O Árabe

Idéias, sentimentos, emoções. Oásis que nos ajudam a atravessar os trechos desérticos da vida...

sexta-feira, 11 de abril de 2025

DO RELACIONAMENTO

 


Eis que um viajante carregou em demasia o seu animal.

E o pobre, exausto, terminou por tombar à beira da estrada; e nem os rogos e nem as pancadas do dono fizeram com que se erguesse.

Enfim, o homem resolveu repartir a carga. E nos próprios ombros levou a parte que lhe coube, até à aldeia mais próxima.

E foi essa a sua penitência, por ter errado ao carregar o animal.

Assim fazeis, muitas vezes, aos vossos irmãos;

sobre cujos ombros atirais a carga excessiva das vossas esperanças.

E que, não conseguindo suportá-la, arcam com o ônus das vossas desilusões.

Dai a cada um de acordo com aquilo que possa suportar.

Assim como o Pai faz convosco.

Pois houve um cego que pretendeu colher figos de uma tamareira; e a morte o encontrou nessa vã esperança.

Costumais exigir demais dos vossos irmãos, e muito pouco de vós mesmos.

Não poucas vezes, o que nos outros censurais, em vós vos parece normal.

Pois vos justificais, dizendo: “Tenho as minhas razões.”.

Mas, assim como vós, cada um dos vossos irmãos tem as suas próprias razões.

E, antes de censurar os seus atos, deveríeis indagar das suas razões.

Cuidai, pois, para que cada um tenha apenas o que possa carregar.

Pois, se dividirdes a carga, juntos chegareis ao fim do caminho.

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Do meu livro Na Trilha do Profeta (1988), publicado pela ACIGI, que detém os direitos autorais.  

sexta-feira, 4 de abril de 2025

AS PALAVRAS

Pensai sempre, antes que as palavras deixem os vossos lábios.

Pois a palavra é como o vento, e pode ser a brisa que retempera ou o furacão que destrói. E, como o vento, não pode retornar sobre os seus próprios passos.

Uma vez proferida, a palavra não retorna. Como a confiança, uma vez traída, jamais voltará ser a mesma. E o amor que fenece jamais se poderá reerguer das próprias cinzas.

E quantas amizades, quantos amores, já se perderam por uma palavra irrefletida?

Outra forma não tendes, para expressar os vossos pensamentos, que as vossas palavras.

Mas os pensamentos vos pertencem, enquanto as palavras que dizeis pertencem aos ouvidos que as ouvem. E que direito tendes de oferecer aos vossos irmãos o que deles não gostaríeis de receber?

Pensai, antes de proferir as vossas palavras.

Pois as pessoas que vos cercam são como espelhos, a refletir em vossa direção o que recebem de vós. Assim, a vós retornará tudo que ao vosso redor espalhardes.

Por isso, pensai sempre. Para que as vossas palavras espalhem o amor, a compreensão e a paz. Não é uma questão de serdes bons, mas de serdes felizes.

Buscai, sempre, as boas palavras. E, como as palavras são o reflexo da alma, aos poucos purificareis a vossa alma; bons serão os vossos pensamentos, os vossos sentimentos. Bom se tornará o vosso verdadeiro Eu.

Vigiai as vossas palavras.

Para que não tragam lágrimas, mas sorrisos; para que ao desespero sobreponham uma nova esperança, à animosidade o perdão, à escuridão um raio de luz.

Eis que as palavras são como ferramentas; como elas, podeis construir ou destruir. Vossa é a escolha de como serão usadas.

Entretanto, uma vez findo o trabalho, devereis gozar o conforto de um teto; ou assentar-vos entre as ruínas. E em vossa companhia estará a satisfação; ou o arrependimento.

Recordai, sempre, que em cada hoje construís o vosso amanhã. E as dores e as alegrias que semeardes entre os vossos irmãos estarão à vossa espera, em alguma curva do caminho. Pois ninguém foge do seu passado, ou se esconde da própria consciência.

