O Árabe

Idéias, sentimentos, emoções. Oásis que nos ajudam a atravessar os trechos desérticos da vida...

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

OS VOSSOS AMORES E AS VOSSAS CARÊNCIAS (II)



Muitas juras de amor ouvireis, em vossas vidas.

E outras tantas fareis. E umas e outras serão sinceras, em sua maioria, porque ditadas pelos sentimentos e pelas emoções do momento em que foram ditas.

Tão sinceras quanto inúteis, entretanto. Porque os vossos amores são como os sonhos de uma noite, que eternos vos parecem, mas se desvanecem ao primeiro rubor da aurora.

Por isto as vossas juras, sérias e apaixonadas como o amor que as inspira, são também tão intensas e efêmeras quanto ele. E, como ele, não sobrevivem às vossas carências. 

Apenas nas pegadas do vento, deveríeis escrevê-las. E deveríeis ter como tinta as cores dos vossos sonhos e como caneta tão somente a pena delicada da asa de um anjo.

Deixais, todavia, que as suas palavras se gravem em vossos corações. Esqueceis que, ainda que escritas por botões de rosas,  são os espinhos e não as pétalas que sobrevivem.

E é pelos sulcos dos espinhos que correrá o pranto da saudade. Aquele que teve a felicidade de acreditar conhecerá a amarga frustração do desencanto, quando sobrevier a desilusão.

É assim que sois, contudo; e de nada vos adianta tentar mudar. Deveis, sim, mergulhar fundo em vossos sonhos, em vossos amores e em vossas ilusões. Porque é assim que precisa ser.  

Pois não é para amar que viestes ao mundo, mas para aprender; e ninguém aprende apenas com alegrias, como não é só graças ao calor do sol que a semente germina.

Não; também a friagem refrescante da chuva lhe é necessária. E é entre o esplendor do dia e a escuridão cúmplice da noite, que a planta atinge o apogeu do desenvolvimento.

Decerto, a vivência plena do Amor é o objetivo do vosso aprendizado. Para atingí-la, porém, necessitais conhecê-lo sob todas as suas formas, em todas as suas facetas e vertentes.

E como pode o peregrino conhecer o caminho, senão ao percorrê-lo com seus próprios pés, magoando-os nas pedras cruéis ou aliviando as suas dores nas águas frescas dos regatos?

Necessitais aprender a viver o Amor. Como o homem necessita aprender as primeiras letras e superar todas as provas do caminho, para que um dia possa ter o conhecimento universitário.

E só através do próprio Amor o conhecereis.   

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

OS VOSSOS AMORES E AS VOSSAS CARÊNCIAS



Jurais o vosso amor.

Não vos cansais de repetir as vossas juras. E o cantais em prosa e verso, buscando as mais belas palavras para exaltar os seus encantos; as suas alegrias e as suas tristezas.

E quantas vezes, ao assim proceder, nada mais fazeis do que iludir-vos! Porque não é o amor que vos move, mas o desejo de companhia; a esperança de fugir à solidão.

Não vos deveis iludir, entretanto. Porque não é ao vosso redor que está a solidão, mas em vossa própria alma; o homem que a ninguém ama estará só, ainda que em meio à multidão.

Triste daquele que faz de seus amores ilusões e de si mesmo moeda de troca; jamais comprará a plenitude da companhia, mas conhecerá o vazio da solidão acompanhada. 

Não é à solidão que deveis temer, eu vos asseguro. Porque no silêncio encontrais a paz do Universo; e é quando ninguém vos fala, que melhor podeis ouvir o vosso verdadeiro Eu.

Porque a solidão vos liberta de todos os laços; e é quando sois livres, que melhor podeis analisar os caminhos que tendes percorrido e decidir o vosso rumo e o vosso destino.

Sim; a solidão é liberdade. E, por mais completo que seja o vosso amor, necessitais às vezes da solidão, para desfrutar da saudade; para sentir a falta que vos faz o ser amado.

