BALADA DO IDOSO
Cuidai de
vossos idosos; assim eu vos tenho dito.
Pois não podeis,
sequer, imaginar como é infinita a solidão de quem vê aproximar-se o fim do
caminho. E como, a cada passo, se torna mais pesada aos seus ombros e mais
ocupa o seu horizonte.
Porque
sabe que, em breve, precisará afastar-se de todos que o acompanham e embarcar
sozinho, na Grande Viagem; onde nada levará, senão a tristeza da despedida e a
incerteza do que encontrará adiante.
Essa
angústia o acompanha todos os dias e muitas vezes mantém abertos os seus olhos,
no escuro da noite: a consciência de que o fim está próximo e aqui ficarão os
entes queridos que ainda lhe restam.
Muitos
são os que o precederam na partida; e cada um deles se tornou uma marca cadente
em seu coração. E não julgueis que o tempo tenha feito cicatrizar as feridas,
pois a brasa sob as cinzas ainda arde.
Saudade,
lembranças e a expectativa do próprio fim; estas são as companhias que lhe restarão,
se do vosso convívio o afastardes. Sem a presença e o amor dos vivos, só
fantasmas haverá em seu caminho.
Só a vida
pode vencer a morte; só a companhia pode afastar a solidão. Nada tão grato, àquele
que sente a proximidade da morte, como o sopro da vida; nem a quem está só, como
a sensação de companhia.
Vossa é a
responsabilidade de amparar os lentos e derradeiros passos de quem vos ajudou a
ensaiar os vossos primeiros; e vos carregou ao colo quando, pequeninos, não
éreis sequer capazes de andar.
É com
amor que o deveis fazer; porque foi com amor, que o fizeram por vós. Que não
seja uma obrigação, mas um prazer, estar em companhia de quem tantas vezes tudo
deixou, pelo prazer de estar convosco.
Assentai-vos,
para ouvir as suas histórias. E não as escuteis apenas com os ouvidos, mas
abri-lhes os vossos corações; porque, mais do que histórias, convosco compartilham
as suas próprias vidas.
Não vos
acanheis de acariciar os seus cabelos brancos; nem de tomar as suas mãos
enrugadas nas vossas mãos; nem de beijar os seus rostos. Lembrai-vos de que
cada vez que o fazeis pode ser a última.
Tomai-lhes
a benção, sim; por que não? E recebei como uma dádiva as palavras com que vos
abençoam e desejam tudo de bom para os vossos caminhos. É de coração que o
fazem e os ouvirá o Universo.
Abençoai-os,
por vossa vez; e fazei-o de coração. Recordai, ao pronunciardes as palavras da
benção, tudo quanto deles recebestes; assim, o Amor estará em vossa voz. E também
vos ouvirá o Universo.
Tende presente
que não sabeis até quando os tereis convosco; deveis aproveitar cada momento em
sua companhia, para que as boas lembranças vos acompanhem e façam sorrir por
entre as lágrimas.
Quando só vos restar a saudade.
Música:
http://ohassan.dominiotemporario.com/midis/jaimevillalba-nocturne.mid
26/07 foi o Dia dos Avós. Coincidentemente, aconteceu que li, no blog da Smareis (http://caminhostropecosevitoria.blogspot.com), um post que me sensibilizou muito; daí nasceu este texto. Vejam este vídeo, que dá o que pensar e mostra uma triste realidade: https://youtu.be/dYpK6WDD-ac.