O Árabe

Idéias, sentimentos, emoções. Oásis que nos ajudam a atravessar os trechos desérticos da vida...

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

O CANSAÇO DO PREGADOR


Descia o crepúsculo, quando o velho caminhou até a beira do penedo.

Deixou que o seu olhar vagasse pelo vale, onde por tanto tempo as pessoas se juntavam para ouvir as suas palavras. E um cansaço infinito tomou conta de seu corpo e de sua alma.

Assentou-se, pensativo, sobre a pedra dura e fria. E olhou para o céu que escurecia, onde uma águia solitária ainda voava caprichosamente, fazendo voltas entre as nuvens brancas e esparsas.

E perguntou a si mesmo: “Será que a águia utiliza a força das suas asas e o alcance da sua visão, para observar melhor a terra e assim saber onde encontrar as coisas de que necessita?”.

“E eu, acaso, serei como a águia? Será que tenho utilizado as asas dos meus sonhos para elevar-me acima das coisas do mundo, e os olhos do meu coração para enxergar aquilo que busco?”.

“Ou tenho sido como a avestruz da lenda, que, apesar da sua altura e da velocidade de suas pernas, apenas enterra a cabeça no solo e assim se torna indefesa, ao menor sinal de perigo?”.

“E, quando falo aos meus irmãos, tenho sido como a flor, que ao seu redor espalha os mais doces aromas? Ou como o cacto, que distribui espinhos, porque nada mais tem a oferecer?”.

“Ao longo destes anos, eles têm ouvido, com bondade, a minha voz. Mas terão sido as minhas palavras como o vento brando, que transporta as boas sementes, ou como o vendaval que destrói?”.

“Este é o meu maior temor. Porque é certo que cada um pode fazer o que quiser, da sua própria vida; mas é igualmente certo que a ninguém assiste o direito de causar prejuízo a outra vida.”.

“Durante o tempo em que estamos juntos, muitas vezes eu me tenho calado, para ouvir as inquietações de seus corações; e sei que nelas reconheço as inquietações de meu próprio coração.”.

“Por isto, ao responder às suas perguntas busco esclarecer as minhas próprias dúvidas. Mas a verdade de um, nem sempre é a verdade de outro; a água, onde respira o peixe, pode sufocar a ave.”.

“É assim que é. E já não sei se tenho sido um bem ou um mal em suas vidas; embora tenha sempre tentado caminhar adiante deles, erguendo a minha lâmpada para iluminar o caminho.”.

“Agora me pergunto se, na minha presunção, não os terei prejudicado. Se terei, realmente, iluminado a nossa jornada; ou apenas contribuído para espalhar mais sombras em seus caminhos.”.

 “Porém, a verdade é que as sombras não existem senão em função da luz; e o trabalho do homem que semeia ideias não é trazer respostas, mas fazer com que surjam novas perguntas.”.

“Aquele que prega não é a música, mas a flauta soprada pelo Artista. E se o Coração do Universo permite que as palavras brotem da minha alma, é porque me atravessa o Seu sopro divino.”.

“Devo, pois, seguir em frente. E continuar a cumprir a minha missão.”.

Música:
http://ohassan.dominiotemporario.com/marco/1_raul_di_blasio_travessia.mid

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

A BALADA DA GENTILEZA


Ao fechar o rosto, diante do espelho, ninguém espera ver refletido um sorriso.

Porém, agimos diferente com os nossos irmãos: neles muitas vezes descarregamos as nossas mágoas e inquietações, mas esperamos que sempre nos ofereçam um sorriso amável e um gesto de carinho.

Esperar que isto aconteça, é como acreditar que um espinho se transforme em uma rosa; ou que da ofensa possa brotar o elogio. Das nossas ações, dependem as reações daqueles que nos cercam.

O homem não é como a montanha, que se eleva por si própria; somos como as gotas que, unidas, formam este infinito oceano a que chamamos Universo. Todavia, nós mesmos construímos os invisíveis muros que nos separam.

