O Árabe

Idéias, sentimentos, emoções. Oásis que nos ajudam a atravessar os trechos desérticos da vida...

sexta-feira, 29 de julho de 2011

A CANÇÃO DA CARIDADE


Abrigai em vós a caridade.


Para que não vos ofenda a máscara da fome, no rosto de vossos irmãos; nem o desespero da mão vazia que se estende, e muitas vezes colhe apenas o desprezo e o sarcasmo.


Para que a esperança possa amparar a criança abandonada, e encontrar abrigo no coração do idoso desassistido; para que o homem volte a crer em si mesmo.


A caridade sincera não é senão o Amor, despido de todo egoísmo e envergando as suas vestes mais nobres; na alegria de servir, encontra a própria recompensa.


Pois o homem generoso é como a árvore dadivosa, que faz da doação de seus frutos a razão de sua sobrevivência. Para ele, como para a árvore, reter é perecer.


E é como o rio, que fertiliza a terra às suas margens. Ao seu redor, os amigos se multiplicam; a fama de sua bondade o precede, e os anjos o receberão entre eles.


Enquanto o avarento afunda no lamaçal do próprio egoísmo, que o impede de compartilhar os bens e a alegria, e trava os seus passos no caminho do aprendizado.


Porque o medo exagerado da miséria o faz passar privações desnecessárias e suportar o tormento da sede, para economizar o alimento da sua despensa farta e a água do seu poço cheio.


E, quando chegar o seu dia, os anjos lhe voltarão as costas; e o Universo lhe pedirá contas dos bens que lhe foram dados, para que mais leve se tornasse a jornada comum.


Pois, assim como a nuvem recebe de volta a água da chuva que do chão se evapora, aquele que serve aos seus irmãos receberá multiplicados os haveres que à caridade destinar.


Tende presente esta verdade, quando na próxima esquina a criança carente vos estender a mão desamparada; e em voz trêmula, ou no silêncio eloquente da fome, apelar à vossa bondade.


Lembrai-vos, então, de vossos próprios filhos. E não vos limiteis à oferenda apressada do alimento, ou de uma simples moeda, mas envolvei-a em vosso carinho e fazei-a sentir o vosso amor.


Pois é a vós que cabe fazer brilhar em seu sorriso a luz da esperança; ou apagar de seus olhos a crença no homem e acender em seu coração a chama ardente da revolta.

Que poderá queimar o vosso futuro.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

DA INSATISFAÇÃO


A insatisfação é natural em vós.


É ela que vos conduz ao aperfeiçoamento. Porque aquele que satisfeito está com o local onde se encontra, não pensa em prosseguir a viagem; nem em afastar-se do que o cerca.


E ninguém existe, sob o sol, a quem bastem as coisas que possui. Sempre vos parecerão mais belas as vestes alheias e mais pujantes as flores no jardim ao lado do vosso.


Sempre, mais feliz vos parecerá o vizinho; mais divertidas as férias que vos narra o amigo e mais confortável a sua casa. Mais verdadeiros vos parecerão os seus amores.


É assim que é. E a insatisfação não é um mal, em si mesma; antes, a ferramenta do vosso desenvolvimento. Como a minhoca que, ao cavoucar o solo, fertiliza e faz crescer a planta.


Aceitai, portanto, esta realidade. E aprendei a conviver com ela, e a utilizá-la em vosso próprio benefício. Porque a insatisfação não é a inveja, mas o desejo de novas conquistas.


Nada existe, que seja bom ou ruim em si mesmo. A sabedoria e a ignorância, a beleza e a feiúra, a malícia e a inocência. Tudo depende do uso que de cada uma delas fizermos.


Cuidai, para que não vos domine a insatisfação; antes, a coloqueis a vosso serviço. Como fazeis à água que vos dessedenta, mas sob a qual se extinguiria a vossa vida.


Ou ao fogo que, embora prepare o terreno para o plantio que vos traz o alimento e a beleza das flores, ao sair de controle devasta a natureza ao seu redor.


No equilíbrio, estão a paz e a harmonia. Não seria prudente o homem que distribuísse todos os seus haveres; nem aquele que ao desesperado recusasse a esmola, em nome da avareza.


