O Árabe

Idéias, sentimentos, emoções. Oásis que nos ajudam a atravessar os trechos desérticos da vida...

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

O APRENDIZADO DO PERDÃO

 



O perdão, quando concedido entre os homens, vem quase sempre acompanhado pelo silvo do chicote; poucas vezes, encontra a suave música da compreensão.

Os nossos acertos são esquecidos, mas os nossos erros são guardados na memória daqueles a quem ofendemos, como promissórias que nos serão cobradas no futuro; e esta é uma dívida que jamais poderemos saldar, porque reside no passado. Cabe-nos, apenas, resgatar os juros da humilhação.

Em si mesmo, este perdão é uma mentira; e, como todas as mentiras, não resiste à luz da verdade. Porque não é um perdão, mas apenas a aceitação de um fato; e aquele que o concede é como o credor que não esquece o débito, mas antegoza a eterna cobrança dos juros que julga devidos.

Este não é o perdão que se mostra, mas sim a vingança que se oculta. E não é o Amor que o concede, mas o ódio que finge concedê-lo. Nele não está a compreensão que liberta, mas a revolta que escraviza.

O verdadeiro Perdão traz consigo o esquecimento. É como uma fonte de águas límpidas, a lavar de um coração a amargura do rancor e de outro o sofrimento do remorso; e, ao fazê-lo, constrói entre esses corações uma sólida ponte, que os ventos do destino jamais conseguirão lançar por terra.

O falso perdão, entretanto, é como um lodaçal coberto por uma vegetação traiçoeira, que ao menor sopro de vento exibe a sua verdadeira face. E, ao submergir a ambos, ofensor e ofendido, em suas fétidas águas, impede que os seus corações se possam encontrar na mansão da Companhia.

Melhor seria que não fosse concedido! O amor pode vencer o ódio, mas não consegue conviver com a mágoa. Porque o ódio é como o fogo, que a tudo queima nas suas efêmeras labaredas; mas a mágoa é o veneno insidioso, que traz um pouco da morte a cada dia.

Aquele que abriga as lembranças ruins do passado, conserva em seu coração a mágoa que poderia ter superado. E quem pode construir a felicidade de amanhã, convivendo com o sofrimento de ontem? O Amor não pode reluzir em nossos olhos, se a mágoa enevoa os nossos corações.

É com a alma, e não com a mente, que cada homem deve conceder o seu perdão; não para atender às necessidades do momento, mas para que o ressentimento seja expulso do seu coração. Só assim poderá deixá-lo limpo, para que nele o Amor se possa novamente abrigar.

Necessitamos do perdão, para conviver neste mundo. Porque ninguém pode ser perfeito, se caminha sobre a terra, e assim o erro é natural no homem; é através do erro, que descobrimos o acerto. Como é através da tristeza, que descobrimos o valor da felicidade.

Precisamos aprender a perdoar, porque todos necessitamos ser perdoados. E como alguém poderá confiar no perdão de outrem, se não consegue acreditar no seu próprio perdão?

Cada erro é, apenas, uma experiência a mais; e no arrependimento está o seu próprio castigo, que na verdade é apenas uma forma de acelerar o aprendizado. Mas é dentro de cada homem que deve nascer o arrependimento, pois dos castigos por outrem infligidos apenas pode brotar a revolta.

Precisamos aprender a perdoar.

Para que possamos libertar a nós mesmos.

Música:

http://ohassan.dominiotemporario.com/midis/1_ernesto_cortazar_solitude.mid

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sexta-feira, 20 de outubro de 2023

A SINFONIA DA VIDA

 


Não dominamos o mar; aprendemos a respeitar as suas leis, para que possamos desfrutar das suas ondas.

Entretanto, costumamos pensar que podemos controlar a nossa vida; e este é o principal erro que cometemos. Porque a vida, como o mar, tem as suas próprias leis e as suas ondas imprevisíveis.

Mas não é este, afinal, o seu maior encanto? O deserto não seria de uma monotonia atroz, se o sopro do vento não modificasse a cada dia as suas dunas? E como seriam as nossas vidas, sem os imprevistos que o destino nos traz?