Da compreensão, surge a integração; e da integração surgirá a confiança. Da humilhação e da ofensa, entretanto, surgem a mágoa e o ressentimento, que mais cedo ou mais tarde nos envolverão em suas ondas turvas.

Vigiemos os nossos sentimentos; deles brotam as nossas palavras e as nossas ações. E a palavra ofensiva que a alguém dirigirmos, algum dia nos será devolvida; como o prejuízo que a outrem causarmos, nos será cobrado.

A gentileza é como a flor, a espalhar o seu doce perfume sobre todos que dela se acercam. E a agressividade é como a onda impetuosa, que ao encontrar o dique se dobra sobre si mesma e retorna ao mar revolto de onde partiu.

Sejamos gentis, e ao nosso redor espalhemos a compreensão e os nobres sentimentos. Assim, veremos florescer à nossa volta um belo jardim, cujas flores nos oferecerão a sua beleza e os seus aromas.

Aquele que ofende aos seus irmãos, semeia as pedras que machucarão os seus próprios pés. E cria para si mesmo um deserto árido, onde não poderá refrescar-se à sombra da amizade; nem beber a água límpida da companhia. 

Aquele que tenta impor o que diz, quer convencer a si mesmo; e as suas palavras se perdem no silêncio da desconfiança. Cada homem tem as suas próprias verdades, e ninguém as sacrifica para aceitar as verdades alheias.

Como a terra faz brotar a semente, que no seu seio é plantada, é o coração do homem. E são as nossas palavras, os nossos gestos e as nossas atitudes, as sementes que plantamos nos corações dos nossos irmãos.

Assim, é de nós mesmos que dependemos, para encontrar entre eles a sombra amiga da árvore, onde possamos repousar das fadigas da vida; ou os cruéis espinhos do cacto, que virão aumentar os nossos sofrimentos.

Juntos, caminhamos; e é juntos que chegaremos ao fim da Jornada.

Não devemos espalhar lágrimas entre os nossos irmãos, se deles necessitamos para enxugar as nossas próprias lágrimas. Nem semear de dores os seus caminhos, se são os mesmos caminhos que precisaremos percorrer.

Busquemos espalhar, sempre, o carinho, a tolerância e a paz, ao nosso redor.

Para que possamos encontrá-los, em nossos próprios caminhos!

Música:
http://ohassan.dominiotemporario.com/midis/ernestocortazar-emmanuelle_stheme-sm.mid

Adaptação de texto publicado em meu outro blog, em janeiro/2007. 

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

AS SEMENTES DA ESPERANÇA


Necessitais das vossas esperanças.

Pois é a esperança que sustenta os vossos passos, quando tudo parece conspirar contra vós e o desânimo grita aos vossos ouvidos que melhor seria deixar-vos cair ao lado da estrada.

É ela que vos guiará, enquanto os ventos contrários fizerem turbilhonar a areia ao vosso redor, ocultando de vossos olhos cansados a imagem revigorante de qualquer oásis, no deserto da vida.

É ela que vos canta doces canções sobre o sucesso e a alegria, quando tudo insiste em recordar-vos dificuldades e tristeza. É ela que vos carrega em seus braços, nos trechos mais difíceis.

Mantende, pois, as vossas esperanças. Delas deveis fazer o farol que ilumine o vosso caminho, espantando as trevas que nele possam surgir e ocultar as suas curvas e os seus encantos.

Recordai, entretanto, que a esperança não é a garantia de um futuro melhor; apenas a semente da qual esse futuro poderá nascer. Cabe-vos cultivá-la acertadamente, para que germine.

Cuidai, pois, para não a plantardes em terreno infértil. Ou podereis vê-la definhar, sufocada pelo solo árido e indiferente; quando poderia florescer viçosa, se plantada no lugar acertado.

Como não construiríeis a vossa morada em um chão pantanoso, não deveis plantar a vossa esperança onde não possa brotar. Castelos sobre nuvens nada produzem, além de dolorosas quedas.

Confiai, portanto, a vossa esperança a um solo onde poderá desabrochar. Certificai-vos da fertilidade do chão, antes de nele depositar a semente, como faz o agricultor prudente e sensato. 

