VIDAS QUE NÃO SÃO VIDAS
Cuidai dos vossos pensamentos, das vossas emoções e da vossa conduta.
Pois são os pensamentos, as emoções e a conduta, que determinam o que cada um faz da sua própria vida. E vidas existem,
que se perdem no tempo e no espaço.
Que passam
pelo mundo, como a chuva fina que cai sobre o alto-mar: como se não fizessem
diferença; como se fossem apenas mais gotas, esparsas entre milhões de outras.
Como o botão que não se tornou rosa; como a canção que jamais foi cantada, o verso que não chegou a ser escrito, a dor que não foi chorada, o amor que não foi vivido.
Como a voz presa na garganta, a lágrima que se esconde atrás dos olhos, o sonho que não foi realizado, o pensamento que não se tornou ação, o sol que não surgiu no horizonte.
Mortes que não serão lamentadas, vidas que não serão lembradas. Porque se perderam de si mesmas, e assim não foram capazes de encontrar os seus verdadeiros caminhos.
Pessoas que se julgam mais do que são e assim tornam-se menos do que poderiam ser. Ou não percebem o valor que têm e por isto não conseguem acreditar em si mesmas.
Que se vendem pela alegria de um instante; que subvertem os valores que dizem defender. Que se acreditam acima do pecado e censuram nos outros o que elas mesmas fazem.
Que se alimentam de traições e arrotam fidelidade; que sorriem falsidade e ocultam a hipocrisia atrás da honestidade aparente. Que mascaram mentiras com meias-verdades.
Que dizem ser um livro aberto, e nada mostram senão páginas em branco. Que buscam ser invejadas e, entretanto, são a personificação da inveja pela vida alheia.
São como o filho que a vida inteira diz buscar o carinho dos pais e se isola no seu próprio mundo; como a ave que deseja voar e não se arrisca a deixar a segurança do ninho.
São como petiscos bonitos, que por falta de tempero não têm sabor; como telas de cores esmaecidas, como a tristeza de um ébrio perdido na falsa alegria de seu mundo irreal.
Como a semente que não vingou, a onda que não se formou, o bebê que não nasceu. A saudade que não faz chorar, o reencontro que não faz sorrir, a garoa que se esfuma à luz.
Vidas existem, que se perdem no tempo e no espaço. Que não sorriem as suas alegrias, não choram as suas dores, não sussurram a sua ânsia, não gemem o seu prazer.
São como retratos desbotados, na parede da Eternidade.
Inspirado pela (inquietante) imagem, disponível na internet.
Música:
http://ohassan.dominiotemporario.com/midi%20vocais/1_michael_jackson_smile.mid
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