AS VOSSAS CORRENTES
Cuidai-vos.
Ou forjareis os vossos grilhões e as vossas correntes. Se não atentardes ao que sois, a cada dia mais aumentareis
as cadeias que vos prendem os pés; mais vos afastareis das asas com que
nascestes.
Porque, à
medida que cresceis, o mundo vos pressiona a renunciar ao vosso verdadeiro Eu. A
abandonar os vossos sonhos e as vossas crenças, a renunciar aos vossos ideais.
Seria
este, porém, o vosso verdadeiro crescimento? Como alguém pode crescer, afastando-se
do que realmente é? A semente da tâmara não está presente, em cada novo fruto
da tamareira?
Sois o que
sois; e de nada vos adianta jurar mudanças que não processais em vosso íntimo.
Reprimir o verdadeiro Eu é construir a represa que um dia as águas da verdade
levarão.
Porque
cada um de vós é como uma ave, que necessita voar no azul do céu. E jamais
voareis, se vos subordinardes à segurança quente do ninho e ao alimento dado em
vosso bico.
Sim; é
muito mais fácil aceitar o que vos é dito, e seguir em meio à caravana. Mas a
história não guarda os nomes dos que carregavam os grilhões; e sim daqueles que
os romperam.
Em cada
novo dia, podeis escolher os caminhos que trilhareis. E, se não seguis os
vossos próprios caminhos, mas aqueles que vos apontam, não podeis reclamar
senão de vós mesmos.
Porque não
deveis jurar amor apenas para receber carinho; e nem deveis trabalhar apenas
pelo dinheiro que recebeis. Sede fiéis ao que sentis e a vossa recompensa será
a liberdade.
Buscai
construir, em cada dia, aquilo em que acreditais. Mais feliz é o lavrador que
acorda na madrugada e trabalha sonhando ver o trigal dourado, do que aquele que
compra e vende o trigo.
O homem
não deve prostituir os seus sonhos. Aquele que os troca pela comodidade de cada
dia, sacrifica o seu verdadeiro Eu; a cada dia, será mais difícil encontrá-lo
novamente.
Não
deixeis de ser o que sois. O homem que usa máscaras, para ser aceito pelo
mundo, um dia as necessitará despir. Acaso acreditais que alguém possa mentir para
si mesmo, todo o tempo?
Porque é
disto que se trata. Um homem pode enganar todos os outros, mas não a si
próprio; e, por mais que o mundo o aplauda, em seu íntimo ele sentirá vergonha e
ocultará a face.
E de que
adianta vestir sedas e brocados, se é preciso despir-se para dormir? De nada
servem os aplausos do mundo, para aquele cujo verdadeiro Eu se esconde nas
sombras e chora.
Envergonhado de si mesmo.
Música:
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