Como não é sábio recusar-se ao amor, para evitar o sofrimento; pois, ao fechardes a porta do vosso coração, impedireis também nele possa abrigar-se a felicidade.


E nem é sensato perder-se no amor, a ponto de esquecer a si mesmo. Quem abandona o próprio caminho, um dia a ele retornará; e chorará sobre o túmulo das suas esperanças.


Acolhei, pois, a vossa insatisfação. Mas não lhe franqueeis a vossa alma. Tratai-a, antes, como hóspede que vos é necessária, mas à qual não podeis confiar a vossa vida.


Para que não se aposse de vós.


Texto sugerido pela foto do site 1000 Imagens.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

CREPÚSCULO DA SAUDADE

Certo é que não me deixaste só.


Pois comigo ficaram as lembranças de nós. Os ecos dos risos felizes e dos nossos sussurros; das horas de companhia, quando a esperança acalentava os nossos sonhos.


Comigo ficaram também os sonhos; que, se já não são nossos, ao menos não levaste. E agora amenizam a solidão das minhas horas, em que o tempo se nega a passar.


Ao crepúsculo, eu te procuro. Ou, talvez, apenas me refugio no passado, para vencer a tristeza do presente e esquecer a saudade que me aguarda num futuro sem ti.


Quando luz e sombra se misturam, consigo voltar ao nosso mundo. Viajo no tempo, nas asas da música, que outrora te encantava e agora canta a tua ausência desta paisagem tão nossa.


Ausência? Talvez não seja esta a palavra. Pois te sinto presente em cada lugar por onde passamos juntos; em meu coração ouço a tua voz, e na primeira estrela vejo a luz do teu olhar.


E a minha alma te agradece em cada dia. Porque é graças a ti, que encontro um encanto especial em cada trecho do caminho; em cada folha de nossas árvores, em cada raio do sol que se despede.


Graças a ti, a minha alma vibra em cada nota. E sorrio, por entre as lágrimas que me escorrem pelo rosto; porque, ao me ensinares a amar, me ensinaste também os segredos da vida.


Em cada dia, abençoarei o instante em que te conheci. Porque os teus braços me arrancaram de um caminho sem luz e sem sombras, sem sobressaltos e sem plenitude.


Porque o teu corpo se tornou o meu mundo; o sagrado altar dos desejos mais profanos, que o incenso do amor purificava, para que juntos descobríssemos um universo de prazer.


Porque a tua alma soube encontrar a minha alma. E levá-la a percorrer os mais belos lugares, onde as flores da pureza desabrochavam e a ternura nos vinha sempre encantar.


Segue o teu caminho, e leva contigo o meu amor sem fim. Mas não o carregues como um fardo, que te faça vergar os ombros ao peso do passado; deixa-o, antes, iluminar o teu futuro.


Como a tua lembrança ilumina a minha vida. E desperta em mim as mais belas melodias, que flutuam à minha volta, como se não as tocassem dedos humanos, mas o meu próprio coração.


Ao crepúsculo da saudade de nós dois.

Texto inspirado pela foto do site 1.000 Imagens e pela música F Comme Femme. Link para uma belíssima tradução: http://youtu.be/zm57moP83XM.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

A LIBERDADE E OS SONHOS

Criais as vossas próprias prisões.

E vos perdeis, ao acorrentar as vossas almas à frustração dos desejos insatisfeitos. Ou ao lamentar o sonho que se foi, esquecidos da felicidade que um dia vos trouxe.

Isto eu vos tenho dito, e repetirei enquanto me quiserdes ouvir. Pois é ao chocar-se repetidamente contra a pedra, que a água aos poucos escava a caverna por onde um dia escorrerá.

E assim acontece também ao homem: é preciso que muitas vezes se repita o conselho, para que possa vencer as barreiras dos seus ouvidos e encontrar guarida em seu coração.

Guardai-vos, portanto, de lamentar as vossas desilusões. Porque a tristeza é como as nuvens cinzentas, que ao poucos se ajuntam até roubar-vos a visão do sol, que brilha no horizonte.

