O Árabe

Idéias, sentimentos, emoções. Oásis que nos ajudam a atravessar os trechos desérticos da vida...

sábado, 28 de junho de 2008

DOS ERROS E DAS MENTIRAS

A mentira não é a negação da verdade, mas o seu adiamento. Como a nuvem de chuva não apaga o brilho do sol, apenas o oculta por um instante.

E nasce, sobretudo, do medo; na raiz de cada mentira, existe o desejo de escapar a um sofrimento. Assim a mentira é, antes de tudo, inútil: por que adiar o sofrimento de hoje, para recebê-lo em dobro amanhã?

Entretanto, é assim que somos: vivemos o hoje, e o amanhã se nos afigura como um porto distante, ao qual não necessitaremos chegar. Porque o futuro nos aparece entre a névoa das esperanças, como o passado se perde na neblina do esquecimento.

Aquele que mente, confia no tempo para consertar o seu erro; como o beduíno imprevidente confia em encontrar um oásis, antes que a sede ponha fim à sua vida. Todavia, o tempo não acoberta os nossos erros; como os oásis não surgem por milagre no deserto.

Assim, mais sábio seria a um não haver errado; e ao outro ter enchido o seu cantil, antes de iniciar a jornada. Porém não somos sábios, mas homens; cabe, portanto, ao mentiroso reconhecer o seu erro, e ao beduíno esmolar um pouco de água da caravana que encontra em seu caminho.

Um e outro dependerão da caridade alheia, para obter o que precisam. E, em verdade, é mais fácil para o homem dar um pouco de sua água, do que conceder o seu perdão. Preferimos dar do que possuímos, a ceder de nossos sentimentos e convicções.

É o medo, e não o erro, o que causa a mentira; porém, é no próprio medo que reside o maior castigo pelo erro que se possa ter cometido. Aquele que se entrega à mentira entrega-se ao medo; ao acalentar o medo de ser descoberto, sacrifica a própria paz. E que castigo pior pode haver, para o homem, do que se afastar do seu Eu maior?

Ao assumir os nossos erros, e aceitar os sofrimentos que nos possam trazer, podemos libertar-nos do medo. Entretanto, aquele que busca a Verdade deve exercitar a humildade e a tolerância: a humildade, para saber que todos erramos; e a tolerância, para compreender os erros de outrem.

Sejamos tolerantes, e ninguém mentirá para nós. É a Verdade, e não a mentira, que encontra guarida no coração do Universo, onde reside o nosso Eu maior.

A mentira não é natural no ser humano. Ninguém irá mentir, se souber que o seu erro encontrará o refrigério da compreensão, e a libertação do perdão.

Um dia, o medo e a mentira serão banidos dentre nós.

E o Amor existirá, realmente, em nossos corações...

sexta-feira, 13 de junho de 2008

A CRIANÇA E O BARQUEIRO

O barqueiro, que não tem poderes sobre o vento, determina o rumo do seu barco ao posicionar as suas velas.

A todos os dias, em nossas vidas, o destino coloca novas escolhas. E, se não podemos comandar os ventos do destino, devemos colocar as nossas velas no rumo da felicidade

Pois, se somos os responsáveis por nossas próprias escolhas, que justiça existe em culpar a outrem pelos seus resultados?

As lágrimas e os sorrisos são os frutos das sementes que plantamos. Precisamos aprender esta verdade, para que possamos escolher os nossos frutos.

Entretanto, não é assim que fazemos. E, quando sobrevêm as amarguras, não buscamos o consolo da resignação, mas a intranqüilidade da revolta. Como o viajante fatigado, que despreza o repouso do leito pelas agitações da vida noturna.

Vivemos o hoje, como se o amanhã não fosse existir. Esquecemos que o nosso hoje é apenas o futuro de ontem, e será o passado de amanhã. O hoje é o que ontem fizemos, e o amanhã será o que hoje dele fizermos.

Ao nos revoltarmos, pelo sofrimento de hoje, muitas vezes estamos construindo a mágoa do amanhã. As atitudes insensatas, que a revolta nos sugere, podem gerar os espinhos que amanhã irão ferir mais profundamente a nossa alma.

