O APRENDIZADO DA SAUDADE
O Tempo nos leva os sonhos e as
pessoas.
Não
como um algoz implacável; mas como o rio que, indiferente, arrasta no seu curso
tudo aquilo que, um dia ou uma noite, o mesmo tempo arrojou às suas águas.
Sim;
nada nos leva o Tempo, além do que um dia nos trouxe. As nossas lágrimas de
hoje são o eco esmaecido dos nossos sorrisos de ontem; o que nos faz chorar é o
que nos fez sorrir.
As
nossas lágrimas durarão, até que nos chegue um novo sorriso. Então, como o calor do sol enxuga e fertiliza a terra ensopada da chuva, uma nova esperança haverá de brotar.
É
assim que é. Assim tem sido, desde o início dos tempos, na vida de todas as
pessoas. Porque a Vida, a verdadeira Vida, não é senão o caminho do
aprendizado, que leva ao Coração do Universo.
Não
devemos chorar de saudades, por nossos beijos do passado; mas recordar com
gratidão as sensações intensas que nos trouxeram, os sonhos que despertaram em
nós.
Não
devemos lastimar as mãos que se separaram, mas agradecer pelo tempo em que
juntas estiveram; em que cada afago trazia em si mesmo uma promessa de amor
eterno.
Não
devemos acalentar a frustração, pelos amores que tenhamos perdido ao longo do
caminho; mas abrigar para sempre a sensação de plenitude que trouxeram às
nossas almas.
Porque
sempre haverá beijos que já não se repetem, mãos que não mais se entrelaçam e
amores que se foram. Sempre haverá pessoas queridas que nos deixam e continuam
em nós.
Entretanto,
não é sábio acalentar a tristeza da perda, quando se pode recordar a alegria do
encontro; não é sábio mergulhar na solidão, quando se pode rememorar a
companhia.
A
vida continua, todos os dias; e por isto é preciso conservar as boas lembranças
e afastar de nós a amargura que nos trouxe a separação. Este é o aprendizado da
saudade.
Porque
as boas lembranças nos libertam, enquanto a amargura nos prende ao que se foi.
E acorrentar-se ao passado é renunciar à liberdade de viver o presente e construir
o futuro.
Sim;
o Tempo nos leva os sonhos e as pessoas.
De
cada vez que isto acontece, a nossa alma se despe das vestes que usa perante o
mundo. E nua, tímida, vigia a pequenina chama da esperança, que bruxuleia em meio à
escuridão que nos envolve.
É ela que fará brotar um novo dia.
É ela que fará brotar um novo dia.