O Árabe

Idéias, sentimentos, emoções. Oásis que nos ajudam a atravessar os trechos desérticos da vida...

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

A VELHICE E A SOLIDÃO


Eu vos tenho falado muito sobre o tempo.

E agora percebo que isto acontece, porque mais e mais o sinto pesando sobre meus ombros; branqueando os meus cabelos, dificultando os meus movimentos, trazendo-me um cansaço maior em cada dia.

Percebo que aqueles que me cercam, preocupam-se cada vez mais comigo. E sinto diminuir a sua confiança em meu discernimento; na minha capacidade de tomar as minhas próprias decisões.

É como se, ao envelhecer, eu me tornasse novamente criança e passasse a depender de alguém. E, entretanto, nada poderia estar mais longe da verdade; ao contrário, a velhice nos torna plenos.

O tempo que, um dia, cerrará de vez os nossos olhos, é o mesmo que os abre para as verdades da Vida. E, à medida que diminuem as faculdades que pertencem ao corpo, aumentam as percepções da alma.

De nada adiantaria, porém, repetir estas coisas aos ouvidos dos mais jovens. A verdade é que ninguém entende além do que conhece; e a juventude não pode entender a velhice, senão quando chega a ela.

Prefiro, pois, calar-me. Esta é uma das coisas que a idade nos ensina: de nada vale alimentar discussões inúteis. Quem acredita em algo, não precisa convencer ninguém; é melhor ter paz, do que estar certo.

Calo-me; e prefiro falar-vos sobre o tempo. Cultivo as minhas emoções, vivo o tempo que ainda me resta. E tento, tanto quanto me é possível, entender-vos; até para que não me torne um estranho entre vós.

Porque a cruel realidade é que vivemos no mundo das durações limitadas; das percepções do corpo e suas aparências. E, para aqueles que viverem o suficiente, dia virá em que se tornarão invisíveis.

Sei que isto acontecerá comigo, como já aconteceu a tantos outros; a menos que a minha jornada se finde numa próxima curva. Mas, invisível ou não, procurarei trazer-vos sempre as minhas palavras.

Enquanto aqui estiver, eu vos falarei. A voz em mim não se pode calar; e nem sei se é realmente minha, ou de alguém que conheci em outra jornada. Trazer-vos o que aprendi; creio que esta é a minha missão.

E, por isto, cada vez mais cultivarei a minha solidão; porque é nela que melhor consigo ouvir as vossas palavras. É quando me calo e reprimo o que poderia dizer-vos, que mais à vontade me falais.

Deixai que eu vos ouça. E, se dia vier em que não me julgueis digno de contar-me as vossas considerações sobre meus erros de velho, ainda assim vos ouvirei. A vossa reprovação soa clara à minha alma.

A cada dia, mais velho me sinto. E é por isto que tanto vos falo do tempo: para que possais perceber que, também para vós, ele passará. E deveis ver os velhos de modo diferente, pois um dia o sereis. 

A cada dia, mais velho me sinto; e procuro bastar a mim mesmo. Cada vez mais, me conformo em cultivar a minha solidão; porque é assim que conseguirei seguir em frente, enquanto me couber caminhar.

E talvez possa ajudar-vos, com a vossa velhice e a vossa solidão.

Música:
http://ohassan.dominiotemporario.com/marco/1_instrumentais_andre_rieu_my_way.mid

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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

AO VOSSO LADO




Atentai àqueles que estão ao vosso lado.

Para que ali sempre os possais encontrar. Porque, assim como a água não brota de sobre a pedra, e a flor não se abre senão ao calor do sol, ninguém fica onde não se sente valorizado.

Tende em vista que o homem sempre espera receber aquilo que oferece. E, até mesmo na natureza, a planta só prospera e viceja quando recebe, do solo, os nutrientes de que precisa.

Sede gentis, pois, se esperais que sejam gentis convosco. Dispensai a vossa atenção às pessoas que se acercam, e delas recebereis atenção; ignorai-as, porém, e sereis ignorados.

Enquanto caminhais sobre a terra, viveis entre interesses e expectativas de retribuição. Este é um mundo de espelhos, onde as pessoas refletem em vossa direção o que recebem de vós.
    
