O Árabe

Idéias, sentimentos, emoções. Oásis que nos ajudam a atravessar os trechos desérticos da vida...

sábado, 25 de outubro de 2008

A FLAUTA E A MÚSICA

Gostaria eu de poder transmitir-vos tudo que tenho aprendido com a vida.

Porém, é preciso que cada um aprenda com as suas próprias lágrimas; pois a experiência alheia é como a chuva passageira, que apenas fertiliza o quintal do vizinho e não faz brotar as nossas plantas.

Gostaria de dizer-vos que amores vêm e vão; o que deles nos pertence são as lembranças dos momentos em que julgamos que nos pertencessem. E, entretanto, o Amor existe e é único, embora diversos possam ser os seus matizes.

Gostaria de dizer-vos que o que nos faz felizes não são os sonhos que acalentamos, mas a esperança de realizá-los. E que um sonho não morre, senão no momento em que realidade se torna.

Eis que a felicidade não pertence a este mundo. E por isto apenas a podemos vislumbrar, nos raros instantes em que dele nos afastamos. Porque ninguém pode ser feliz, senão em seu verdadeiro Eu, que o leva ao coração do Universo.

Disse um sábio: “Mostrai-me um homem sempre feliz e eu vos mostrarei um mentiroso”. Porque é a inquietação que nos empurra para a frente e nos faz prosseguir em nosso caminho. E, todavia, apenas quando a superamos conseguimos perceber o verdadeiro objetivo da jornada.

A felicidade não está em alcançar o pico mais elevado, mas em respirar o fresco ar da montanha, durante a escalada; como não se encontra na vitória, mas no mérito de obtê-la; nem em possuir o regato, mas na capacidade de encantar-se com o colorido dos peixes que povoam as suas águas.

Este é o aprendizado. Que, na sua simplicidade aparente, esconde a enorme complexidade de encontrar a si mesmo. Porque é preciso que o nosso verdadeiro Eu possa escutar no vento a voz do Universo e sentir no calor do sol o carinhoso abraço da Vida.

Deixai-me dizer-vos que a Felicidade não se assentará entre os homens, enquanto um único deles for capaz de querer escondê-la só para si; ou que o Amor não estenderá as suas asas sobre o mundo, enquanto não se puder abrigar em todos os corações.

Deixai que eu vos fale das verdades que aprendi. Porque o rumor das ondas, embora não vos possa ensinar a nadar, ao menos vos faz atentar para a beleza e os perigos do mar.

Eu vos digo que o céu não estará completo, enquanto uma única estrela não conhecer o seu próprio brilho; e não findará a nossa jornada, enquanto um único irmão permanecer no caminho.

Como o riso da liberdade não ressoará no Universo, enquanto se fizer ouvir o pranto dos oprimidos; porque o Pai não se julgará alimentado, enquanto alimentados não estiverem todos os Seus filhos.

Deixai também que eu vos agradeça, pela atenção e amizade com que tendes acompanhado as minhas palavras. E deixai-me pensar que nelas talvez esteja um pouco do nosso verdadeiro Eu, que em todos os dias nos aponta o caminho.

Pois não é na flauta que reside a música, nem mesmo no sopro que a atravessa.

Mas nos corações que a escutam...

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

O OCEANO DA VIDA

É na compreensão da Vida, que se pode vencer o medo da morte.

Pois todos os dias o sol mergulha no horizonte, como se nele encontrasse o seu paradeiro final. E, entretanto, volta a surgir no dia seguinte; como se renovado fosse, trazendo de mistura com a luz o calor e a vida.

Assim acontece, ao nosso verdadeiro Eu; que, de tempos em tempos, necessita recolher-se ao horizonte de outras paragens, em busca do repouso que se faz obrigatório.

É preciso que sejam trocadas as vestes; que se renovem as idéias, que se fortaleça a voz. É preciso que se assimilem novos conceitos, que se reencontre a Fé; que renovemos as nossas forças, para que a jornada continue.

