O Árabe

Idéias, sentimentos, emoções. Oásis que nos ajudam a atravessar os trechos desérticos da vida...

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

O CAMINHO E A VAIDADE

 

Abrigais a vaidade.
Não sabeis, acaso, que o tempo carrega nas suas águas todas as aparências? E que nada perdura para sempre, senão o Conhecimento que adquiris ao longo do caminho?
Sim; o Conhecimento é a única bagagem que podereis levar, quando da Grande Viagem. Tudo o mais aqui ficará, porque nada são senão acessórios de cada etapa da jornada.
Priorizai, portanto, o aprendizado; e, antes de buscar a perfeição de vossos corpos, fazei por aperfeiçoar as vossas almas. Porque serão elas a adentrar a Mansão do Amanhã.
Não é assim que fazeis, porém. E vos tornais escravos da beleza física, que o tempo destrói, quando deveríeis atentar para as belezas do espírito, a quem pertence a Eternidade.
Bela é a venenosa serpente colorida, que se destaca entre o verde da mata. Quem, todavia, em sã consciência a tomaria ao colo, ou a acariciaria em suas mãos desnudas?
Belo é o oceano em fúria, entre o fragor dos relâmpagos que rasgam a escuridão do céu noturno. E, entretanto, a sua beleza representa a morte para o navegante indefeso.
Belo é o frasco multifacetado, em cujas arestas a luz se estilhaça nos mais coloridos e atraentes desenhos. Sob esta beleza, contudo, muitas vezes se oculta o veneno fatal.
Arredai de vós a submissão aos ditames da moda. Porque, se eterna é a vossa essência, o mesmo não acontece ao corpo, que apenas vos serve durante a caminhada.
Observai a Natureza que vos cerca. E vereis que as árvores são verdes no verão, amareladas no outono e nuas no rigor do inverno, até que na primavera o verde ressurja.
Tende presente que assim acontece a tudo que existe. E que, como às arvores ocorre, o passar do tempo virá modificar também os vossos corpos, até que retorne a primavera.   
De que vos serve o culto à aparência, se não a preservareis através dos anos? De que vos adianta edificar a mais bela moradia, se movediço é o terreno onde se assenta?
Insensato é aquele que se vê pelos olhos dos outros, e assim se distancia do seu verdadeiro Eu; sábio é o homem que faz do seu corpo o templo do aprendizado.
Afastai de vós a vaidade. Zelai, sim, por vossos corpos; porque deles necessitais, para concluir a caminhada. Que seja a alma, porém, o vosso maior cuidado.
É ela a verdadeira razão da jornada.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

A CANÇÃO DA CONFIANÇA



Deveis depor as vossas armas.
E afastar os vossos escudos, e derrubar os vossos muros; aterrar os vossos fossos e abaixar as vossas pontes levadiças. Porque só assim caminhareis realmente juntos.
E juntos é que deveis caminhar. Pois mais leve se torna a jornada para aquele que conta com um braço onde se possa apoiar, nos trechos mais difíceis do caminho.
Mais fácil é subir a montanha, se a mão carinhosa vos sustenta durante a escalada; e mais bela se torna a vista do seu cume, quando com alguém a podeis repartir.
Eis que vos queixais da solidão; e, entretanto a procurais, ao magoar os vossos semelhantes. Porque ninguém colherá rosas, enquanto ao seu redor semear espinhos.
Assim, a agressividade apenas afastará de vós aqueles que vos cercam. Pois o homem deseja o toque suave do veludo, mas foge ao contato ríspido do cacto espinhento.
Melhor é confiar nos outros, correndo embora o perigo da decepção, do que desconfiar de todos. Jamais podereis aliviar a sede, se julgardes envenenada cada nascente.       
Como não provaríeis o pão, se estragado sempre vos parecesse o trigo; nem conheceríeis a delícia do mel, se não vos houvésseis arriscado às picadas de algumas abelhas.
Melhor é passar por ingênuo, do que mostrar-se intolerante. Porque todos apreciam a brisa que acaricia a pele, mas temem o vendaval que espalha a destruição.
Confiai. Este não é apenas o melhor caminho para fugirdes às agruras da solidão; mas também o melhor testemunho que podeis prestar sobre o vosso caráter.       
Desarmai os vossos espíritos; pois aquele que desconfia dos seus irmãos, antes de tudo desconfia de si mesmo. Como está escrito, o bom julgador por si julga os outros
Cada um vê os outros à sua imagem e semelhança. E o homem que espera receber o pior das pessoas que o cercam é aquele que oferece o pior de si próprio.
Em verdade, eu vos digo que não atentais senão para as coisas que existem em vós; pois o cego, que jamais pôde contemplar a montanha, não faz a menor ideia da sua aparência.
E o surdo, a quem desde o nascimento são negados os sons, torna-se incapaz de falar; não porque lhe falte a voz, mas por desconhecer a existência da palavra.
Confiai e deponde as vossas armas.
Porque é assim que a paz se fará entre vós. 

