O Árabe

Idéias, sentimentos, emoções. Oásis que nos ajudam a atravessar os trechos desérticos da vida...

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

DO FUTURO E DO MEDO

Talvez que a solidão vos aguarde, ao fim da jornada.

Se assim for, entretanto, deixai-me lembrar-vos que o melhor refúgio está nas boas lembranças. Pois o calor deixado por um sonho pode fazer esquecer a frieza da noite, mesmo depois da sua partida.

Como o limo deixado pelas águas da cheia fertiliza as margens, ainda que na seca em pó se transforme o próprio rio. E, ao anunciar o batizado, o som alegre dos sinos ameniza o choro triste do enterro que passa.

Vivei os vossos momentos. Pois a verdade é que estareis sós, no instante final: ainda que muitos tomem as vossas mãos, ou vos envolvam em seus braços, ninguém poderá acompanhar o vosso verdadeiro Eu durante a grande viagem.

E mais leve será a vossa bagagem, se conduzida pelas asas da alegria, do que atrelada aos grilhões da frustração. Pior do que a tristeza de não eternizar um sonho, é o vazio de não o ter vivido.

É de tijolos, que construís a vossa casa; entretanto, é nos sentimentos que encontrareis ou não a alegria de nela viver. Porque as paredes, que vos atraem pela segurança, não vos trazem a felicidade.

O asfalto, que torna seguras as vossas estradas, é o mesmo que vos rouba o cheiro precioso da terra molhada; e, ao proteger o vosso corpo, as roupas o impedem de sentir o toque suave da brisa.

É preciso que o pássaro se lance do ninho, para descobrir o prazer de voar; que a crisálida abandone a segurança do casulo, para que a borboleta se torne o adorno dos ares. E que a semente se perca na terra, para que a planta possa brotar.

Não é o caminho, que deveis temer; mas o vosso medo de percorrê-lo. Porque se com temor o fizerdes, não vos será dado desfrutar dos seus encantos.

Se vos assustar o frio, evitareis a carícia da chuva; e por temer as pedras do rio, deixareis de ouvir a música das suas águas. Entretanto, após a chuva poderia o sol aquecer o vosso corpo; e entre as pedras do rio encontraríeis, talvez, a vossa passagem.

A ninguém é dado prever o futuro. Cada novo dia vos oferece muitas escolhas; e cada escolha é como o dobrar de uma esquina, que vos leva a novos caminhos.

Deveis, entretanto, abandonar o medo após a escolha do vosso caminho; ou buscar um novo caminho, se em vós o medo persistir. Pois a quem teme a vinda do silêncio, não encanta a melodia que afaga os seus ouvidos.

E temer o sofrimento futuro é plantar as suas sementes, ao sufocar no medo as alegrias do presente.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A BALADA DA SAUDADE

Lamentais a vossa saudade.

Por ela, derramais sentidas lágrimas. E muitas vezes vos comportais como se para vós já não existisse o mundo; como se nada vos pudesse devolver o sorriso.

Entretanto, para que hoje exista a árvore, foi necessário que um dia fosse partido o fruto e à terra lançada a semente; assim, a vossa saudade de hoje tem origem na companhia de ontem.

De contrastes, sois feitos. Como, aliás, a própria Natureza. Pois a claridade do dia se perde na escuridão da noite; e dela renasce, na nova manhã. E ambos, o dia e a noite, são necessários para que possa existir a vida neste mundo.

Assim convosco acontece: em vosso coração, alternam-se o sofrimento e a felicidade. E se um vos dilacera a alma, a outra renova as vossas forças.

Porque a carícia da chuva, caindo sobre a terra rasgada pelo arado, faz com que brote a semente. E quem saberia dizer qual dos dois, o arado ou a chuva, é mais importante, para que se renove a vida?

Eu, entretanto, vos digo que ambos são igualmente necessários. Porque, assim como as entranhas maceradas da terra se tornam mais férteis, o vosso coração magoado torna-se mais receptivo à semente de uma nova esperança; e a chuva do tempo a fará brotar.

A vossa saudade de hoje, não é senão o vosso amor de ontem. E vos cabe escolher se quereis transformá-lo na solidão da ausência, ou na ternura das lembranças. Na tristeza da perda, ou na alegria do encontro.

Porque, é certo, ambos existem na saudade. E, assim como podeis escolher entre recordar uma rusga ou um beijo, podeis maldizer o destino que vos tirou o ser amado; ou abençoar o Universo, que um dia o trouxe a vós.

No primeiro caso, precisareis percorrer sós o restante do vosso caminho; e os espinhos da amargura serão o tapete cruel, que muito fará sangrar os vossos pés. No outro, os agradáveis ventos das doces lembranças suavemente conduzirão ao porto o vosso barco.

E eu vos digo, ainda: nada existe que seja definitivo. Pois a água evaporada, em chuva se transforma e sobre a terra volta a cair; como a flor tombada, que em adubo se tornou, volta a existir em nova flor. E o sol, que hoje aquece o vosso dia, é o mesmo que ontem se perdeu nas trevas da noite.

Para o Coração do Universo, convergem os nossos caminhos; por isto, voltaremos a encontrar todos aqueles que nos são verdadeiramente caros. E maior será a alegria do reencontro, se em nosso coração não abrigarmos a tristeza da separação.

E sim o encantamento do Amor.

Ilustração do site 1000 imagens.


