O Árabe

Idéias, sentimentos, emoções. Oásis que nos ajudam a atravessar os trechos desérticos da vida...

sexta-feira, 25 de março de 2011

O CAMINHO E A CARGA


Vezes existem em que a carga vos parece excessiva.

Clamais, então, a vossa revolta. E é bom que assim seja, pois a represa necessita abrir as suas comportas, para dar vazão à água que a oprime; ou ruirão as suas paredes.

Nestas horas, entretanto, é que mais necessitais manter a esperança; para que consigam os vossos olhos descobrir os caminhos que vos podem levar a um futuro melhor.

E viajar nas vossas lembranças. Pois assim percebereis que inúmeras foram as horas difíceis do passado; todavia, conseguistes superá-las e prosseguir a jornada.

É assim que é. E se a teia, tão fina, consegue suportar o peso da aranha e atender às suas necessidades, não haveria o Universo de outorgar-vos carga superior às vossas forças.

Recordai, porém, que o ferro necessita do calor da forja e da frieza da água, para livrar-se da ferrugem que o poderia consumir; outra forma não existe de em aço se tornar.

Para o viajante ansioso e enregelado, as últimas horas da noite são decerto as mais escuras e frias; mas antecedem o nascer do sol, que em seus raios traz a luz e o calor da vida.

Um dia depois do outro, é realizada a vossa jornada. E é durante os trechos difíceis, que mais necessitais manter abertos os vossos olhos e íntegra a vossa disposição de prosseguir.

Aceitai, pois, o cansaço que às vezes vos acomete; ele também faz parte da caminhada e ninguém existe que jamais o tenha sentido. É na tempestade, que valorizais a bonança.

Não vos deixeis, entretanto, seduzir pelo desânimo. Antes pisar sobre as pedras, que vos magoam os pés mas permitem a passagem, do que afundar no pântano que vos sufocará.

Erguei os vossos olhos e os vossos pensamentos. Aquele que fita o céu desfruta do seu brilho, e em cada nuvem descobre uma nova imagem; cria um novo sonho.

Porém o homem que no chão mantiver os seus olhos nada verá, senão a terra e o lodo; e mais sombrio se tornará o seu caminho.

De vós, depende a escolha. Tende presente, entretanto, que este é o vosso caminho. E melhor será percorrê-lo cantando, do que mergulhar em inúteis lamentações.

Que em nada vos podem ajudar.

sexta-feira, 18 de março de 2011

DE ALEGRIAS E TRISTEZAS

Julgais, acaso, que a alegria exclua a tristeza?

Sabei, então, que em verdade são irmãs; porque filhas dos vossos desejos e das vossas vontades. E quando uma se assenta à vossa mesa, decerto já vem a outra no caminho da vossa porta.

É assim que é. E por isto lágrimas e sorrisos se alternam em vossas vidas; como, de resto, se alternam a noite e o dia, a chuva e o sol, a tormenta e a bonança, no mundo que vos cerca.

Não deveis, portanto, esperar que para sempre possa durar uma alegria; nem temer que a tristeza de um momento se estenda além das vossas forças. A ambas, levará o tempo.

Buscai, sempre, o equilíbrio necessário. Para que não vos deixeis levar pelos ventos da euforia, nem sejais arrastados pelas águas turvas do pessimismo e da descrença.

É em vós, que existe esse equilíbrio. Não no sentir, exacerbado pelas emoções do momento, mas na razão serena do Universo, que habita em vosso verdadeiro Eu.

Pois, assim como a mesma árvore vos oferece frutos doces e outros sem sabor, também a Vida vos traz acasos felizes e infortúnios. A todos devereis colher, e provar do seu gosto.

Porque em cada dia semeais os vossos caminhos. E apenas ao provar do bem e do mal, sereis capazes de escolher as sementes que plantareis; e cujos frutos amanhã forçosamente colhereis.

Chorai, sim, as vossas derrotas. Entretanto, não é sábio que por muito tempo vos debruceis sobre a poça das vossas lágrimas; nela, não estará refletido o sol que ilumina o futuro.

E comemorai, sim, as vossas vitórias. Lembrai-vos, entretanto, que o vento que hoje enfuna as velas do barco é o mesmo que amanhã poderá afastá-lo do rumo desejado.

Sede, portanto, como o jardineiro sábio; que em seu coração lamenta a perda da rosa mais linda, mas utiliza as suas lágrimas para regar a roseira, de onde outra mais bela poderá surgir.

E como o homem previdente; que se alegra por ter a sua casa vencido a inundação, porém reforça os alicerces, porque outra maior poderá ocorrer amanhã.

Aprendei, com as vossas tristezas e as vossas alegrias. Pois outra não é a sua razão de existir, senão a de fazer florescer a árvore do Conhecimento, em vosso coração.

A sementeira da Eternidade.

sexta-feira, 11 de março de 2011

DO CANSAÇO

Mais uma vez, o cansaço.

