O Árabe

Idéias, sentimentos, emoções. Oásis que nos ajudam a atravessar os trechos desérticos da vida...

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

AMORES EXISTEM




Amores existem que se perdem no tempo.
Que sepultamos sob as dunas da vida. Que se perdem entre as nossas lembranças, porque nada nos acrescentam. Como aves passageiras, não deixam rastros em nossa alma.
São amores de uma noite, de alguns dias ou até de muito anos. Mas que se perderam em sua própria inconsistência; como a espuma que mansamente se vai, enquanto a onda prossegue.
São amores que talvez não tenham sido amores; mas a voz da nossa própria carência, a voz das nossas próprias esperanças. Amores nus, vestidos apenas com as nossas ilusões.
Que nos fizeram delirar, em horas de paixão, e atravessar noites insones, entre a saudade e o desejo. Que coloriram as nossas vidas, que ocuparam os nossos sonhos.
Amores que preencheram o nosso mundo; que nos fizeram descobrir novos horizontes de alegria e sofrimento. Chamas que se transformaram em brasas, hoje cobertas pelas próprias cinzas.
Amores que se tornaram desamores; carinhos que se tornaram agressões, paixão que se tornou indiferença, compreensão que se tornou impaciência, saudade que se tornou alívio.
E, entretanto, amores existem que não nos abandonam. Que permanecem impressos em nossa alma, que rolam em nossas lágrimas e brilham em nossos sorrisos.
Amores que iluminam a nossa solidão, que nos fazem felizes em meio à saudade; amores que o tempo não leva, porque guardados para sempre estão em nossos corações.
Estes são os verdadeiros amores. E felizes daqueles que os tenham encontrado, ainda que por apenas um dia e uma noite; porque a sua lembrança preencherá todos os dias e todas as noites.
Estes são os verdadeiros amores. E, como o vento do deserto modifica as dunas, haverão de modificar as nossas ideias sobre a vida; porque nos mostrarão o sentido da Vida.
Estes são os verdadeiros amores. E haveremos de recordá-los em cada estação, em cada perfume, em cada música, em cada palavra, em cada lugar onde os tivermos vivido.
Porque estarão em nós. E farão brilhar os nossos olhos, e aquecerão o nosso coração, e nos farão sorrir por entre as lágrimas, de cada vez que os revivermos em nossas lembranças.
Amores existem que se perdem no tempo.
E outros existem que nos fazem perder a noção do tempo.  

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A VERDADE E A LIBERDADE


Não deveis mentir aos vossos amigos.
Pois a mentira carrega, nas asas negras da decepção, a sua confiança para longe de vós. E mais difícil do que recompor a porcelana quebrada é fazer reviver a confiança traída.
Sede verdadeiros, portanto. Bem vos ensina a sabedoria popular que é melhor corar, ao dizer uma verdade difícil, que empalidecer ao ser apanhado em uma mentira.
Que seja esta a vossa diretriz. Porque o homem é escravo de seus hábitos; aquele que se acostuma a proceder de determinada forma, dificilmente mudará o seu comportamento.
Acostumai-vos à verdade. E vereis que, longe de dificultar a vossa vida, ela será a lâmpada a iluminar o vosso caminho e orientar os vossos passos, evitando as vossas quedas.
Acostumai-vos à verdade; e o medo se afastará de vossas almas. Porque o medo é, em si mesmo, uma mentira; e em vós não encontrará guarida, se nada tiverdes a esconder.
Acostumai-vos à verdade. E descobrireis que ela não é a pedra inclemente a magoar um coração, mas o dedo amigo a apontar os senões que cada um de vós necessita corrigir.
Abrigai em vós a verdade. Cuidai, entretanto, para não a brandirdes como uma arma, pois assim em ofensa a tornareis; ofertai-a, antes, como uma dádiva do vosso coração. 
Lembrai-vos que a verdade não necessita de palavras duras ou tons exaltados, para se expressar. Ela é como a água, que suavemente preenche todos os espaços vazios.
Por isto a sua voz se faz ouvir em todas as almas e cala fundo em todos os corações. Por isto a verdade sobrevive ao tempo e vos acompanha pela eternidade que vos pertence.
Recordai também, entretanto, que cada um de vós tem a sua própria verdade; e a cada um compete respeitar a verdade alheia, como quereis que seja a vossa respeitada.
Porque ninguém, senão o próprio homem, conhece os seus sentimentos e a motivação das suas ações. E o maior ignorante é aquele que se arvora a julgar os seus irmãos.
Buscai as verdades de alguém, se quereis entender as suas atitudes; é assim que em vós mesmos fareis nascer a compreensão, que vos conduz à tolerância e à paz.
Cultivai a verdade, sempre. Porque é através dela que talvez vos seja dado entender o sentido da Vida, ouvir a canção do Universo e descobrir a verdadeira liberdade.
A liberdade do vosso verdadeiro Eu. 