Vigiai as vossas palavras.

E não temereis os vossos pensamentos.

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sexta-feira, 28 de março de 2025

O MEDO

 


O medo é o sentimento que mais vos pode ser nocivo.

Quem por ele se deixa dominar, não perde apenas a liberdade do corpo; abdica dos voos de sua própria alma, ao permitir que sejam tolhidos os seus sonhos e duvidar de suas aspirações.

O medo coloca pesados grilhões em vossos pés e impede que possais seguir os vossos caminhos, buscando os vossos destinos; porque vos tira a confiança em vós e no Coração do Universo.

O homem que se entrega ao medo, duvida até da essência do Pai, que deveria sentir em sua alma. E, ao descrer de si próprio, duvida também da bondade d’Aquele que o criou e protege.

Necessitais acreditar em vós, para que possais seguir adiante, em todos os campos da vida. E eu vos pergunto: alguém conseguiria acreditar em um homem que não acredita em si mesmo?

Abandonai os vossos medos; controlai as vossas incertezas, pois delas nascem as dúvidas e os temores, que dão origem ao medo. Acreditai, sempre; e sede gratos por tudo que recebeis.

Porque é grande a diferença entre a gratidão e a insegurança. Enquanto uma vos faz cantar e enche de alegria o vosso coração, a outra vos arroja aos caminhos da dúvida e do medo.

Não deveis temer o futuro, assim como não o temem as plantas e os animais; apenas aguardam que chegue e dão o melhor de si, para viverem cada dia da melhor forma que lhes é possível.

E, se as suas necessidades são supridas pela mão invisível e generosa do Universo, o que dizer de vós, que sois os Seus filhos diletos? Pensais, acaso, que Ele vos abandone algum dia?

Acreditai, ao invés de duvidar; confiai e não mais temereis, ou vos ocultareis nas sombras. Caminhai, a passos largos, e oferecei os vossos corpos e as vossas almas à luz que emana do Infinito.      

Nenhum motivo existe, para que não acrediteis em vós. Verdade é que não sois perfeitos; ainda percorreis, cada um em seu tempo, os caminhos do aprendizado, que vos levarão ao Conhecimento.

Lembrai-vos, porém, de que cada um de vós é uma obra do Pai; e contém a Sua essência. E, se assim é, nada vos é impossível; apenas necessitais aprender como utilizar essa força divina.

Acreditai; e o medo não encontrará guarida em vossos corações. Sabereis que cada um de vós tem a mesma força; e, como o sol, o vosso brilho surgirá entre as nuvens sombrias do medo.

Aquele que acredita no Coração do Universo, acredita em si mesmo. Porque, ainda que se separem as gotas do mar, cada uma conservará as mesmas qualidades que têm quando juntas.

E somos as gotas do infinito oceano que é o Pai.

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sexta-feira, 21 de março de 2025

A ALMA E O CORPO

 


A vossa alma é livre como o vento.

Porque pela mesma força foram ambos criados.

E, juntos, corriam sob o céu, no princípio dos tempos, antes que a agrilhoásseis à terra.

Mas reduzistes a alma a escrava do corpo, quando este é que deveria servir àquela.

Eis que muitas vezes vos tenho ouvido dizer: vou alimentar-me; ou: vou deitar-me com as mulheres.

Nunca, entretanto um de vós fez chegar aos meus ouvidos: vou alimentar minh’alma.

E a vossa alma se alimenta de tão pouco!

Dai-lhe, apenas:

a beleza, para que recupere as suas forças;

a sabedoria, para que conduza o seu destino;

o amor, para que possa mitigar a sua sede;

a fé, para que repouse no Pai.

Pois, se agora viveis no mundo dos corpos, um dia retornareis ao mundo das almas.

E contas vos serão pedidas.

E haverá aqueles que, de tão envolvidos no mundo dos corpos, não acharão o caminho para o mundo das almas.