Como a água, que se evapora da terra e em nuvem se transforma apenas o tempo necessário, para que como água à terra retorne; como a flor tombada, que se transforma em adubo para voltar a ser flor.

Assim é o nosso verdadeiro Eu. Todavia, mergulhados no oceano da Vida, não conseguimos enxergar toda a sua amplitude. E nos prendemos a cada momento, como se não nos pertencesse a Eternidade.

Tememos a partida de um porto, esquecidos de que muitos outros nos aguardam, e em cada um haverá uma nova carga de tristezas e alegrias. Neles voltarão a ecoar os nossos risos e sobre o seu solo cairão as nossas lágrimas, fazendo brotar novos matizes dos mesmos sentimentos.

Em cada um de nós, existe um traço de nossos pais; porque a criatura guarda ao menos uma centelha do criador. E, se assim é, também em nosso verdadeiro Eu há uma fagulha do Universo, que tem em si a Eternidade da Vida e o Infinito do Desconhecido.

Deixai-me dizer-vos, portanto, que a morte não é senão uma ilusão dos vossos sentidos; assim como a ausência de um ser amado, que permanece presente em vossos corações. Deixai-me dizer-vos que a Vida transcende o corpo, como as lembranças transcendem a marcha do tempo.

E, se é certo que cada partida é dolorosa em si mesma, é igualmente verdade que sem a tristeza da partida não existiria a alegria da chegada. Pois as partidas e as chegadas são as faces alternadas da mesma moeda, como os desencantos e as esperanças.

Abandonai as vossas preocupações com a partida; que para todos nós será um dia obrigatória. O sábio não se preocupa com o aclive inevitável em seu caminho, mas busca a melhor forma de vencê-lo, para prosseguir a caminhada.

Vivei, portanto, o quanto vos for possível. Buscai o aroma das flores, a inocência das crianças, o encanto das melodias; a alegria do sorriso e o desabafo das lágrimas, as ondas do mar e a placidez dos regatos, o calor do sol e o encanto da lua. Saboreai a plenitude do amor, a voragem do desejo e a cumplicidade da ternura.

Pois é assim que vencereis o medo da morte: traçando a vossa rota, no oceano da Vida.
Ilustração: site 1000 imagens

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

PARTICIPAÇÃO DO CO-AUTOR

- Quem é Hassan?
- Onde ele vive?
- Como ele é?

Muitas pessoas me fazem estas perguntas, depois da leitura dos meus livros. E outra, ainda mais difícil de responder:

- Ele existe de verdade?

Para ser sincero, só posso responder que não sei. Por algum tempo, pensei que Hassan fosse fruto de minha imaginação: um personagem que criei, para responder a perguntas que inquietam a todos nós.

Hoje, sinceramente, não sei. Talvez eu o tenha conhecido, em dias de que não me lembro; outros tempos, outros lugares, outras vestes, outra vida. Talvez eu tenha sido um dos que ouviram as suas palavras e a semente permaneceu em mim, esperando o momento de brotar.

Em todos os meus livros, Hassan é uma voz que dá vida a idéias e verdades eternas. Não escrevi qualquer palavra sobre o seu tipo físico, nunca o descrevi. Jamais cheguei, sequer, a pensar como ele poderia ser.

Agora, com todas as perguntas, a minha própria curiosidade foi despertada. Como já disse, não sei se Hassan existe ou existiu em nosso mundo; se caminhou entre nós. Posso, apenas, dizer como o imagino.

Eu o vejo com uma idade imprecisa, talvez em torno de cinqüenta a sessenta anos. É magro, de altura mediana, cabelos e barbas brancos. Tem um rosto comum, onde se destacam apenas os olhos; brilhantes, profundos, cheios de vida e de paz. As suas vestes, semelhantes às dos árabes no deserto, são brancas, como branco é o albornoz que lhe cobre a cabeça.