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

A BALADA DA FELICIDADE

 


Sim; a felicidade pode ser apenas um sonho.
Mas, como acontece com os sonhos de uma noite, o seu encanto nos ajuda a atravessar as horas frias do dia. E as suas cores amenizam o cinza da realidade que nos cerca.
Felicidade é o amor, quando começa a nascer; é a promessa no brilho de um olhar. É a inquietação que precede o primeiro roçar de mãos, o primeiro encontro, o primeiro beijo,
Está na paixão de um abraço. E não é a explosão do orgasmo, mas a sensação de ternura infinita que a ele se segue, enquanto os corpos repousam, cansados do prazer.
Felicidade não é a ambição satisfeita, mas a sabedoria de não desejar o impossível. É plantar com alegria o trigo, sabendo que dele virá o pão dourado de amanhã.
Não é ter, mas construir; não é impor a vontade, mas semear a ideia. Não está na canção, mas em cada nota; nem no poema, mas em cada palavra. Nem no artista, mas na obra.
Felicidade é crer; é imaginar, é tornar possível. Não está nas asas, mas no voo; não está na lua, mas no luar; não está no amigo, mas no apoio reconfortante da amizade.    
Felicidade é liberdade; é poder viajar nos sonhos, não alimentar preconceitos, não amargar arrependimentos. É não estar preso ao ontem, nem temer o amanhã.   
É aproveitar cada momento; saborear a doce alegria de cada sorriso e o sal de cada lágrima. É entregar-se às emoções; é acreditar no futuro, sentir a Vida que pulsa ao redor.
Felicidade é um momento de solidão, uma música suave que se ouve ao longe; é a brisa meiga que afaga o rosto, o sol que mergulha no horizonte, a água que mata a sede.  
É a beleza de uma rosa, o sorriso de uma criança, um regato cristalino; é a nuvem branca que forma figuras variáveis aos caprichos do vento, no céu azul de verão.
Felicidade não dura para sempre; mas vence o tempo e faz eterno cada segundo em que visita a nossa alma. Não é o objetivo do aprendizado, mas é filha do Conhecimento.
Felicidade é ser capaz de perdoar e esquecer; é recordar os entes queridos que se foram e reviver momentos inesquecíveis que as lembranças roubam ao tempo que passou.
Felicidade é o amanhecer radioso, após uma boa noite de sono. É o canto do pássaro, o latido do cão que nos recebe à porta de casa, o som da chuva que corre na vidraça.
Felicidade é viver.  

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

GOTAS PELO CAMINHO



Afastai de vós o orgulho.
E desfrutareis da paz. Pois a inquietação não visita o homem que tem consciência das suas limitações; como não se frustra o pássaro, por não nadar como os peixes.
Abandonai os preconceitos.
E descobrireis um novo mundo; onde os homens não são iguais, porém cada um tem o direito de ser como é e todos se dão as mãos, como irmãos que caminham sobre a Terra.
Vencei a tentação de mentir.
E nada mais tereis a esconder, mas podereis revelar-vos como realmente sois; e conquistareis a confiança dos vossos irmãos, que acreditarão ao ouvir as vossas palavras.
Combatei os vossos medos.
Pois a nada deveis temer tanto quanto ao próprio medo, que vos tolhe as asas e agrilhoa a uma falsa segurança; coragem não é ignorar o medo, mas seguir em frente apesar dele.
Sede leais aos vossos amigos.
Porque neles necessitais confiar; e como confiareis em alguém que em vós não possa confiar? Acaso vos atreveríeis a beber de um rio cujas águas vós mesmos tenhais envenenado?
Descartai a intolerância.
Pois, longe de acrescentar-vos algo, ela é como uma venda sobre os vossos olhos. E devereis retirá-la, para que novas ideias possam chegar a vós e alargar os vossos horizontes.
Furtai-vos à inveja.
Pois o homem mais feliz não é aquele que mais possui, mas o que melhor aproveita a sua noite de sono. Como o melhor poço não é o mais profundo, mas o de água mais pura.
Negai-vos ao pessimismo.
Porque ele não vos indicará um caminho, mas fará com que todos pareçam fechados para vós. E é apenas seguindo em frente, que podereis deixar para trás os vossos problemas.
Buscai o amor.
Pois é ele que vos pode mostrar o sentido da Vida; e de nada mais precisareis, se o encontrardes em vós. O amor será o vosso guia e andará convosco, por toda a jornada.
Até o Coração do Universo.        

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