O Árabe

Idéias, sentimentos, emoções. Oásis que nos ajudam a atravessar os trechos desérticos da vida...

sexta-feira, 26 de março de 2010

A VIDA E A ILUSÃO DA MORTE

Direis, talvez, que a morte é para mim um tema recorrente.

E eu vos direi que assim deve ser. Porque, quando constantemente repetida aos vossos ouvidos, finda a verdade por encontrar guarida em vossos corações.

E é difícil, para o homem, entender conceitos e verdades que ultrapassem os limites do corpo. Como difícil seria, para o cego de nascença, entender as cores e a beleza que tornam encantador o nascer do sol.

E é difícil, para o homem, entender que o fim é apenas a véspera do recomeço. Entretanto, para que sobrevenha a chegada foi necessário que houvesse a partida; e para que a resposta surgisse, foi necessário haver a pergunta.

Pois na raiz de cada descoberta, um dia existiu uma dúvida. E aonde vos levam as vossas descobertas, senão a novas dúvidas, que por sua vez fazem nascer novos conhecimentos?

Eu vos tenho dito que a flor, ao desprender-se da planta e murchar sobre o chão, em adubo se torna. E, assim, não voltará a viver, em cada nova flor que esse adubo ajudar a brotar?

Como a gota d’água que tomba sobre a terra, nela parece encontrar o seu anônimo sepulcro. E, entretanto, em vida se transforma para os animais e as sementes que sob o solo se encontram.

A morte é uma ilusão dos vossos sentidos. Porque vos habituastes a acreditar apenas no que vos é dado ver, cheirar, sentir, pegar e saborear; e assim necessitais da presença física, para acreditar na vida.

Deixai-me dizer-vos, entretanto, que nenhum dos vossos sentidos pode perceber o amor, nem a felicidade, nem a tristeza, e nem sequer a saudade. Que, entretanto, existem e se fazem sentir em vós.

Não é no corpo que existe a Vida. Como não é na flor que existe a beleza, nem no sorriso da criança que está contida a inocência, nem na lágrima que escorre a dor da separação.

Cuidais, acaso, que deixe a fumaça de existir, ao quebrar-se o vidro que a continha? Ou que se extinga o aroma, quando é fechado o frasco do perfume? Acreditais que, ao apagar a lâmpada, podeis destruir a luz?

Sabei, então, que a Vida transcende ao vosso corpo. Como o saber sobrevive ao livro que o fez nascer, a musica persiste quando se cala o instrumento, e os ideais sobrevivem àquele que os criou.

Decerto, não pode o corpo existir para sempre. Mas a flor, que separada da planta fisicamente definha, viverá para sempre na memória da enamorada que um dia do amado a recebeu.

A morte é uma ilusão dos vossos sentidos. Porque a Vida não está no coração que bombeia o sangue, nem nos pulmões que processam o ar; nem mesmo no cérebro que comanda o vosso corpo.

E sim em vosso verdadeiro Eu.

sexta-feira, 19 de março de 2010

OS VOSSOS DIAS E A VOSSA VIDA

Como uma estrada, deveríeis ver a vossa vida.

Pois dias haverá, em que o sol brilhará sobre vós. E a sua luz pintará de novas cores o mundo que vos cerca; e o seu calor será capaz de aquecer-vos a alma, fazendo brotar novas esperanças.

Entretanto, dias também existirão em que as tempestades encobrirão o vosso horizonte. E vos encolhereis, enquanto a chuva inclemente vos fustiga e os ventos ensandecidos parecem arrastar para longe os vossos sonhos.

Dias haverá, em que atravessareis as mais suaves planícies. E os vossos pés deslizarão sobre a grama macia; os vossos olhos desfrutarão das mais belas paisagens, e o ar fresco do campo vos trará o sopro da alegria.

Em outros dias, entretanto, necessário vos será escalar as mais agrestes montanhas. E sangrarão os vossos pés nus, nas ásperas pedras do caminho; e vos faltará o fôlego, durante a árdua jornada.