Muitas vezes nos revoltamos, quando a vida modifica os nossos planos. Esquecemos que é nas dificuldades, que mais aprendemos; se enfrentarmos a luta, a amarga preocupação de hoje trará o doce sabor da vitória de amanhã.

Em cada ser humano, existe a força de que necessita. E existem, também, as fraquezas que precisa vencer, para atingir a plenitude dessa força.

Dizem os pessimistas que a felicidade não existe; e, ao dizê-lo, esquecem de todos os momentos em que a conheceram os seus corações.

E dizem os otimistas que a felicidade pode ser eterna. Esquecem que a felicidade é um estado de espírito, como a alegria e o amor; esperar que seja perene, seria como acreditar que o vento possa soprar sempre na mesma direção.

Nenhum de nós sente as mesmas emoções, todos os dias; o nosso Eu maior é livre, como a Força que o criou. E, assim como aprendemos a direcionar as pás, para que o vento mova os nossos moinhos, precisamos direcionar-nos, para que mais rapidamente cheguemos ao fim do caminho.

Direcionar o nosso Eu, não é restringir a sua liberdade: é, antes, conceder-lhe uma liberdade maior, integrando-o ao Universo infinito. É da responsabilidade plena, que deriva a plena Liberdade, e ninguém pode atingí-la, sem o Conhecimento; a liberdade de um não pode ser a escravidão de outro.

Nenhum homem será realmente livre, enquanto aos seus ouvidos ressoarem os grilhões de outrem. Como nenhuma gota do mar será inteiramente pura, enquanto existir água poluída ao seu redor.

Entretanto, é pela purificação de uma gota que começa a purificação do mar; e pelo brilho da primeira estrela que se anuncia o belo espetáculo das constelações, reluzindo no céu noturno. Como é o primeiro raio de sol que afasta o escuro da noite, e traz o esplendor de um novo dia.

Juntos, executamos a Sinfonia. E o Maestro não descansará, enquanto as notas não estiverem perfeitas. Entretanto, não é Ele que afinará os nossos instrumentos; nem tomará de nossas mãos, para obrigar-nos a extrair os acordes corretos. 

Ou não seríamos músicos, mas escravos; e cada músico precisa tocar por si mesmo, para que seja plena a melodia.

É por isto, que não podemos dominar o que chamamos de vida: cada um de nossos momentos, cada uma de nossas alegrias e dificuldades, não passa de um novo ensaio, para que possamos executar a Sinfonia do Universo.

A verdadeira Sinfonia da Vida.

Música:

http://ohassan.dominiotemporario.com/midis/ernesto_cortazar_la_vida_es_bella.mid

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Reprise. Publiquei este texto no blog Opiniaum, em maio/2007.  


sexta-feira, 13 de outubro de 2023

OS LÍRIOS DO CAMPO

 


Duas maneiras existem de viver.

Uma é com leveza, vendo a cada momento novas oportunidades de ser feliz e encontrando realizações a cada passo. A outra é enxergando dificuldades; colecionando aborrecimentos e preocupações.

Cabe-nos, apenas, escolher uma das duas. E é esta escolha que determinará o ritmo de nossa vida; o que faremos no mundo e a imagem que deixaremos, quando dele nos formos até a próxima jornada.

Muitas vezes, vos tenho falado sobre esta escolha. E falarei, enquanto me quiserdes ouvir; porque isto é tudo que aprendi e o que vos tenho a ensinar: cada um determina o seu curso, conforme vê a Vida.

É certo que não podemos controlar o destino, nem evitar as surpresas que ele nos traz, boas ou ruins. Mas nos cabe o manejar das velas e do leme; escolhemos a rota, apesar dos ventos que sopram ao redor.

E a maior de todas as verdades é que não devemos esperar a felicidade depois da vida; precisamos dela, enquanto vivemos. Pois a felicidade não está no ponto de chegada, mas sim na viagem em si mesma.

Aquele que espera ter a felicidade como recompensa, ao final da Grande Viagem, é como o insensato que vende fiado o que possui e entrega tudo de que poderia ter desfrutado, por uma promessa vazia.

Porque – e este é o ponto – nenhum homem existe, que saiba quando chegará a sua hora de partir. E, se assim é, dizei-me: como todos escolheríamos passar nosso último momento; acabrunhados ou felizes?

