CUIDAI DOS VOSSOS AMIGOS
Deveis cuidar dos vossos amigos.
Como cuidais da água que vos dessedenta, do bálsamo que vos devolve a saúde e do alimento que vos sustenta as forças do corpo; ou do sangue, por onde corre a vida a cada pulsar do vosso coração.
Porque os amigos são como a água, a minorar a vossa sede de companhia. Neles encontrais o bálsamo para as vossas mágoas, o alimento de que necessita a vossa alma e o reconforto que vos traz novo alento ao coração.
Certo é, como bem reza o ditado, que quem encontra um amigo encontra um tesouro. Entretanto, é igualmente certo que, como os tesouros, as amizades precisam ser conservadas; ou se desfarão como poeira, ao sopro do tempo.
Pois a amizade é como o amor, sem o sentimento de posse. Por ela, sereis capazes de chorar, ou de sorrir; ou de encontrar em vós forças que desconheceis, para amparar o amigo que sofre.
Sim; como o amor, a amizade revela o que de mais nobre existe em vós. E vos faz renascer para a vida, porque as alegrias se multiplicam quando compartilhadas e as tristezas diminuem quando são divididas.
Como o amor, todavia, a amizade tem as suas exigências. Porque nada existe sobre a Terra, que se nutra de si mesmo; e os vossos sentimentos são como a chama brilhante, que cede ao vento das decepções.
Lembrai-vos, portanto, de que a frustração é proporcional às dimensões que teve a esperança. Como o vazio se faz sentir com mais força no espaço antes preenchido e a flor mais irrigada é a primeira a perecer ante o rigor da seca.
Assim, a mágoa vos atinge com maior intensidade quando causada por alguém querido. E a amizade é como a porcelana, que quando se quebra jamais voltará a ser a mesma, por menor que tenha sido a rachadura.
Porque há coisas que não se esquecem. E, se entre elas está o encanto de um momento, estão também a confiança traída, a humilhação sofrida e a decepção infligida. O tempo passado, a seta lançada, a palavra proferida e o desencanto causado, não retornam sobre os seus próprios passos.
Sede, portanto, fiéis aos vossos amigos. Recordai que o rio recebe de volta as águas que dele se evaporam, para formar as nuvens de chuva que fertilizam a terra e fazem brotar as plantas.
É dando que se recebe. A flor, que alimenta o colibri e as abelhas, tem como recompensa o transplante das suas sementes; a mão generosa colherá de volta a prosperidade que ao seu redor distribui.
A Vida é a arte do Crescimento. E este não se realiza sem a permuta, que vos traz o constante aprendizado.
Cuidai dos vossos amigos. E não mais havereis de temer a solidão.
A ilustração é mais uma bela foto do site 1.000 Imagens.