O CAMINHO E A CARGA
Vezes existem em que a carga vos parece excessiva.
Clamais, então, a vossa revolta. E é bom que assim seja, pois a represa necessita abrir as suas comportas, para dar vazão à água que a oprime; ou ruirão as suas paredes.
Nestas horas, entretanto, é que mais necessitais manter a esperança; para que consigam os vossos olhos descobrir os caminhos que vos podem levar a um futuro melhor.
E viajar nas vossas lembranças. Pois assim percebereis que inúmeras foram as horas difíceis do passado; todavia, conseguistes superá-las e prosseguir a jornada.
É assim que é. E se a teia, tão fina, consegue suportar o peso da aranha e atender às suas necessidades, não haveria o Universo de outorgar-vos carga superior às vossas forças.
Recordai, porém, que o ferro necessita do calor da forja e da frieza da água, para livrar-se da ferrugem que o poderia consumir; outra forma não existe de em aço se tornar.
Para o viajante ansioso e enregelado, as últimas horas da noite são decerto as mais escuras e frias; mas antecedem o nascer do sol, que em seus raios traz a luz e o calor da vida.
Um dia depois do outro, é realizada a vossa jornada. E é durante os trechos difíceis, que mais necessitais manter abertos os vossos olhos e íntegra a vossa disposição de prosseguir.
Aceitai, pois, o cansaço que às vezes vos acomete; ele também faz parte da caminhada e ninguém existe que jamais o tenha sentido. É na tempestade, que valorizais a bonança.
Não vos deixeis, entretanto, seduzir pelo desânimo. Antes pisar sobre as pedras, que vos magoam os pés mas permitem a passagem, do que afundar no pântano que vos sufocará.
Erguei os vossos olhos e os vossos pensamentos. Aquele que fita o céu desfruta do seu brilho, e em cada nuvem descobre uma nova imagem; cria um novo sonho.
Porém o homem que no chão mantiver os seus olhos nada verá, senão a terra e o lodo; e mais sombrio se tornará o seu caminho.
De vós, depende a escolha. Tende presente, entretanto, que este é o vosso caminho. E melhor será percorrê-lo cantando, do que mergulhar em inúteis lamentações.