encontrar na mansão da Companhia.

Melhor seria que não fosse concedido! O amor pode vencer o ódio, mas não consegue conviver com a mágoa. Porque o ódio é como o fogo, que a tudo queima nas suas efêmeras labaredas; mas a mágoa é o veneno insidioso, que traz um pouco da morte a cada dia.

Aquele que abriga as lembranças ruins do passado, conserva em seu coração a mágoa que poderia ter superado. E quem pode construir a felicidade de amanhã, convivendo com o sofrimento de ontem? O Amor não pode reluzir em nossos olhos, se a mágoa enevoa os nossos corações.

É com a alma, e não com a mente, que cada homem deve conceder o seu perdão; não para atender às necessidades do momento, mas sim para que o ressentimento seja expulso do seu coração. Só assim poderá deixá-lo limpo, para que nele o Amor se possa novamente abrigar.

Necessitamos do perdão, para conviver neste mundo. Porque ninguém pode ser perfeito, se caminha sobre a terra, e assim o erro é natural no homem; é através do erro, que descobrimos o acerto. Como é através da tristeza, que descobrimos o valor da felicidade.

Precisamos aprender a perdoar, porque todos necessitamos ser perdoados. E como alguém poderá confiar no perdão de outrem, se não consegue acreditar no seu próprio perdão?

Cada erro é uma experiência a mais; e no arrependimento está o seu próprio castigo, que na verdade é apenas uma forma de acelerar o aprendizado. Mas é dentro de cada homem que deve nascer o arrependimento, pois dos castigos por outrem infligidos apenas pode brotar a revolta.

Precisamos aprender a perdoar.

Para que possamos libertar a nós mesmos!

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