Em dias que vos parecerão encantados, a voz da brisa vos trará as mais lindas canções e em suas asas vos chegarão os mais delicados odores; e o tempo voará, para que os momentos felizes se eternizem em vossa lembrança.

Nos dias escuros, todavia, ouvireis apenas os gemidos da desesperança, que buscará sepultar-vos sob a dor da frustração; e no vento selvagem sentireis o cheiro desagradável de vossos sonhos mortos.

Juntos, podereis caminhar; e a companhia amenizará a vossa jornada. Pois mais leve é a carga dividida: menos amargas se tornam as lágrimas repartidas e mais doces são os sorrisos compartilhados.

Entretanto, cada um de vós tem a sua própria estrada; que deverá seguir do seu próprio jeito e sobre os seus próprios pés.

Podereis enxugar a fronte do parceiro, mas cada um deverá verter o seu próprio suor. E podereis ampará-lo, com o vosso carinho; mas nas suas veias não correrá senão o seu próprio sangue, e o seu corpo não sentirá senão as suas próprias dores.

Porque é sozinho, que cada homem verá chegar o fim da sua estrada; como sozinho estava, ao recomeçar a caminhada.

E os dias se sucederão sobre vós; cairá a noite e virá o amanhecer sobre os vossos caminhos, até que um dia a estrada se interrompa. E o que hoje vos parece o nada, então se mostrará como um novo horizonte.

Entretanto, não vos é dado conhecer a duração da vossa jornada; nem saber o que se oculta entre as curvas do caminho. E é por isto que necessitais viver cada hora como se fosse a última hora do vosso derradeiro dia.

Se assim fizerdes, sabereis valorizar o vosso tempo; e as vossas alegrias e os vossos entes queridos. E não vos buscará o arrependimento de quem passou pelo caminho sem desfrutar dos seus encantos.

Porque, em todos vós, a alegria ingênua da criança cederá lugar aos desencantos do adulto; mas, para aquele que soube viver, o cansaço da velhice é amenizado pela tranquila certeza de uma proveitosa jornada.

É assim que é. Como o fim se faz necessário, para que possa haver um novo começo, e no silêncio mais se destacam as notas da canção, é preciso que exista a morte, para que faça sentido a vida.

Como precisam existir as trevas da noite, para que possa surgir o esplendor de um novo dia.

Texto inspirado nesta gravação da música. Sigam o link... vale a pena!

sexta-feira, 12 de março de 2010

A ILUSÃO DA POSSE

Afastai de vós a ilusão da posse.

Pois a luz não beneficia à estrela que a emite; mas ao viajante longínquo, que por ela traça a sua rota na escuridão da noite. Como o jardineiro, embora não possua a beleza da rosa, usufrui do seu encanto.

Como o essencial não é o papel, nem são as páginas; mas a sabedoria que nelas se pode encontrar. E esta depende apenas daquele que as lê, pouco importando a quem pertença o livro.

Guardai-vos, pois, de dizer “Eis a minha mulher” ou “Eis o meu homem”. Dizei, antes: “Eis a pessoa que eu amo”; para que não a vejais como vossa propriedade, mas como a alegria do vosso coração.

E evitai, igualmente, dizer “Eis o meu filho”; ou o julgareis sujeito a vossas ordens. Dizei, antes: “Eis o fruto do meu ser”; para que tenhais sempre presente a vossa responsabilidade para com o seu futuro.

Recordai que dois extremos são necessários, para que possa existir o liame. E, assim, para cada coisa que pensais possuir renunciais a uma parte da vossa própria liberdade.

Porque esta é a grande armadilha da ilusão da posse: quanto mais o homem acredita possuir, mais escravo ele se torna da necessidade de conservar os bens que julga de sua propriedade.

Entretanto, nada vos pertence. Porque sois apenas caminhantes, na jornada da Vida. E ao caminhante não assiste o direito de julgar-se dono das pedras, das pessoas e das flores que encontra na estrada.

E nada necessitais possuir. Porque, para que o canto do pássaro vos encante os ouvidos, não é preciso que o encerreis na gaiola; e são as águas livres do regato que trazem alivio aos vossos pés cansados.