UPGRADE, EM 28/01/2009: Do Sítio_Peludo, recebi o prêmio Dardos, com este belo selo. De coração agradeço, amigo, e peço que me permitas oferecê-lo a todos os amigos que fazem o nosso oásis!

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

O APRENDIZADO E O CAMINHO

É a vida que nos ensina a viver.

Como o peixe que se adapta ao tamanho do aquário,

como a planta que se acomoda ao deserto,

como a nuvem que obedece ao sopro do vento.

Ao longo dos anos, ajustamos os nossos passos às condições do caminho. E este é o aprendizado da Vida.

Assim, não devemos lamentar os farrapos das roupas que nos foram levadas pelos espinheiros; mas aprender a evitá-los, para que nos possamos preservar. Nem deplorar o sol que nos queima, mas buscar a sombra amiga da árvore que margeia a estrada.

Na colina, que hoje nos parece um obstáculo, brota talvez a água que virá amanhã mitigar a nossa sede. E com as pedras que hoje nos magoam os pés, poderemos amanhã construir o abrigo protetor da nossa velhice.

Por isto, eu vos digo que a nada devemos temer senão ao desânimo. Porque é ele que mina as nossas forças, quando nos faz duvidar da Sabedoria do Universo.

Pois ao que chamais sofrimento, deveríeis talvez chamar aprendizado. E ter presente que a pequena queda de hoje pode salvar-vos do despenhadeiro de amanhã. Como o calor da brasa vos alerta sobre os perigos do fogo.

Como o fruto não atinge a plenitude do seu sabor, senão quando se finda o amadurecimento, o ser humano não estará completo, até que encontre o seu verdadeiro Eu. E este é o objetivo das nossas viagens.

Somos todos alunos, na escola do Universo. E, se a cada um é dado escolher o próprio comportamento, é igualmente certo que dessa escolha dependerá o tempo do aprendizado.

Ocorre, entretanto, que ninguém poderá abandonar o curso sem havê-lo concluído. Por isto, muitas serão as vezes em que precisará o verdadeiro Eu aprisionar-se em novas roupas; e estas serão também rasgadas pelos espinhos que não houvermos ainda removido de nossos caminhos.

As pedras nos magoarão os pés, enquanto deles necessitarmos. Como o calor nos fará arder a cabeça, enquanto não aceitarmos o turbante. E a angústia persistirá em nosso coração, enquanto não soubermos conviver com as nossas emoções e ordenar os nossos pensamentos.

Aceitai, pois, as agruras que a vida vos trouxer. E não as deploreis como castigos, ou vos serão inúteis. Vede-as, sim, como valiosas lições; para que possais remover os espinhos e as pedras do vosso caminho.

E recebei as vossas alegrias com o coração aberto e uma prece de agradecimento. Porque elas são como a água bendita, que umedece os lábios do vosso verdadeiro Eu e retempera as suas forças para a caminhada.

Aprendei, eu vos peço, as lições da Vida. Assim, abreviareis o tempo do vosso aprendizado.

E – quem sabe? – talvez mais leve se torne a vossa jornada.

Foto: site 1000 imagens.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

A SOLIDÃO ACOMPANHADA

Eu vos tenho visto.

Por trás das janelas das vossas casas, entre as vossas mulheres e os vossos filhos, a cuidar dos vossos afazeres.

Entre os vossos amigos, em meio aos sons das vossas festas. Ou entre os vossos colegas, a labutar nas horas do trabalho que vos proporciona a sobrevivência.

Eu vos tenho visto, em todos os momentos do dia e da noite, entre pessoas que vos fazem companhia: no lazer, no trabalho e em vossos lares.

Sempre, eu vos tenho visto acompanhados. E a tentar esconder a vossa solidão.

Embora dificilmente estejais sós, a solidão está em vossos corações; e é a maior causa dos vossos sofrimentos. Porque não sabeis comungar da companhia, apenas a procurais.

Não sabeis comungar pensamentos; agarrai-vos às vossas idéias, como se nelas pudessem estar contidas todas as verdades que existem. E não sabeis confiar, mas desejais que confiem em vós.

Abris as vossas bocas, para falar; mas não os vossos corações, para que as palavras sejam a expressão dos vossos sentimentos.

E, ao buscar a companhia sem a ela vos entregardes, estais mergulhando na pior das solidões; aquela em que não tendes o direito de estar sós.

Fugis da solidão de vossos corpos; e a aceitais em vossos corações, onde o tempo se encarrega de firmar as suas raízes. Pois a solidão acompanhada gera a revolta, que ainda mais vos afasta daqueles que estão a vosso lado.

Eu vos digo que deveis buscar a aparente solidão. É nela que desfrutareis da vossa própria companhia e ouvireis, na voz do coração, as vossas verdadeiras palavras.

Não precisando esconder os vossos defeitos, podereis descobrir como enfrentá-los. E, não precisando exaltar as vossas qualidades, as descobrireis como partes naturais do vosso verdadeiro Eu.

Para que o mar se formasse, foi necessária a primeira gota; para que possais verdadeiramente conviver com os outros, precisais aprender a conviver convosco.

E, para que possais apreciar a companhia alheia, é necessário que aprecieis a vossa própria companhia.

Deveis, por vezes, buscar a solidão aparente, para que vos possais conhecer e entender; este é o caminho para conhecer e entender aqueles que convosco convivem.

Buscai a solidão aparente; ela vos ensinará o valor da companhia.

E, assim, vos afastará da verdadeira solidão...

Texto do livro A Sabedoria de Hassan.

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