O Árabe

Idéias, sentimentos, emoções. Oásis que nos ajudam a atravessar os trechos desérticos da vida...

domingo, 25 de maio de 2008

A CANÇÃO DO PREGADOR

Não é no pó que se acumula nas minhas sandálias, que encontrarei as lembranças dos caminhos que já percorri; mas nos sentimentos de que pude desfrutar, durante as minhas viagens.

Como não é nas minhas palavras, que encontrarei as verdades que busco; apenas poderei encontrá-las nas dúvidas dos meus irmãos. Pois a resposta não começa a nascer, antes que a pergunta seja formulada.

Assim como o perigo das tempestades não está no estrondo assustador do trovão, mas na beleza ofuscante dos raios, também não é nas realidades do mundo que encontraremos as causas da nossa felicidade, ou do nosso sofrimento; elas estão nos nossos sentimentos, no mais íntimo de nós.


Entretanto, como o condenado não pode deixar a própria cela, também o homem não consegue abandonar os limites que o corpo e a sociedade lhe impõem; e assim torna-se prisioneiro do medo, da insegurança e das frustrações, ao afastar-se da sabedoria do Universo, que vive na voz do seu verdadeiro Eu.

Procura o homem entorpecer-se com os apelos do mundo. É nos valores da sociedade, que busca os parâmetros para medir aos outros e a si mesmo. E, ao fazê-lo, é como a mariposa ingênua, que se deixa atrair pelo brilho fatal da lâmpada enganosa.

Enquanto assim for, devo falar aos meus irmãos. E cada um que ouça as minhas palavras e nelas encontre o ponto de partida para as suas verdades, será para mim como a missão cumprida. Pois o semeador, ao lançar milhões de grãos sobre a terra, sabe que nem todos eles frutificarão; e nem por isso despreza o valor do seu trabalho, ou a alegria da colheita.

E não me move a esperança da sua gratidão, nem o desejo das glórias terrenas. A cada dia, mais velho me sinto; de nada me valeria acumular novas bagagens, às vésperas da grande viagem, onde só a experiência podemos levar.

Tampouco, possuo a presunção de ensinar. Na verdade, o que me move é o desejo de aprender; e como compreender a Vida, se eu me fechar em mim mesmo e não compartilhar as dúvidas e a sabedoria dos meus irmãos? Pode uma única página possuir todo o conhecimento que habita em um livro? Ou uma única flor exibir todo o colorido de um vasto jardim?

E, assim como devo lavar as minhas vestes, para que a poeira do caminho não ofenda os sentidos dos que me cercam, devo também abrir a minha mente, para que possa aceitar as idéias alheias e nelas descobrir novas verdades. Pois aquele que se julga completo é como uma esponja que, encharcada de presunção, nada mais consegue absorver.

Por isto, apenas desejo que o meu coração esteja pronto a ouvir os meus irmãos e compreender os seus sentimentos; e, acima de tudo, que a Voz do Universo possa exprimir-se por minhas palavras e orientar-nos na caminhada, que se renova em todos os dias.

A busca do nosso verdadeiro Eu.

Da amiga São recebi esta bela rosa, que agradeço de coração,
e a licença para ofertá-la a todos vocês, que com a sua presença adornam o nosso oásis.
Obrigado, pela valiosa flor da nossa amizade!

sexta-feira, 16 de maio de 2008

O CAMINHO E O VÔO

Abre os teus braços e voa.

Ainda que por instantes, onde quer que te encontres. Pois o mais belo dos vôos não reclama espaços abertos, nem um céu sem nuvens; só o encontro com o nosso verdadeiro Eu.

São apenas os nossos corpos, que estão presos pela gravidade; apenas os nossos pés necessitam caminhar pelo chão. O que de mais verdadeiro existe em nós, busca sempre integrar-se ao coração do Universo.

Voa nas asas das tuas idéias, dos teus sonhos, dos teus ideais. Porque são estes os ventos que nos conduzem pelo mar da Vida, rumo à plenitude. E, como os ventos, não se deixam prender.

Busca a liberdade, onde realmente a podes encontrar: dentro de ti. Porque não conseguirão aprisionar-te as correntes do passado, nem os apelos do hoje, se a tua alma habitar na verdade do amanhã.

Assim como não consegue o dique conter para sempre a força das águas, um dia os limites do corpo cederão, e o nosso caudaloso espírito seguirá em sua marcha para a Eternidade.

E o que será daquele que não houver visitado a mansão do Sonho, banhado a sua essência nas águas frescas da Liberdade? Como ouvirá a canção do Universo, se os seus ouvidos continuarem presos aos ruídos do mundo?

Aquele que se esquece de levantar os olhos para o céu, perde-se nas trevas da noite e jamais conhecerá o encanto das estrelas. Como aquele que vê apenas o luzir do ouro, jamais perceberá o brilho nos olhos de uma criança.

Entretanto o cego, que não enxerga a beleza da rosa, pode desfrutar do seu perfume. E o surdo, embora não ouça a canção do riacho, delicia-se ao nele mergulhar os pés cansados.

Cada sentido do nosso corpo é uma porta para as sensações, que residem em nossa alma. E não é sábio o homem que ignora as necessidades da alma, absorto em satisfazer as vontades do corpo.

Cuida, portanto, para que não adormeça o teu verdadeiro Eu. Ou serás como tantos outros que, ao se perderem de si mesmos, trocaram o encanto do vôo pelo acanhado espaço do ninho.

Abre os teus braços e voa; deixa que o amor, a esperança, a tolerância e a fraternidade sejam os faróis de cada um dos teus dias, enquanto os pés continuam a conduzir o teu corpo pela terra.

Pois só as asas te conduzirão pelo Universo...

Ilustração criada a partir de fotos do site 1000 imagens.
O texto é inédito: o Universo volta a tanger a lira humilde...

sexta-feira, 9 de maio de 2008

PARA MINHA MÃE

Acaso agradece a planta ao solo fértil, que protege a semente e a faz brotar?

Ou o estudante ao livro, que lhe transmite o saber?

Agradece o homem ao sol, que lhe fornece o calor necessário à vida?

Ou à noite, em cujos braços encontra a paz para o descanso de que precisa?

Aquele que agradece a quem o perdoa, ofende à própria essência desse perdão. E quem agradece a quem lhe trouxe o amor, ofende ao próprio amor.

É do teu jeito de ser, viver o amor. E derramar amor sobre aqueles que te cercam; como o céu derrama sobre a terra a chuva que lhe sobra.

As tuas censuras são como o vento, que ao porto seguro busca conduzir o barco errante. E a tua compreensão é como a brisa, que retempera o desnorteado viajante.

Não posso, sequer, dizer que te entendo. Pois a verdade é que não se entende a quem se ama.

Mas sei que, quando choras, tentas evitar que corram as minhas próprias lágrimas. E, quando sorris, desejas dividir comigo a tua alegria.

Mãe, sei que nada te devo agradecer.

Como não agradece o homem à fruta generosa, que mata a sua fome; ou à água cristalina, que lhe sacia a sede. Eis que para isto foram criadas pelo Pai, assim como são.

Agradeço, sim, ao Universo, por seres minha mãe...


UPGRADE, em 14/05/2008: da amiga Su, o nosso oásis recebeu este prêmio. Obrigado, Su, por tua amizade e gentileza!

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