E a estes nem se poderá pedir contas, enquanto não despertarem para a realidade da alma

E a mentira do corpo.

Aprendei, pois, a conciliar vosso corpo e vossa alma.

E, ao zelardes por uma, do outro não vos descuideis.

Porque o corpo é a morada da alma; e dele deveis cuidar, para que ela se sinta feliz em habitá-lo.

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Do meu primeiro livro, Na Trilha do Profeta, publicado em 1988, pela ACIGI, que adquiriu os direitos autorais. O desenho simbólico foi feito por minha mãe. 

sexta-feira, 14 de março de 2025

AOS MEUS FILHOS

 


Coube-me trazer-vos a este mundo.

Nos primeiros passos pela vida, remover as pedras do vosso caminho; e buscar ensinar-vos como remover as pedras que no futuro vos couberem.

Outra não é a função dos pais, pois cada pessoa tem o seu próprio caminho e as suas próprias pedras.

Assim, eis que não posso caminhar por vós. Porque necessitais tropeçar, para que possais aprender a erguer-vos; e sofrer, para que possais conhecer a felicidade.

Pois assim aconteceu e ainda acontece a vosso pai; e antes dele, a todos os pais deste mundo, que um dia foram também filhos.

E essa é a essência da vida, que se renova a cada momento.

É necessário que eu me conforme com a ideia de que não vos posso ter sempre entre os meus braços; de que não vos posso proteger, senão através do que vos possa ensinar.

É necessário que eu não vos veja apenas como partes do meu ser, mas como seres humanos; e, assim, merecedores do riso e do pranto. Que possais ter as vossas próprias alegrias e as vossas próprias tristezas.

Pois não está em meu poder promovê-las ou evitá-las, apenas compartilhar de ambas; festejar as vossas vitórias e reconfortar-vos nos fracassos, embora neles chore também o meu coração.

Não sei se vos faço entender o quanto vos amo.

Pode a rosa explicar a um botão como é o desabrochar? Ou a borboleta transmitir à crisálida a sensação de voar?

Assim, como poderiam as minhas palavras fazer-vos sentir algo que apenas experimentei ao vos ver nascer?

Sabei, entretanto, que sois parte de mim.

E os vossos risos, como as vossas lágrimas, ecoam em meu coração; e são, muitas vezes, a causa dos meus próprios risos ou das minhas próprias lágrimas.

Acreditai que o meu maior sonho é ver realizados os vossos sonhos; e, assim como tendes as vossas esperanças, sois as minhas esperanças.

Um dia partireis, pois a vida vos reclama; e não é a mim que pertenceis, mas ao mundo e a vós mesmos. Pois ninguém pertence senão a seus próprios pensamentos e anseios.

Todavia, deveis saber que sempre podereis retornar aos meus braços, como jamais vos afastareis do meu coração. Porque não foi unicamente o ser que eu vos dei, mas também o meu amor.

E, assim, não sois apenas os filhos do meu corpo.

Mas do meu verdadeiro Eu.

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(Texto do livro A Sabedoria de Hassan, 1993)

Imagem da internet


sexta-feira, 7 de março de 2025

A VERDADE DE CADA UM

 



Atentai para os vossos sentidos. 

E para as vossas emoções.

Buscai, antes de tudo, sentir.

Atentai para uma manhã de sol, e uma noite de lua. Deixai que o vosso corpo sinta o calor do sol e o frescor da noite.

Atentai para o milagre da gravidez. E observai como uma rosa brota; como do botão surge a beleza, que vos encanta o coração.

E atentai para as vossas próprias reações. Observai como a beleza vos toca, como vos desperta emoções que fogem ao domínio dos sentidos.

 Atentai para tudo isto.

E percebereis que, em vós, existe algo que foge ao domínio do corpo. E vos encontra em vosso verdadeiro Eu.