É assim que é, e isto eu vos tenho dito. Aquele que se julga o centro do universo, precisa estar pronto para a solidão em que se encontrará, quando ninguém mais gravitar à sua volta.

Pois, ainda que cada um de vós precise ser, para si mesmo, a pessoa mais importante, é certo que mais facilmente chegareis ao fim da jornada, se vos for dado contar com o apoio de alguém. 

Lembrai-vos, sempre, de que, embora cada um de vós seja um mundo à parte, com as suas próprias paisagens, não sois mundos isolados; orbitais, todo o tempo, uns à volta dos outros.

Cuidai, pois, para não invadir o espaço alheio; ou entrareis em rota de colisão. Mas evitai, também, distanciar-vos demais; ou tanto podereis afastar-vos, que a ninguém mais encontrareis.

Atentai àqueles que estão ao vosso lado. Pois são eles que vos apoiam e ajudam a caminhar; ninguém consegue cumprir sozinho toda a sua jornada, sem encontrar um braço amigo.

Sede, pois, gratos por tudo aquilo que vos oferecem. Pela compreensão e tolerância, pelo incentivo aos vossos projetos, pelos conselhos que vos ajudam e pelo abraço que vos conforta.

E não vos negueis a dedicar-lhes o vosso apreço e mostrar-lhes o quanto vos são queridos. Para que eles, por sua vez, vos tenham em alta conta e possam demonstrar-vos o seu afeto.

Habituai-vos a espalhar gentileza, ao vosso redor; como a flor espalha em volta o seu perfume. Assim, gentileza recebereis em retorno; e, como a flor, sereis vós próprios beneficiados.

Acostumai-vos, pois, a ouvir com a mesma atenção com que quereis ser ouvidos; a responder como desejais que vos respondam e a respeitar como esperais que vos respeitem.

Assim, sempre haverá alguém ao vosso lado.


Música:
http://ohassan.dominiotemporario.com/midis/chopinsnocturne.mid

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sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

A ARMADILHA DO PASSADO


Reverenciai, sim, o vosso passado.

Porque foi ele que vos trouxe até onde estais; que fez de vós o que hoje sois. Deveis ser gratos, por isto; e conservar as vossas memórias, posto que cada uma delas é uma parte de vós.

E não seria sensato conservar apenas as boas lembranças, aquelas que vos fizeram sorrir. Guardai, também, as que vos trouxeram lágrimas; pois estas foram as que mais vos ensinaram.

A verdade é que não vos podeis desvencilhar do passado. Porque a solidez de uma casa não depende apenas das paredes que a formam; tem a sua origem nos alicerces que a firmam.

A verdade é que o que sois depende do que fostes. E do que sois, dependerá o que vos tornareis; aqueles que sereis, no futuro. Dependerá o que encontrareis, ao longo do vosso caminho.

Como o total de uma soma é resultante de suas parcelas, sois o resultado de vossas experiências. Foi o vosso aprendizado, através de alegrias e tristezas, que vos tornou o que sois.

Assim, eu vos tenho dito; o hoje é produto do ontem, e produzirá o amanhã. A cada novo dia que nasce, somos os mesmos; porém mudamos um pouco, com o que ontem aprendemos.

Reverenciai o vosso passado. Não o renegueis, nem negueis as vossas experiências; até mesmo as ruins. Lembrai-vos de que o adubo malcheiroso também ajuda a brotar a flor perfumada.

Não deveis, porém, prender-vos a ele. Porque cada dia é um dia, e novos passos precisam ser dados, todos os dias; ou ficareis parados, por todo o tempo, no mesmo lugar do vosso caminho.

Não vos deixeis, pois, prender na armadilha de viver no passado, a recordar antigas alegrias, antigas glórias ou antigos amores. Recordai-os, se vos fazem felizes e vos ajudam a seguir.

Mas tende presente que a vida continua e o caminho se estende à vossa frente; necessário é que os vossos olhos busquem sempre o futuro, pois ninguém pode caminhar mirando o passado.

Aprendei, sim, com os vossos erros e os vossos acertos. Recordai as vossas alegrias e as vossas tristezas; porque umas vos renovam as forças e outras vos evitam novos sofrimentos.