Revolvei bem a terra ao seu redor e cavai bem fundo, para terdes a certeza de que pássaros não a levarão, nem a carregarão as enxurradas. Plantai-a bem, e ela com certeza haverá de vingar.

Estai cientes de que, nem todo o tempo, as chuvas serão suficientes para sustentá-la e fazê-la brotar. Muitas serão as vezes em que devereis regá-la com as vossas próprias lágrimas.

Porque assim é a esperança: embora possa sustentar-se por um fio, não transformará a realidade, senão quando encontrar, em vossos corações, a guarida segura de que necessita.

Acreditar é sempre o primeiro passo para realizar; as asas dos vossos sonhos determinam quão longe chegareis em vossa jornada. De nada vos adianta, todavia, sonhar com o impossível.

Certo é que necessitais plantar sem medo as vossas esperanças; elas são as sementes do vosso futuro. Não desanimeis, entretanto, se depois de plantadas e cuidadas não as virdes brotar.

Recolhei-as e guardai-as convosco. Um dia, as plantareis em um novo solo.


Música:
http://ohassan.dominiotemporario.commarco/1_ernesto_cortazar_you_are_my_destiny.mid

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

MOMENTOS DIFÍCEIS



Sim; há momentos difíceis.

Em que o túnel parece infindável e a escuridão é tão densa, que nos sentimos perdidos; como se a réstia de luz nunca fosse brilhar para nossos olhos, indicando o fim da passagem sombria.

Em que as nuvens negras dominam completamente o céu, ocultando de nós o brilho e o calor do sol; e a chuva torrencial e inclemente fustiga a natureza e a terra, como se jamais fosse ter um fim.

Em que as aves se calam e as plantas se encolhem, temerosas. Em que o mundo parece um imenso deserto e nada ouvimos, senão os nossos próprios passos e as vozes de nossos medos.

Em que as forças nos faltam e sentimos que iremos desfalecer no instante seguinte. Em que a coragem nos abandona e o que resta é a sensação de que somos incapazes de concluir a jornada.

Em que o cansaço domina o nosso corpo e um sentimento de impotência paralisa a nossa alma. Em que fingir um sorriso é quase impossível; como quase impossível se torna conter as lágrimas.

Em que não enxergamos novos caminhos, nem percebemos os rumos que podemos tomar. Em que um espinheiro fechado parece impedir a passagem, em cada estrada que surge à nossa frente.

Sim; há momentos assim.

E deles eu vos tenho falado; porque existem para todos nós. E não seria honesto de minha parte esconder de vós que também os atravesso, ou fingir que desconheço a angústia que nos causam.

Muitos destes momentos, tenho encontrado; e ainda encontro em minha vida. Muitas foram e são as vezes em que me recolhi e recolho, para lamber as minhas feridas e curar as minhas dores.

Deixai-me dizer-vos, porém, que exatamente por conhecê-los, sei que são apenas momentos; e que somos capazes de superá-los e continuar a jornada, para viver outros momentos felizes.

E tudo que precisamos é seguir em frente, acreditando no Coração do Universo e na Sua essência, que vive em nós. Por mais longo que seja o túnel, a luz nos indicará que se aproxima o seu final.

Por mais numerosas e pesadas que sejam as nuvens, elas não poderão cobrir para sempre o sol; precisarão desfazer-se em chuva e as cores do arco-íris nos mostrarão que a tempestade se foi.

As aves voltarão a cantar, e as plantas ressurgirão em todo o seu vigor e toda a sua beleza. E a chuva, que parecia inimiga enquanto fustigava a terra, a tornará mais fértil e mais forte do que antes.

Nada precisamos, senão acreditar e encontrar as forças para dar o próximo passo; sorrir sempre, mesmo quando as lágrimas teimam em cair. Somos mais fortes do que os momentos mais difíceis.

Porque o Coração do Universo vela por nós. 

Música:
http://ohassan.dominiotemporario.com/marco/1_mantovani_e_sua_orquestra_till.mid

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