Sem tristeza, sem desânimo. Apenas um cansaço infinito, como se a vida se perdesse nas areias do tempo; como se os dias transcorridos fizessem sentir o seu peso de uma só vez.

Imagens difusas de outros tempos; de sorrisos e lágrimas passados e por vir. Como se a bruma fria e impessoal da descrença enevoasse as janelas do ontem e do amanhã.

Pelo meu rosto, já não corre a água pura das lágrimas redentoras; escorre apenas o líquido escuro do rímel, com que tantas vezes maquiei os meus olhos, em busca de uma falsa beleza.

E os meus lábios, de onde já se foi o riso, tampouco se contraem para formar palavras de desgosto ou arrependimento, entregues à paralisia serena da indiferença.

Em mim, impera a paz enganosa da mais simples resignação. Foram-se os espinhos da tristeza, feneceram as flores da alegria; o cinza substitui as cores dos sonhos e o preto dos desenganos.

No deserto do meu coração, nem o mais leve vento de emoção agita as dunas da monotonia; nas praias dos meus sentimentos, os barcos enrolam as velas e deitam fora os motores.

Porque é inútil navegar, se todos os portos são iguais; e de nada vale enfrentar tempestades, em nome de uma falsa esperança, se o futuro sonhado é como o passado sofrido.

Porque as horas que passam são a ponte entre o sonho e a desilusão; e o fruto que apetitoso nos parece à distancia, de perto se mostra insosso como todos que antes provamos.

Porque a noite significa apenas o repouso do corpo; mas não há descanso para a alma, que caminha ininterruptamente sobre as pedras e pétalas que se alternam ao longo da estrada.

De nada serve buscar a água cristalina, se amanhã a sede voltará a atormentar o peregrino; ou o alimento mais saboroso, se em breve a fome se fará novamente sentir.

Assento-me, pois, à margem da vida. Que passem os dias; que a jornada se encerre e o descanso me colha, afinal. Renuncio aos meus sonhos, para fugir às minhas desilusões.

Pois já não sou como o rio, que canta ao percorrer o seu leito e às suas margens distribui a vida. Mas como o lago, que em suas águas escuras esconde o cansaço infinito.

E acumula as pedras que lhe foram lançadas pela vida.


Postagem sugerida pela excelente foto do 1000 Imagens, associada à música deste link: http://www.youtube.com/watch?v=kvaeMZbJ-6g&feature=fvsr

sexta-feira, 4 de março de 2011

JUVENTUDE E MATURIDADE


Empresta-me os teus olhos, jovens e cheios de esperança.

Para que com eles eu possa olhar o futuro; e reencontrar, talvez, os sonhos da minha própria juventude. Porque triste não é a velhice, mas a descrença no dia de amanhã.

Empresta-me os teus pés, fortes e descansados, onde a juventude coloca as asas da impaciência. Porque de há muito os meus pés já se dilaceraram, nas pedras do caminho.

E, entretanto, é necessário prosseguir na jornada. Da fraqueza fazer forças, do cansaço extrair novas energias e do desânimo arrancar a capacidade de mais uma vez acreditar.

Porque é a fé que move o caminhante. É a capacidade de acreditar em si mesmo, que o leva a transpor os obstáculos; é a crença na felicidade, que o faz superar a amargura.

É assim que é. E assim se vão os dias e as noites; assim as semanas se tornam meses e os meses se transformam em anos, enquanto a vida nos modifica e a neve do tempo se derrama sobre os nossos cabelos.

Conta-me as tuas idéias e os teus sonhos. Talvez o entusiasmo da mocidade, que vibra na tua voz, seja capaz de reacender as chamas do meu próprio entusiasmo, há muito sepultado sob as cinzas da descrença.

Fala-me da rosa, que hoje brotou e coloriu o teu dia; da criança que te sorriu, e cuja inocência aqueceu o teu coração. Conta-me o futuro que imaginas, ao lado de quem amas.

Fala-me de ti. Porque mais doce é falar do futuro, que ainda podemos sonhar, do que comentar o passado, que apenas nos é dado recordar.

Canta-me as canções que tens aprendido. E cuida para que falem de amor e esperança, de sonhos e felicidade. Porque a tristeza e as desilusões, a própria vida coloca em nossa estrada.

Faz-me pensar, ainda que por poucos minutos, que tudo pode ser diferente. Que o homem não será para sempre o predador de si mesmo; que um dia o Amor estará em nós.

Banha-me na tua juventude, perfuma os meus cabelos com as flores dos teus sonhos, incensa-me com a tua pureza. Retempera o meu coração, com a tua doce imprevidência.

Porque a juventude é a ponte encantada, que liga a inocência de ontem ao desencanto de amanhã. Ao atravessá-la, descortinamos as mais lindas paisagens de que nos é dado desfrutar.

Deixa-me, portanto, ver o mundo pelos teus olhos; enquanto neles brilha a luz encantadora dos sonhos infinitos.

Antes que o passar dos anos os venha enevoar.


Texto sugerido pela magnífica foto do site 1.000 Imagens.

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