Fisicamente, uma pessoa comum; entretanto, transfigura-se quando começa a falar. A sua voz é baixa e não possui as ricas inflexões dos grandes oradores; apenas o sentimento e a tranqüila certeza que emanam das suas palavras fazem com que todos se calem, para que melhor possam ouvi-lo. E em seus lábios as palavras adquirem novo significado; as certezas vacilam, as dúvidas fazem brotar novos conhecimentos.

É assim que imagino Hassan: é assim que ele é para mim. E me pergunto se escrevo as suas palavras, ou se é ele que, através de mim, busca perpetuar as verdades que descobriu.

Confesso que, ao ler e reler os livros em que trato de Hassan, sempre aprendo alguma coisa; descubro verdades que não estavam entre as minhas próprias verdades. E cada verdade que descobrimos é um passo em direção ao nosso crescimento.

Quem é Hassan? Não sei. Talvez o conhecimento adormecido, que persiste em cada um de nós. Ele existe realmente? Não sei. Talvez em algum lugar do espaço, ao qual o corpo físico não tem acesso; certo é que as suas palavras ecoam em nossas almas.

Por isto, ele existe. Transcende o ambiente dos livros, está em nosso mundo. E sente-se feliz, de cada vez que as suas palavras acalmam um coração aflito, ou trazem uma nova luz ao caminho de um irmão.

Este é Hassan. E gosto de pensar que ele existe em cada um de nós...

Resolvi publicar este trecho do meu livro mais recente,para atender a amigos como o DO e a Perla, dando uma rápida idéia sobre a visão que tenho de nosso amigo Hassan.
E ao amigo Bill_Stein_Husenbar agradeço por este belo selo, que hoje adorna o nosso oásis. Obrigado, Bill; obrigado, amigos. Este cantinho não existiria sem vocês!

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

SENTIMENTOS E EMOÇÕES

O vosso coração é a sementeira da Eternidade. É uma ponte entre o que julgais ser e o vosso verdadeiro Eu.

É dele, e das sementes que vós mesmos plantais, que nascem as vossas alegrias e as vossas tristezas. O vosso sorriso e as vossas lágrimas.

Como o sol e a chuva, são o sorriso e as lágrimas para os vossos corações. E fazem brotar as vossas sementes.

Por isto se alternam e sucedem, como o sol e a chuva. Necessitais de ambos, porque não sabeis ainda escolher as vossas sementes.

Mas não vos desespereis com as lágrimas, porque delas nascerá o sorriso. Nem vos empolgueis com o sorriso, pois às lágrimas ele vos há de levar.

Sede sábios; como a terra, que se ensopa com a chuva e se aquece com o sol.

E recordai que, assim como a terra não escolhe as sementes que lhe traz o semeador, ao vosso coração não cabe a escolha do que nele será semeado; é à vossa razão que pertence essa escolha.

Assim, sois os vossos próprios semeadores; e podeis escolher o que desejais colher.

E, se vos disseram que quem planta o amor colhe a saudade, eu vos digo que aquele que não o plantar colherá a solidão.

Como quem planta a vingança colherá o arrependimento,
quem planta a violência colherá o medo,
quem planta a adulação colherá a falsidade,
quem planta o egoísmo colherá o vazio.

Porém, quem planta a esperança colherá a certeza,
quem planta a tolerância colherá o perdão,
quem planta o ensino colherá o saber,
quem planta a ternura colherá o carinho.

E muito mais eu vos poderia falar, pois são infinitas as sementes que o Pai colocou ao vosso alcance.

Entretanto, a escolha das sementes é parte do aprendizado; e deveis comparar cada colheita, para que possais escolher as novas sementes que ireis plantar.

Ou todas elas deverão passar pelo vosso coração, antes que se complete a sementeira.

E dela possa brotar o Conhecimento.

Texto do livro "A Sabedoria de Hassan"

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