O Árabe

Idéias, sentimentos, emoções. Oásis que nos ajudam a atravessar os trechos desérticos da vida...

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

BALADA DA FELICIDADE



Dizeis buscar a felicidade.
Porém, sois como o homem que resolveu arrumar a sua casa à procura de uma lanterna e deixou-se atrair pela luz de vagalumes, esquecendo o seu objetivo maior.
Porque menosprezais tudo que tendes, para vos concentrardes no que vos falta; substituís o prazer de cada realização pela ânsia de alcançar um novo objeto de desejo. 
Quereis a doçura do amor e, entretanto, pareceis buscar apenas  o seu amargor; porque deixais de ver as qualidades da pessoa amada e vos agastais com os seus defeitos.
Longe de saborear o pão que se encontra em vossa mesa, deixais que a vossa boca se encha de água, ao lembrar o pão que entrevistes de longe à mesa do vizinho.
E não é com prazer que vos dessedentais com a água fresca do vosso poço; antes desejaríeis o sabor do vinho que se abriga nas coloridas garrafas da estalagem.
Certo é que necessitais trabalhar, porque cada um precisa ganhar o pão com o suor do próprio rosto. E por isto leve vos deveria ser o labor; com alegria o deveríeis executar.
Esfalfai-vos, entretanto, a trabalhar para atender a todos os vossos desejos. E não é com alegria que o fazeis, mas com a ambição de possuir mais do que realmente necessitais.
Certo é que deveis preservar os vossos haveres, pois ninguém sabe as necessidades do amanhã; errais, todavia, quando permitis que a avareza vos roube a alegria de dar.
Certo é que protejais os vossos filhos, porque a tanto vos leva o amor; errais, contudo, quando quereis impor-lhes a vossa vontade e forçá-los a viver as vossas vidas.
Certo é que busqueis a sintonia com o Universo, porque é Dele que vem a Vida; errais, entretanto, quando aceitais o conceito de pecado, que vos impede de viver a vossa vida.
Certo é que escolhais a vossa crença, pois cada um só acredita naquilo que pode entender; errais, todavia, quando o fanatismo vos leva a desrespeitar a crença alheia.
Bem procederíeis se negásseis aos vossos olhos o brilho enganador dos vagalumes, pois assim encontraríeis a lanterna que buscais; e a sua luz iluminaria o vosso caminho. 
Dizeis buscar a felicidade.
E não a percebeis, quando caminha ao vosso lado. 

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

OBRIGADO, AMIGO!



Sim; é certo que a saudade me dói.
E continuará doendo, porque o afeto não morre com a partida do ente querido. Mas na saudade que faz chorar também sobrevivem as lembranças que fazem sorrir.
Como o aroma continua a pairar no ar, depois que se fecha o frasco de perfume; e as vibrações da harmonia se prolongam em nossa alma, quando se encerra a canção. 
Sim; é certo que me parece ver o teu vulto por todos os cantos. Ainda mais naqueles em que sempre ficavas; em que te estiravas, preguiçosamente, a acompanhar-me com o olhar.
Por muito tempo imaginarei os teus passos apressados, quando ouvias o ruído do saco de papel sendo amarfanhado, à espera de que te jogasse os nacos de pão que adoravas.
Por muito tempo, ao entrar em casa tomarei cuidado, julgando-te atrás da porta. Ou olharei para o topo da escada, onde ficavas quando a idade já não te permitia vencer os degraus.
Ao colocar os alimentos na mesa, continuarei a afastá-los das bordas; por que te verei, ainda, em pé nas patas traseiras, tentando abocanhar os quitutes tentadores.
Não sei se me acostumarei a colocar novamente o saco de lixo sobre o chão, em vez de buscar um lugar mais alto, para evitar a tua busca gulosa de sabores diferentes.
Haverei de lembrar-me da tua expressão travessa e receosa, quando desobedecias às nossas normas e te afastavas correndo, voltando em pouco como pedindo perdão.
Muitas são as coisas que me farão lembrar de ti; recordarei os teus olhos verdes, a língua  a lamber-me  as mãos quando te acariciava, a tua alegria ao brincarmos.
Recordarei a tua elegância instintiva, a pata suspensa no ar, os latidos inquietos quando querias companhia, a forma engraçada e infantil com que te espojavas nos lençóis.
Haverei, sim, de sentir saudades de ti. Mas tão doces e divertidas são as lembranças, que afastarão de minh’ alma a amargura e de meus olhos o pranto da ausência.
Obrigado, amigo querido! Porque me dedicaste o amor sincero e devotado de que só os seres puros são capazes. Obrigado pelas horas tristes que alegraste, pela solidão que muitas vezes afastaste.
Obrigado, por tudo que me ensinaste. Por trazer-me uma nova visão do mundo, das pessoas e dos animais. Por mostrar-me que a verdadeira amizade nada pede, apenas existe. 
Bendito seja o momento em que te escolhi, entre os teus irmãos, pequenino e encolhido. Não teria sido a mesma a minha vida sem ti.


