A VOSSA SOLIDÃO
Eu percebo a vossa solidão.
Por
detrás de vossos rostos sorridentes, das portas de vossas casas. Das mesas
lotadas de vossos bares, da música estridente de vossas festas, da vossa dependência de companhia.
Eu
percebo a solidão que vos separa, em meio a vossas próprias famílias. Que se esconde
atrás de vossas juras de amor, que espreita em vossas almas, que tentais afogar
em cada beijo.
A
solidão que vos atinge nas horas mortas da noite, quando cessam os ruídos do
mundo. Que se faz mais presente quando todos dormem, e ficais a sós com os
vossos pensamentos.
A
solidão que buscais afastar em cada novo sonho. Que julgais expulsar de vossos
lençóis, entre sussurros e gemidos de prazer, mas se esconde sob vossas camas e retorna
após o orgasmo.
A
solidão que chora em cada verso sentido que canta o amor; que inspira as mais lindas
canções e os textos mais comoventes. A solidão que procurais, em vão, arrancar
de vossos dias.
Eu
percebo a vossa solidão. Aquela que, como a sombra, vos acompanha por todos
os cantos e em todas as horas, embora possa mostrar-se apenas às vezes, quando a luz o
permite.
Eu
percebo a vossa solidão. Aquela que não se dissolve nas vossas lágrimas sofridas, por
mais que choreis; e que coloca uma nesga de medo e tristeza em todos os vossos
sorrisos.
Eu
percebo a vossa solidão. Vejo que, em um mundo que se torna cada vez menor,
estais a cada dia mais separados e distantes uns dos outros; porque mais e mais vos
afastais de vós mesmos.
Não
é no sucesso, que encontrareis a cura para a solidão; nem na riqueza, nem no
poder e nem mesmo em afagos e carícias passageiras, que não vão além da vossa pele e da
vossa carne.
Pois
não é em vossos corpos, que sentis a solidão; mas em vossa alma. Estareis sós,
ainda que andeis em meio a multidões, enquanto não aceitardes a vossa própria companhia.
Assim
eu vos tenho dito. Mas insistis em esconder-vos atrás de vossos medos e de
vosso egoísmo, esquecidos que de nada adianta sorrir para o mundo, se a solidão dói em vosso verdadeiro Eu.
É
em vós, e não naqueles que vos cercam, que está a sensação de companhia. Sempre
vos sentireis sós, a menos que sejais capazes de amar e, verdadeiramente, confiar
em alguém.
Guardai
convosco esta verdade. Pois necessitais vencer os vossos medos e abandonar a falsa proteção dos
vossos muros, para que possais descobrir quão reconfortante é sentir-se
acompanhado.
Só
assim, vencereis a vossa solidão.
Música:
http://ohassan.dominiotemporario.com/midis/jaimevillalba-nocturne.mid