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

A PAIXÃO E O AMOR



É preciso que vos anime a paixão.
Porque é só assim que vos sentis realmente vivos. Que o sangue corre mais rápido por vossas veias, que os vossos pensamentos fervilham, que mais acolhedor vos parece o mundo.
Porque a paixão é para a vossa alma como o vento é para o oceano; quanto mais forte o açoita, mais belas e encapeladas são as suas ondas e mais difícil se torna contê-las.
E a paixão é para os vossos amores como o papel colorido e alegre que ornamenta os pacotes e muitas vezes os faz mais atraentes que os próprios presentes neles contidos.
A paixão está na raiz dos vossos sonhos e na nascente das vossas desilusões. E, porque é imortal em vós, faz com que nos vossos caminhos se sucedam os sonhos e as desilusões.
Necessitais, sim, da paixão. Porque é dela que nascem os grandes sonhos e são eles que fazem surgir as grandes realizações. É a paixão que vos move, e move o mundo através de vós.
Necessitais da paixão. Porque não vos é dado viver sem amor e o amor sem a paixão é como a brisa suave do crepúsculo, que vos acaricia o rosto, mas não despenteia os vossos cabelos.
Amor sem paixão é como a cinza ainda morna, um calor ameno que não vos incendeia o coração. É como a amizade, que vos traz a segurança da companhia, mas não o encanto do seu mistério.
A paixão é como o fogo do sol, a incendiar o horizonte e combater o escuro da noite. E como ele se apagará com o tempo, para que o vosso coração possa repousar na paz da razão.
A paixão é como o ciclone que vos arrebata e transporta aos céus; do amor brotam as asas que vos permitirão planar e descer mansamente, quando um dia se extinguir a força do vento.
Entregar-se à paixão é como perseguir um sonho. É estender as mãos para segurar uma miragem; é encontrar em um beijo todos os sabores do mundo, em um corpo todo o prazer do universo.
Entregar-se ao amor é viver um sonho. É encontrar-se em alguém; é acreditar em um mundo melhor, é descobrir em seu verdadeiro Eu a força de compreender e caminhar junto. 
A paixão tem o seu mundo próprio; de cores mais vivas, de emoções mais intensas, de elevadas montanhas e profundos abismos. Um mundo onde o tempo e o espaço se confundem.
Também o amor tem o seu próprio mundo. E nele as cores são mais suaves, as melodias mais doces, as flores mais perfumadas, mais cristalinos os riachos, mais amenas as planícies.
Necessitais da paixão. Para que possais descobrir o amor que existe em vós.     

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

HÁ DIAS ASSIM


Sim, há dias assim.

Em que nos invade a nostalgia de algo que não conhecemos, a saudade de um tempo que não vivemos. Em que nos apetece caminhar sob a chuva, sentir o cheiro gostoso da terra molhada.

Um dia de sorrateira preguiça; quando nos furtamos ao trabalho e buscamos a doçura da inatividade total. Um dia em que olhamos para o vazio e nos integramos à chuva que cai.

Um dia para sentar num banco de praça; para abrir o guarda-chuva e ouvir o tamborilar das gotas, enquanto o pensamento viaja pelo passado e sonhos imprecisos visitam o futuro.

Um dia para não pensar na vida. Para abandonar as preocupações e os cuidados, para esquecer o mundo e as suas exigências. Um dia para não ser; um dia para apenas viver.

Um dia sem dores e sem alegrias; sem solidão e sem amores, sem direitos e sem deveres. Um dia perdido em nossas vidas, um hiato no tempo; um dia que esqueceremos amanhã.

Um dia com a irresponsabilidade da infância e o desapego da velhice. Em que não existem regras, em que não abrigamos remorsos nem esperanças, em que nos perdemos de nós.

Um dia em que sentimos a nossa transitoriedade, enquanto a canção da Eternidade se faz ouvir em nossos corações; em que nos sentimos parte do Universo que nos cerca.

Um dia em que o orgulho e os preconceitos perdem toda razão de ser. Em que o próprio tempo não existe; em que a paz não é uma conquista, mas a forma natural de viver.

Um dia sem horas, sem horários, sem convenções e restrições. Um dia sem tabus, sem crenças e sem incredulidades, sem certezas e sem dúvidas. Sem perguntas e sem respostas.

Um dia para não amar, um dia para não odiar. Um dia sem medos e sem coragem; sem desafios, sem vitórias e sem derrotas. Um dia para respirar, andar e descansar. Um dia para existir.

Um dia sem pais e sem filhos, sem laços e sem asas. Sem o sagrado e o profano; um dia cinzento, onde tudo se confunde na mesma penumbra e as cores não atraem os nossos olhos.

Sim, há dias assim.

Em que a Vida repousa em nós.    


Texto inspirado pela magnífica foto do site 1000 Imagens. 

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