Por isto, vos repito sempre: não aguardeis pelo dia que virá, para serdes felizes; ele pode nunca chegar. Buscai, portanto, ser felizes agora; este é o momento exato para sorrir e cantar, com alegria e esperança.

Não espereis o amanhã, que talvez não chegue; tudo que precisais é estar prontos, para quando ele chegar. Prontos para transformá-lo em outro hoje, no qual devereis também cuidar de serdes felizes e gratos.

Porque estes precisam ser os focos da nossa vida: a felicidade de sermos gratos, e a gratidão por sermos felizes. Estes devem ser os nossos primeiros e últimos pensamentos, em cada um dos nossos dias.

Sejamos gratos; e seremos felizes. E, se somos felizes, não há porque não sermos gratos. Cuidemos, apenas, de não nos perdermos nos nossos medos, nas nossas inseguranças e nas nossas carências.

Não nos preocupemos em ser felizes; e o seremos. Não temamos as privações e trabalharemos com afinco e alegria, para não passar por elas. Não abriguemos o medo da morte; e ela deixará de existir para nós.

Este – eu também vos tenho dito – talvez seja o segredo da vida: não calcular, não exigir, não recear. Aprender com os lírios do campo; ver como florescem e são lindos, apenas por aceitarem a própria existência.

Talvez o segredo seja somente viver.

Música:

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sexta-feira, 6 de outubro de 2023

O SOL E A CHUVA

 


Sim; o sol não brilha em todos os dias.

Não é a chuva, entretanto, que encharca o chão e faz brotar a semente? Não é ela que escorre pelos vidros das janelas, traçando desenhos que vos despertam a imaginação e geram belos reflexos?

Do mesmo jeito, nem em todas as noites a lua ilumina o mundo. Mas é quando ela não se faz presente, que as estrelas mais embelezam o céu noturno e cintilam com maior fulgor na escuridão.

Decerto o vento não soprará por todo o tempo, fazendo deslizar na direção correta o vosso barco.  Nada vos impede, entretanto, de remar, enquanto perdurarem as indesejadas calmarias.

Tende presente que as flores não duram para sempre, mas enquanto florescem embelezam e perfumam o vosso mundo. E no inverno, quando se vão, sabeis que outras virão, com a nova primavera.

Assim como acontece com a brisa que, por um segundo, acaricia os vossos cabelos; e, ainda que se vá, voltará em breve, minorando o calor que vos castiga e trazendo um sorriso aos vossos lábios.

Contudo, nem sempre, o sorriso estará convosco; nem serão poucas as lágrimas que escorrerão de vossos olhos e de vossas almas. E por vezes, ainda que imploreis, julgareis que não sois ouvidos.   

Porque assim é: embora o Coração do Universo supra as vossas necessidades, deveis fazer a vossa parte. Pois o Pai sábio não é o que carrega sempre os seus filhos,  mas o que os ensina a caminhar.

E a felicidade é, para os vossos corações, como o raio de sol para os vossos rostos: nem sempre os acaricia e aquece. Mas, de cada vez que se faz presente, vos faz esquecer que o frio existiu um dia.

Por isto, em verdade vos digo que não precisais ser felizes para seguir em frente. Basta-vos acreditar que a felicidade existe, para trazer força aos vossos passos e determinação e coragem à vossa mente.

Acalentai um sonho, ainda que único; e sereis mais fortes do que o desânimo, que poderá visitar-vos, mas jamais lançará raízes em vossa alma. Fará pender a vossa cabeça, mas não os vossos ombros.

Acreditai no melhor, e não temereis o pior; sede cuidadosos com o que semeardes e a vossa colheita será próspera e benfazeja. Sede gratos pela vida e ela vos sorrirá, na maior parte dos dias.  

Porque não existem homens fracos, mas corações sem fé; o desespero não vem, senão quando já se foi a esperança, e o ódio não conseguirá firmar-se enquanto existir, ao menos, um leve vestígio de amor.

Amando, agradecendo e acreditando, poderemos seguir os nossos caminhos, sem medo e sem angústias. Assim, ainda que o sol não brilhe todos os dias, saberemos reconhecer os encantos da chuva.

Que faz brotar as sementes, em nosso verdadeiro Eu. 

Música:

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