Cuidai, entretanto, de viver no presente. Para que as lembranças do passado não sejam senão faróis, que iluminam o caminho; e as esperanças sejam sempre a vossa razão de seguir.

Vivei no presente, para que possais desfrutar de novas experiências; sorrir com novas alegrias e aprender com novas tristezas. Para que possais ter, todos os dias, novas vitórias e derrotas.

Pois é assim que aprendemos a viver.


Música:
http://ohassan.dominiotemporario.com/midis/1_jean_claude_borelly_luzes_da_ribalta.mid

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UPGRADE EM 19/02/2020: Amigos e amigas, como já disse, estou em férias, realizando o sonho de conhecer Portugal e a Europa. Por conta disto, talvez não me seja possível, até o dia 22, responder aos comentários ou visitar os blogs amigos. Se isto acontecer, desculpem-me: em breve, retornaremos ao normal. Grande abraço!        

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

O COMPLEMENTO E O ENCAIXE


Por que não aceitamos as pessoas como são?

Por que juramos amor a alguém e insistimos em mudar o seu jeito de ser? Por que queremos que o ser amado veja a vida como vemos, pense como pensamos, seja como somos?

Por que não nos contentamos, simplesmente, em amar? Por que nos irritam as diferenças? Por que julgamos saber o que é melhor para alguém, quando a cada pessoa cabe sua escolha?

Desejamos a liberdade. Mas, para que possamos ser livres, precisamos respeitar a liberdade alheia. Porque os grilhões que forjamos para outros, também prendem nossos pés.

Tolerância: esta é a única chave para a convivência. Porque duas pessoas não conseguirão seguir juntas, por mais que se jurem amor, se entre elas não existir um verdadeiro respeito mútuo.

Para amar, é preciso respeitar; ninguém consegue amar a quem não respeita, embora seja possível respeitar a quem não se ama. O respeito não exige amor; contudo, o amor exige respeito.

Pois amar não é caminhar adiante ou atrás de alguém. É seguir ao lado de quem se ama,  mas andando por seu próprio caminho; porque, em verdade, cada um estará só, ao fim de sua jornada.

E eu vos tenho dito que podemos caminhar juntos, mas cada um tem a sua própria estrada. Precisa ter suas experiências, viver suas tristezas e suas alegrias, para encontrar a si mesmo.
   
Pode-se conviver sem amor, mas não sem respeito. Pois ninguém consegue sufocar, por todo o tempo, as suas próprias vontades; nem viver à sombra de outro, ignorando o seu verdadeiro Eu.

Ainda que a represa consiga, por muito tempo, conter a força do rio, basta um pequenino furo, para que as águas se libertem; então, a enxurrada levará tudo que encontrar em seu caminho.

E assim acontece, quando alguém ignora a si mesmo, para atender às vontades de outra pessoa. Chegará o dia em que se revoltará, ante a própria submissão, e não mais a aceitará.

O que nos cabe não é ditar algum rumo, mas apoiar aqueles que amamos, para que escolham os seus próprios rumos. Quem realmente ama, não impõe; só oferece o braço e o conselho.

Amar não é dominar; nem submeter-se à vontade de alguém. Ninguém pode amar outra pessoa se, antes, não amar a si mesmo; nem estar bem com alguém, se não estiver bem consigo.

Amar é admirar, é respeitar. É ser feliz, por estar na vida de alguém especial, que nos faz ver o mundo de uma forma diferente. Não é domínio, é convívio; não é complemento, é encaixe.

Amar não é exigir; é viver. 


Música:
http://ohassan.dominiotemporario.com/midis/1_mantovani_e_sua_orquestra_till.mid

Link da música

Link do vídeo.


A imagem é de uma grande artista, que conheci através da internet: Dianne Dengel.


UPGRADE: Estou hj em Porto (Portugal). Estarei em Lisboa, de 19 a 21/02.Gostaria muito de conhecer alguns de vós, meu amigos portugueses, pessoalmente. Meu telemóvel (whats app) é 055 71 988784553.Se pudermos combinar para nos vermos, minha alegria será enorme! 

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