O CAMINHO E A VAIDADE
Não sabeis, acaso, que o tempo carrega nas suas águas todas as aparências? E que nada perdura para sempre,
senão o Conhecimento que adquiris ao longo do caminho?
Sim; o Conhecimento é a única
bagagem que podereis levar, quando da Grande Viagem. Tudo o mais aqui ficará,
porque nada são senão acessórios de cada etapa da jornada.
Priorizai, portanto, o
aprendizado; e, antes de buscar a perfeição de vossos corpos, fazei por
aperfeiçoar as vossas almas. Porque serão elas a adentrar a Mansão do Amanhã.
Não é assim que fazeis, porém.
E vos tornais escravos da beleza física, que o tempo destrói, quando deveríeis
atentar para as belezas do espírito, a quem pertence a Eternidade.
Bela é a venenosa serpente
colorida, que se destaca entre o verde da mata. Quem, todavia, em sã
consciência a tomaria ao colo, ou a acariciaria em suas mãos desnudas?
Belo é o oceano em fúria,
entre o fragor dos relâmpagos que rasgam a escuridão do céu noturno. E,
entretanto, a sua beleza representa a morte para o navegante indefeso.
Belo é o frasco multifacetado,
em cujas arestas a luz se estilhaça nos mais coloridos e atraentes desenhos.
Sob esta beleza, contudo, muitas vezes se oculta o veneno fatal.
Arredai de vós a submissão aos
ditames da moda. Porque, se eterna é a vossa essência, o mesmo não acontece ao
corpo, que apenas vos serve durante a caminhada.
Observai a Natureza que vos
cerca. E vereis que as árvores são verdes no verão, amareladas no outono e nuas
no rigor do inverno, até que na primavera o verde ressurja.
Tende presente que assim
acontece a tudo que existe. E que, como às arvores ocorre, o passar do tempo
virá modificar também os vossos corpos, até que retorne a primavera.
De que vos serve o culto à
aparência, se não a preservareis através dos anos? De que vos adianta edificar
a mais bela moradia, se movediço é o terreno onde se assenta?
Insensato é aquele que se vê
pelos olhos dos outros, e assim se distancia do seu verdadeiro Eu; sábio é o
homem que faz do seu corpo o templo do aprendizado.
Afastai de vós a vaidade. Zelai,
sim, por vossos corpos; porque deles necessitais, para concluir a caminhada. Que
seja a alma, porém, o vosso maior cuidado.
É ela a verdadeira razão da
jornada.