A solidão vos é necessária. E amar não é renunciar à solidão, mas nela encontrar novos encantos; é graças ao espaço entre as estrelas, que cada uma cintila em seu próprio brilho.

Amar não é jamais estar só. É ter a sensação de companhia na alma, mesmo na solidão do corpo; é saber que cada separação não é senão o prólogo de um sonhado reencontro.

Amar não é renunciar à individualidade, mas conviver com outro indivíduo; é respeitar a si mesmo, ao respeitar o parceiro. É andar de mãos juntas, ainda que por diferentes caminhos.

O amor não é uma garantia eterna contra a solidão, mas o encantamento de momentos mágicos, que perdurarão em vós; mesmo nas noites vazias, quando vos visitar a saudade.

Quando amais, não necessitais jurar o vosso amor; ele é a maior das vossas verdades, preenche o vosso mundo, brilha em vosso olhar. Quando amais, não vos assusta a solidão. 

E não é à solidão que deveis temer. Mas às vossas carências. 
 

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

O CESTO DA GÁVEA


O cesto da gávea é o vosso lugar.

Porque é dele que melhor podeis admirar o brilho das estrelas e descortinar o panorama que vos cerca, a fim de determinar o rumo que necessitais imprimir ao vosso barco. 

Sim; sensata não é, decerto, a avestruz que enterra a cabeça na areia, como se assim pudesse fugir aos perigos que a assustam; a ignorância é, em si mesma, a pior ameaça.

Mantende, portanto, sempre abertos os vossos olhos. É preciso que assim seja, para que não passeis pela vida em branco, nem vos torneis joguetes de outros interesses.

Cuidai, porém, para que não venhais a cair na armadilha da desconfiança. Porque aquele que não confia em seus irmãos está condenado ao tormento da insegurança.

E jamais lhe será concedido o descanso tranquilo e incomparável de um sono reparador, pois um de seus olhos sempre buscará o imaginário perigo oculto nas sombras.

Vigiai, sim, os vossos caminhos; porque ciladas e imprevistos existem em toda jornada. Não julgueis, todavia, que em cada irmão que encontrardes se oculte a traição.

Nem vos negueis a aceitar a mão que vos estende o amigo, ou o beijo que vos oferece o amor. Longo é o trajeto e mais facilmente o percorrereis se não estiverdes sós.

Mais leve vos será a jornada, se souberdes desfrutar dos seus encantos. Quem por temer as poças mantém presos ao chão os seus olhos, conhece a lama, mas não o céu.

É certo que às vezes sob o manto acolhedor se esconde a dureza da lâmina; entretanto, é igualmente certo que vos abaterá o frio, se sob ele não vos protegerdes da noite.

Deixai-me dizer-vos que o risco é a essência do que agora chamais vida e talvez o maior dos seus atrativos. Porque é no mistério que mora a semente do Conhecimento.  

Não vos cabe amedrontar-vos ante os perigos. Nem recusar-vos a adotar novas rotas, por temer eventuais tempestades; certo é que em qualquer rumo as encontrareis 

Deveis, sim, assumir o vosso posto no cesto da gávea. E dele perscrutar o horizonte, em busca do porto que tanto almejais, tendo como guias os vossos sonhos e ideais.

As estrelas que iluminam o vosso verdadeiro Eu.         