Toy - Julho de 1998 a 16/10/2012
14 anos de amizade. Uma grande saudade. 

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

AS VOSSAS LEMBRANÇAS


O que fazeis das vossas lembranças?
Porque é certo que elas existem. E quanto mais os anos se passam, mais as lembranças se tornam numerosas e presentes em vossa vida; mais ocupam do vosso tempo.
Não podeis ignorar as vossas lembranças; a ninguém é dado ocultar completamente as marcas do tempo em seu corpo e ninguém existe que as apague em sua alma.
Com elas necessitareis conviver até o último dos vossos dias. E sábio é o homem que não faz da sua mente um castelo assombrado pelas lembranças, mas a sua morada.
Sábio é aquele que não recorda o medo da escuridão, mas o manto cúmplice da noite a resguardar o seu descanso; nem acalenta a dor da separação, mas a alegria do amor.
Sábio é aquele que não amaldiçoou a chuva inesperada, mas soube armazenar a preciosa água para os dias em que a seca inclemente castiga a sua terra.
Sábio é aquele que não faz do seu passado uma tapera em ruínas, fria sob o sol que renasce; mas uma casa acolhedora, onde perduram as risadas que ontem se fizeram ouvir.
Apenas de vós depende o uso que fareis das vossas lembranças. É deste uso, entretanto, que dependerão a vossa paz ou a vossa inquietação, o vosso riso ou o vosso pranto.
Porque, como os pontos invisíveis da linha mantêm unidos os tecidos das vestes, são as vossas lembranças que costuram os seres em que vos tornais ao longo dos anos.
Pois o homem que recorda a benção generosa do seio fértil estará mais propenso à felicidade do que aquele que abriga a lembrança da fome e do desamparo.
E, entretanto, a um e ao outro visitaram decerto a fartura e a privação; ninguém existe, por mais afortunado ou pobre que seja, a quem a vida não trouxe alegrias e sofrimentos.
Assim, o pessimista lamenta os problemas que teve, enquanto o otimista festeja as soluções que encontrou; e cada um tem uma visão diferente do mundo e da vida.
Como o crente é aquele que abraça os próprios sonhos e o incrédulo é alguém que busca enterrar as próprias esperanças, por medo de chorar sobre o cadáver insepulto.
Sede cuidadosos, portanto, com o que fazeis das vossas lembranças.
Porque é sobre elas que construís o vosso futuro.
Texto sugerido pela bela foto do site 1.000 Imagens.       

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O VOSSO FUTURO


Buscais desvendar o vosso futuro.
Entretanto, é no presente que o construís. E, se assim é, antes de tentar conhecê-lo deveis trabalhar para torná-lo melhor. Porque é o hoje que determina o amanhã.  
Sábio é o homem que busca o terreno mais firme e os tijolos mais fortes, para edificar a sua casa; e cuida, também, de escolher as pessoas e os sentimentos que nela habitarão. 

Assim deveis fazer ao vosso corpo e ao vosso coração, a casa onde se abriga o vosso verdadeiro Eu.         
A cada um compete decidir o que será do seu próprio futuro. Ao pássaro que se deixa hipnotizar pela serpente e à mariposa atraída pela chama, não cabe reclamar do destino.   
Como não se pode queixar da fome aquele que não cultiva o seu trigo e não assa o seu pão; assim dependerá da caridade alheia para obter o alimento de que precisa.
E, embora seja certo que os lírios do campo não tecem e nem fiam, é igualmente certo que lhes cabe extrair da terra o sustento, para que possam florir em todo o seu esplendor.
Pois a cada um o Universo provê, de acordo com as suas necessidades. Como o pai amoroso que protege o filho, mas não impede as quedas que o ensinam a andar.
Abandonai, portanto, os vossos oráculos; as cartas do tarô e as bolas de cristal, com as quais pretendeis adivinhar o futuro. E guardai-vos dos charlatões que o fingem desvendar.
Se este dom alguém possuísse, decerto em seu proveito o usaria. Ou acreditais que o homem se dedique a encher o poço de outrem, antes que cheio esteja o seu próprio poço?
O futuro é como o cume da elevada montanha: de longe e cercado pela massa branca das nuvens, encanta os vossos olhos por sua beleza e pelas promessas que encerra.
Sangrarão, todavia, os vossos pés, antes que a ele chegueis. E fatal poderá ser a jornada, se prevenidos não estiverdes sobre os perigos que ocultam os escarpados caminhos.
Que longe de vós esteja, portanto, a pretensão de adivinhar o futuro. Por mais bonita que seja a maquete, nela jamais vos será dado habitar; é a casa que necessitais construir.
Edificai o vosso futuro, em cada dia. Da sabedoria, fazei as vossas vigas; da compreensão e da tolerância os vossos tijolos, e do amor a argamassa que os une.
É assim que construireis uma Vida melhor!          

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