Participai, sim, do enterro dos vossos sonhos. Pois ninguém existe que se despeça sem tristeza dos seus momentos de alegria. Cuidai, entretanto, de sepultar também a esperança.

Pois o sonho é como a porcelana, que uma vez estilhaçada jamais voltará a ser como antes. E insensato é o homem que insiste em tropeçar novamente na mesma ilusão.

Porém, ao invés de vos entregardes à escuridão do desânimo, deveis buscar a luz de um novo sonho. Porque os sonhos são como as rosas: a cada uma que tomba, nasce um novo botão.

E os sonhos são como as estrelas: incontáveis, no céu do vosso universo. E para cada um que se apaga, outro haverá de brilhar, para iluminar a vossa caminhada.

Acreditai, portanto, nos vossos sonhos. Porque deles dependerá o tamanho e a força das vossas asas, e até onde vos poderão levar. Deles, dependem a vossa liberdade e a vossa vida.

Dos vossos sonhos, depende o tamanho do vosso mundo. Porque ninguém existe, que possa tornar realidade algo em que não acredita; ou atravessar fronteiras que não crê existirem.

Desacorrentai-vos, pois. Abandonai os vossos medos, os vossos preconceitos e os desejos desmedidos. Abraçai a tolerância e a solidariedade, para que possais entender os vossos irmãos.

Renunciai ao orgulho de impor as vossas respostas e encontrareis novas perguntas. Vivei intensamente os vossos sonhos, e não vos assustará o fantasma da desilusão.

Assim, encontrareis o caminho da liberdade.

E por ele passará o vosso verdadeiro Eu.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

AS JANELAS DE MINHA ALMA

São assim, talvez, as janelas de minha alma.

Quebradas pelas pedras, que ao longo dos anos lhes foram atiradas. Rotas as cortinas, que antes cobriam os contornos da realidade e me permitiam admirar a silhueta dos meus sonhos.

Gastas como os meus olhos, velhas como eu mesmo me sinto. Porque, em verdade, não sente o homem o desgaste do corpo, senão quando na alma se instala a velhice.

E, entretanto, jamais foi tão clara a minha visão. Nem tão atilada a minha mente, nem tão longos os meus vôos. Jamais as ideias me levaram tão longe, nem foram tão vivas as minhas lembranças.

Assim como o preso, que usa a imaginação para vencer as paredes da sua cela, o homem aprende, ao longo dos anos, a usar a experiência, para compensar as limitações da idade.

Pois quem vai mais longe não é o caminhante que tem as pernas mais fortes, mas aquele que melhor as sabe utilizar. Como o fruto mais doce não é o maior, mas o que melhor foi cultivado.

O tempo, que nos ensina a valorizar o vigor da juventude, também nos ajuda a perceber o quanto significa a experiência da velhice. Embora já não sejam tão ágeis, são mais firmes os meus passos.

O tempo, que leva as nossas alegrias e tristezas, também nos traz as lembranças que as perpetuam. E, se joga por terra as esperanças, em nosso coração preserva a saudade.

Não foram apenas dias de sol e luz, que minha alma viu passar por suas janelas. Também por elas desfilaram chuvas e tempestades; noites sem estrelas e sem lua, de completa escuridão.

Hoje, sei que não guardei apenas os momentos felizes; bom ou mau, cada instante está na minha saudade. E talvez seja mais difícil, para o homem, libertar-se das suas dores, do que abandonar as suas alegrias.

Pois o bem facilmente se vai, mas o mal resiste. Como o aroma abandona a flor, para espalhar-se pelo ar; mas a ferrugem reclama o áspero atrito da lixa, para renunciar ao ferro que corrói.

Deixai, portanto, que minha alma se assente às suas janelas. E que não se deixe intimidar pelos vidros quebrados, ou entristecer pela cortinas puídas, já a que a uns e outras não pode substituir.

Porém, que seja capaz de lançar os seus olhos para além dos limites de sua prisão. E viajar pelas mais altas montanhas e pelos mais profundos vales, ao vento cálido da manhã ou na brisa fresca do anoitecer.

Para que das minhas viagens eu vos possa contar.

Texto sugerido pela fantástica foto do site 1.000 Imagens.

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