A CANÇÃO DA HUMILDADE
Assim eu
vos tenho dito. Porque a árvore que mais se destaca entre as outras, é aquela que
atrai o olhar cobiçoso do lenhador; e a flor mais perfumada e colorida é a
primeira a ser colhida.
E
cultivai a modéstia. Porque ninguém se tornou grande, entre os seus irmãos, por
cantar os próprios feitos; nem conseguiu atrair nada, senão a antipatia e a
ironia, ao enaltecer as suas qualidades.
O
viajante sensato não é aquele que sobre si mesmo projeta a claridade da
lâmpada; mas o que ilumina a estrada por onde anda, e assim distingue melhor os
seus encantos e perigos.
Guardai-vos
de exagerar os vossos dons. Aquele que assim procede, é como o homem que se
mira em um espelho que distorce a sua imagem; e, por isto, não se conhece como
de fato é.
Guardai-vos,
também, de orgulhar-vos dos elogios que vos fazem; muitos são os bajuladores, e
nada existe de mais perigoso do que acreditar naqueles que aumentam as vossas
virtudes.
Sim; é preciso
que os outros vos exaltem, para que um dia sejais reconhecidos. Mas
necessitais aprender a conhecer-vos como realmente sois, para que possais
julgar o que vos dizem.
A inveja é comum no ser humano. Muitas vezes, o homem que demonstra admiração por vossa
capacidade de voar gostaria, na verdade, que vos arrastásseis a seu lado,
no chão de barro.
Cuidai-vos, sobretudo, daqueles que vos procuram em busca do que, julgam, lhes podeis dar. Estes
são os que hoje não vos negam elogios; e, mais adiante, não vos pouparão ofensas.
Abraçai a
humildade e cultivai a modéstia. O pavão, que antes passeava em paz a um canto
do terreiro, ao abrir a sua bela cauda renuncia ao sossego e se torna alvo dos
predadores.
Cada um tem
o seu próprio valor. E, como não existe uma flor mais importante no jardim, não
existe homem mais importante entre seus irmãos; existem apenas os que assim se
julgam.
Cuidai
para não estar entre eles. Porque aquele que se julga melhor do que os outros,
não consegue entender os que o cercam; e está condenado à solidão em que a arrogância
o encerra.
Buscai a paz,
antes das honrarias entre os homens. O que importa não é o que os outros julgam
de vós, mas a vossa própria opinião; podeis enfrentar o mundo, mas não a vós
mesmos.
Tão breve
é a vossa passagem por este mundo, que de nada vos deveriam importar os seus
brilhos e as suas ilusões. Sensato é aquele que busca ser feliz, em todos os
momentos.
Porque
nada podereis levar na Grande Viagem.
Música:
http://ohassan.dominiotemporario.com/marco/1_richard_clayderman_don_t_cry_for_me_argentina.mid