Esta é a verdade. E na sua compreensão está a chave para abrir todas as portas que vos retêm; e a força capaz de derrubar todos os muros que vos cercam. Este é o conhecimento que faz brotar em vós a liberdade.

A liberdade, em si, é a completa ausência da submissão; e ninguém existe que à cobiça não se submeta, ao apegar-se a tudo aquilo que julga possuir. Assim, é ao temer a perda das suas posses que o homem a elas se escraviza.

Em verdade, a posse é uma ilusão dos vossos sentidos; porque virá o dia em que a tudo precisareis deixar, para percorrer outros caminhos. E dolorosa será a renúncia, para aquele que aos seus bens se houver apegado.

Buscai, pois, a liberdade de apenas existir. E, ao usufruir dos vossos bens, dos vossos amigos e dos vossos amores, lembrai-vos de que nenhum deles vos pertence; vossas, são apenas as sensações que vos provocam.

E podeis guardar em vosso verdadeiro Eu.


UPGRADE, EM 19/03/2010: À amiga Auréola Branca (http://olhospretos.blogspot.com), agradeço pelo belo selinho que orna o nosso oásis. E, principalmente, pela gentileza e amizade.


sexta-feira, 5 de março de 2010

O CAMINHO DA FELICIDADE

Deveis atentar para as pequenas coisas da vida.

Porque é delas, e não das maiores, que depende a vossa felicidade. Como a beleza da flor é dada pela simetria e perfeição das pétalas, e o encanto da música depende da harmonia das notas.

Mas não é assim que fazeis. E vos desesperais, porque os vossos recursos vos parecem parcos para a construção da casa dos vossos sonhos; entretanto, um a um poderíeis adquirir os tijolos para edificá-la.

Despertai. Pois outra forma não existe de atingir o topo da escada, senão subir cada um dos seus degraus. E mesmo a mais alta montanha é vencida pelo alpinista que, passo a passo, escala as suas vertentes.

É assim que é. E mesmo o mais sábio dos homens necessitou assimilar isoladamente cada um dos seus conhecimentos; como o maior dos vencedores iniciou a sua caminhada por uma única vitória.

Guardai-vos da pressa e da ansiedade. Como a natureza, a Vida segue o seu curso; e não colhereis os frutos da árvore, senão quando transcorrido o tempo necessário para que possa germinar a pequenina semente.

Não vos preocupeis, pois, com a duração dos vossos amores. Cuidai, antes, de vivê-los intensamente a cada momento; pois é assim que deles mais podereis usufruir e evitareis o seu fim prematuro.

Nem abrigueis em vós a ânsia pelo crescimento profissional. Buscai, sim, desempenhar bem cada uma das tarefas que vos forem confiadas; porque o sucesso é a consequência natural do trabalho bem feito.

Afastai de vós o medo do futuro. Vivei cada dia a seu turno e lembrai-vos de que, embora não vos seja dado modificar o ontem, é em cada passo de hoje que construís o vosso amanhã.

Atentai, por isto, para as pequeninas coisas. Porque a semente que hoje vos recusais a plantar poderia ser a árvore de que necessitareis amanhã; e o gesto de carinho que agora vos recusais a fazer talvez evitasse a solidão em vosso futuro.

Atentai para o que dizeis. Porque aquele que sem pensar distribui as suas palavras, não se pode furtar a recebê-las de volta; e decerto responderá pelas consequências por elas provocadas.

Atentai para os vossos pensamentos. Porque é deles que nascem as vossas ações; e o rio em cuja nascente se abrigue o veneno, jamais poderá esperar que boas se tornem as suas águas.

Atentai para aqueles que vos cercam. Porque o homem que pedras atira ao seu redor, não pode esperar que delas venha a brotar o jardim da amizade; e quem oferece o desprezo, em troca receberá a solidão.

Atentai para as pequeninas coisas da vida.

Porque é assim que podereis, talvez, encontrar a felicidade.

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