ASAS PARTIDAS
Partidas as asas.
Entretanto, é necessário prosseguir a jornada. Porque o tempo não se detém em respeito à dor, uma ferramenta da realidade, que nos ajuda a entender a Vida.
Descalços os pés.
É preciso que se firam nas pedras do caminho. O rastro sangrento, que hoje deixamos no deserto, poderá amanhã indicar-nos a rota que ao oásis nos conduza. Assim será, em todas as nossas jornadas.
Despidas as roupas.
Nus estamos, diante do Universo. As roupas são, talvez, a primeira hipocrisia; uma forma que encontramos, para esconder o corpo aos olhos de nossos irmãos. Como escondemos os nossos sentimentos.
Cruzados os braços.
Porque muitas vezes encontramos o vazio, quando pensamos abraçar um sonho. E, entretanto, sempre seremos capazes de erguê-los, para construir novos castelos com a areia instável das esperanças.
Dobradas as pernas.
Pois nem sempre conseguem suportar o peso que o destino nos lança aos ombros. Mas precisam ter a força que nos leve em frente, para que possamos abandonar a senda da tristeza e encontrar novos caminhos.
Inclinado o rosto.
Ninguém existe, que encare sempre de frente os imprevistos que lhe traz o tempo. É preciso, às vezes, desviar os olhos, para que a lágrima possa rolar oculta pela face e sobrevenha um novo sorriso.
Soltos os cabelos.
Que entregamos ao vento, como se nele viajasse a liberdade. Como se a caricia da brisa pudesse carregar as nossas dores, em suas asas invisíveis. Como se o carinho pudesse evitar o sofrimento.
Escuridão, ao nosso redor.
E, todavia, sempre buscaremos a luz. Que poderá chegar no próximo instante, a bordo de uma nova esperança. Porque, enquanto formos capazes de acreditar, seremos capazes de voar.
Ainda que com as asas partidas.
Texto inspirado na magnífica foto, do site 1.000 Imagens.