A verdade é que sempre buscamos culpados, para as adversidades que nos visitam. O orgulho nos impede de ver que criamos as nossas próprias armadilhas, e nada é mais natural do que nelas cairmos.

Aprender a viver, é como aprender a andar: é preciso cair muitas vezes, para atingir o conhecimento do equilíbrio. Entretanto, a criança que cai não busca culpados pela queda: apenas se levanta e, um pouco mais sábia, volta a ensaiar os seus passos; por isto, é mais curto o seu aprendizado.

Esta é a humildade que nos falta. A humildade de assumir os nossos erros, para que não os vejamos como razões de vergonha, mas como fontes de conhecimento. Pois não é através da vergonha que aprendemos, mas da compreensão.

Entre os ventos do destino, podemos decidir o rumo das nossas vidas.

Mas é preciso ter a humildade da criança, para alcançar a sabedoria do barqueiro.

terça-feira, 3 de junho de 2008

O APRENDIZADO DA VIDA

Não podemos dominar a vida, mas precisamos aprender a viver.

Como não dominamos o mar, mas aprendemos a respeitar as suas leis, para que possamos desfrutar das suas ondas.

Costumamos pensar que podemos controlar a nossa vida, e este é o primeiro erro que cometemos. Porque a vida, como o mar, tem as suas próprias leis e as suas ondas imprevistas.

Mas não é este, afinal, o seu maior encanto? O deserto não seria de uma monotonia atroz, se o sopro do vento não modificasse a cada dia as suas dunas? E como seriam as nossas vidas, sem os imprevistos que o destino nos traz?

Muitas vezes nos entregamos à revolta, quando a vida modifica os nossos planos. Entretanto, é nas dificuldades que mais aprendemos; se enfrentarmos a luta, a amarga preocupação de hoje trará o doce sabor da vitória de amanhã.

Em cada ser humano, existe a força de que necessita. E existem, também, as fraquezas que precisa vencer, para atingir a plenitude dessa força.

Dizem os pessimistas que a felicidade não existe; e, ao dizê-lo, esquecem de todos os momentos em que a receberam em seus corações.

E dizem os otimistas que a felicidade pode ser eterna. Esquecem que a felicidade é um estado de espírito, como a alegria e o amor; esperar que seja perene, é como acreditar que o vento possa soprar sempre na mesma direção.

A verdade é que nenhum de nós sente as mesmas emoções, todos os dias. O nosso Eu maior é livre, como a Força que o criou. E, assim como aprendemos a direcionar o vento, para que mova os nossos moinhos, precisamos direcionar a nós mesmos, para que mais rapidamente possamos atingir o fim do caminho.

Direcionar o nosso Eu, não é restringir a sua liberdade: é, antes, conceder-lhe uma liberdade maior, integrando-o ao infinito do Universo. É da responsabilidade plena, que deriva a plena Liberdade; e ninguém pode atingi-la sem o Conhecimento.

Nenhum homem será realmente livre, enquanto aos seus ouvidos ressoarem os grilhões de outrem. Como nenhuma gota do mar será inteiramente pura, enquanto existir a água poluída ao seu redor.

Entretanto, é pela purificação de uma gota que se inicia a purificação do mar. E pelo brilho da primeira estrela que se anuncia o belo espetáculo das constelações, reluzindo no céu noturno. Como é o primeiro raio de sol que afasta o escuro da noite, e traz o esplendor de um novo dia.

Juntos, executamos a Sinfonia. E o Maestro não descansará, enquanto as notas não estiverem perfeitas. Entretanto, não é Ele quem afinará os nossos instrumentos; nem tomará das nossas mãos, para obrigar-nos a extrair os acordes corretos. Ou não seríamos músicos, mas escravos; cada músico precisa tocar por si mesmo, para que seja plena a melodia.

É por isto, que não podemos dominar o que chamamos de vida: cada um de nossos momentos, cada uma de nossas caminhadas sobre a terra, não passa de um novo ensaio, para que possamos executar a Sinfonia do Universo.

A Sinfonia da Vida.

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