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

A CANÇÃO DA HUMILDADE



Guardai-vos da presunção.
Porque é ela, e não o amor, que está na raiz dos vossos maiores enganos. E é sabido que os maiores enganos são aqueles que vos trazem os mais dolorosos desenganos.
Sábio é o homem que não se julga superior aos seus irmãos. Porque nenhum filho é mais amado pelo coração do Pai, como nenhuma onda é mais importante ao oceano.
Eis que os dedos da vossa mão são diferentes entre si. E, embora cada um deles tenha a sua própria função, nenhum existe que vos seja de mais valia que os outros.
Como as notas musicais não se assemelham e, entretanto, são todas essenciais à harmonia da música, que através dos vossos ouvidos enleva os vossos corações.
Podeis, acaso, apontar a estrela mais bela? Ou concordais em que cada uma é linda em si mesma e juntas formam o encanto incomparável do céu noturno do deserto?  
É certo, sim, que cada um de vós tem as suas próprias qualidades, que nem todos possuem. Todavia, é igualmente certo que cada um tem, também, os seus próprios defeitos.
Se assim é, quem poderia julgar-se superior aos que o cercam? A montanha mais elevada, de onde se vê melhor a paisagem, não é, porventura, a do ar mais rarefeito?
E o pavão, que poderia orgulhar-se da cauda de beleza incomparável, não é também aquele que precisaria envergonhar-se, ao baixar os olhos para a  feiura de seus pés?
Só um Insensato negaria as diferenças que existem entre as rosas. E, contudo, alguma delas é mais bela que a outra, ou mais agradável e delicado o seu perfume?
Há folhas que ocupam os galhos mais altos das árvores, enquanto a outras cabem os galhos mais perto do chão. Nenhuma delas, porém, é mais verde que as suas irmãs.
Eu vos repito, portanto: guardai-vos da presunção. Porque com ela vêm o orgulho e a sua irmã, a arrogância, que decerto vos guiarão pelos caminhos da solidão.
Tende sempre presente que nenhum de vós é a canção do Universo, mas uma das notas que a compõem; e da harmonia entre vós depende a música que se fará ouvir.
Buscai a humildade, em vossos corações. Nela descobrireis a verdadeira grandeza de Ser e encontrareis o sentido da Vida, que não está nas honrarias deste mundo.
Mas no vosso verdadeiro Eu.           

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

BALADA DA SAUDADE


Hoje, quero falar-vos de saudade.
 
Não a saudade que magoa e faz sofrer; que muitas vezes se mistura à frustração e faz com que o vosso coração se confranja e de vossos olhos brotem as lágrimas mais amargas.

Quero falar-vos da saudade doce e compassiva, que se assenta ao vosso lado e vos envolve em seu abraço de carinho. Que vos faz lembrar o passado e acreditar no futuro.

Quero falar-vos da verdadeira saudade, onde não existe a revolta do egoísmo contrariado; nem o travo amargo da renúncia forçada. Da saudade que vos aflige e consola.      

Eu vos digo que a saudade não é a ausência, mas a presença. E não é a solidão, mas a companhia; porque não conhece a saudade aquele que antes não tenha conhecido o amor.

A saudade não é a dor, mas o conforto; não está no pranto de hoje, mas nos sorrisos de ontem. Não está nas recordações, mas nas emoções; não é relembrar, mas reviver.
Saudade é amor, em sua forma mais pura e cristalina; porque não faz desejar a posse do ser amado, mas a sua presença. Não vos permite exigir, nem reclamar; apenas amar.

Saudade não é a tristeza da perda, mas a alegria do convívio. Não é abraçar o vazio, mas preenchê-lo com os sentimentos que persistem em vossa alma e vos fazem viajar no tempo.

É a saudade que vos sustenta, quando a dor da perda faz vergar os vossos ombros. É ela que vos ampara; que vos traz forças, para que continueis a seguir o vosso caminho.

É através da saudade, que o amor sobrevive. Que os menores gestos assumem outra importância; que um simples sorriso vos aquece o coração, que momentos se tornam eternos.

É através da saudade, que reaprendeis a viver; que podeis conviver com a tristeza, enquanto o tempo e as lágrimas fazem brotar em vossos lábios o botão de um novo sorriso.   

É através da saudade, que conservais o melhor do ser amado; que a sua lembrança vos acompanha e reconforta. Que a esperança do reencontro vence o desencanto do adeus.
É através da saudade, que aprendeis a valorizar a presença. Que entendeis a relatividade do tempo e o sentido da Vida, que não está contida no tempo, mas na Eternidade.  

Hoje, quero falar-vos de saudade.
Hoje, vos quero falar de amor.

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