 Assim, sabereis que sois mais do que pensais.

 Pois, em verdade, viveis em função do momento.

E ele não é mais do que um momento; uma gota perdida no infinito oceano que é a Vida.

Aprendei a ver a Verdade.

E esta vos ensina que transcendeis ao corpo.

E sois mais do que os vossos sentidos, do que as vossas passageiras vontades. Porque a Verdade não reside em vosso corpo, mas em vosso verdadeiro Eu.

E, confusamente, o percebeis.

Estais sempre em busca do que sois.

E jamais vos encontrais. Porque vos procurais onde pensais existir. É quando a Verdade se perde entre vossas ilusões.

Assim, julgais a vossa beleza pelas reações que desperta entre os que vos cercam; e a vossa inteligência pelos erros e acertos do dia-a-dia. E vos enganais, porque a beleza não está no corpo, nem a inteligência onde os homens julgam descobri-la.

Sois o que sois. E não adianta vos buscardes.

Pois, enquanto o fizerdes, não vos encontrareis. Enquanto vos virdes pelos olhos dos outros, jamais vos vereis como sois.

Eis que cada um é como é. E deve procurar apenas a sua verdade.

Pois, para ele, essa é a verdade maior.

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(Do meu livro Hassan, 2018. Em breve, na Amazon) 

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

ORAÇÃO DA HUMILDADE

 


Milhões de seres humanos existem sobre a Terra.

E por que haveria eu de julgar-me melhor que qualquer um deles?

Acaso não temos a mesma essência, não somos filhos do mesmo Pai? E não possui cada um de nós um verdadeiro Eu?

Que eu seja como o junco, que não afronta o vento, mas antes lhe cede a passagem; pois o carvalho, que julga poder detê-lo, muitas vezes tomba durante a desnecessária luta.

Que a humildade não se afaste de meu coração, pois a presunção leva à prepotência e na sua origem está a dúvida do próprio valor; o que menospreza os outros é aquele que não tem certeza da própria serventia.

Que os meus lábios se calem, antes de proferir palavras que humilhem os meus irmãos. Pois aquele que ao seu redor semeia ofensas, acabará por colher a solidão.

Que jamais venha eu a fazer mau juízo de alguém, porque cada homem projeta nos outros o que julga de si mesmo. E que os meus pés não pisem sobre os meus irmãos, mas apenas sobre os seus sofrimentos.

Eis que não desejo a pompa e a glória terrenas, pois as suas fanfarras ensurdecem os ouvidos humanos para as verdades da vida. Mas, se ao topo me conduzir o destino, que possa eu continuar amigo dos meus amigos e coerente com as minhas verdades.

Que jamais se turve a minha alma, na mentirosa embriaguez do poder. Pois somos o que somos, não o que julgamos possuir.

Será maior, perante o Pai, o filho que de mais posses desfruta? E o que fará de suas terras, do seu dinheiro e de todos os seus bens, durante a Grande Viagem?

E será, acaso, mais feliz aquele que se acostuma a mandar? O que fará, quando ninguém mais houver para obedecer às suas ordens?

Infeliz daquele que dedica as suas forças a semear aparências de poder, que se desfarão nas águas do tempo.

Pois as verdadeiras sementes são eternas, desde o início do homem sobre o mundo. E, na sua aparente simplicidade, sobrevivem a todos os tiranos que um dia se julgaram deuses.

Por isto, que eu possa eu plantar sempre ao meu redor:

- o amor

- a amizade

- a tolerância

- a compreensão.

Que sejam as minhas palavras como a brisa que retempera, não como o furacão que destrói.

Que persista em mim o respeito aos meus irmãos, para que deles eu obtenha o respeito. E não o temor, que é apenas o ódio sob a máscara do medo.

E que em mim sempre exista a humildade.

Pois é ela o caminho para a verdadeira grandeza.

Vídeo

(Publicado em A Sabedoria de Hassan, 1993) 

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