A CANÇÃO DO SER
Sede como as árvores.
Que todos os dias oferecem os seus frutos e a sua sombra. E não o fazem porque saibam que precisais deles; nem porque vos amem, ou por qualquer outro motivo, mas porque é da sua natureza.
Ou como o riacho, que canta aos vossos ouvidos e oferece as suas águas, para refrescar vossos pés e vosso corpo. E também não o faz porque vos ame, mas porque é sua forma própria de ser.
Sede como o poeta, que espalha aos quatro ventos as suas emoções. E não procede assim porque confie naqueles que o ouvem, ou busque seus aplausos; só não consegue reter o que sente.
Ou como o mestre, que ao seu redor espalha a sabedoria conseguida ao longo dos anos. E não o faz para ser glorificado, ou venerado; simplesmente, aprendeu que esta é a coisa certa a ser feita.
Sede como o sândalo, que perfuma o machado que o fere. E, assim fazendo, sobrevive à própria morte; pois a sua essência impregna de tal forma o agressor, que nele permanece intocada.
Porque é assim que continuareis aqui, depois que vos fordes: nas lembranças daqueles que convosco dividirem os dias e os caminhos. Em tudo de bom ou ruim que trouxestes às suas jornadas.
E, se assim é, buscai ofertar sempre o melhor de vós. Porque, enquanto a fumaça do incenso é leve e aromática, a do esterco é pesada e malcheirosa; e não é assim que desejais ser lembrados.
Sede como o cântico de paz; nunca, a melodia agitada e desumana da guerra. Sede como a água mansa do mar, que beija e acaricia a areia; não o tsunami, que invade a terra e destrói sem pena.
Sede como a rosa, que embeleza o mundo e perfuma o ar que a cerca; que leva e traz mensagens de amor, entre os enamorados. Lembrai-vos que espinhos são descartados, para que não firam.
Trazei sempre, na vossa bagagem, o amor que une e o perdão que desfaz as mágoas; e espalhai-os generosamente à vossa volta. Assim, aonde chegardes festejarão a vossa presença.
Sede como a criança, que ri alto quando está feliz e chora sem pejo, se algo a magoa. Não teme demonstrar os seus sentimentos, nem se furta à alegria e ao encanto de brincadeiras e sonhos.
Alijai de vossa alma o rancor e a inveja; a desconfiança e o medo. Este é o caminho para que vos torneis livres e possais abrir as vossas asas, em voos cada vez mais duradouros e coloridos.
Sede como as almas livres que sois; caminhai sem temor as vossas jornadas, festejando as vitórias e aprendendo nas derrotas. E não o façais por interesse; ou buscando ganhos e conquistas.
Mas porque é assim que fostes criados para ser.
Música:
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