O Árabe

Idéias, sentimentos, emoções. Oásis que nos ajudam a atravessar os trechos desérticos da vida...

sexta-feira, 30 de março de 2012

AS VOSSAS MÁSCARAS


Necessitais das vossas máscaras.

Como o caramujo necessita da sua concha, o guerreiro da sua armadura e a fruta da casca que a protege. Porque são elas que defendem a vossa alma das agressões do mundo.

Como necessitais das vossas roupas. Porque, como as roupas disfarçam as imperfeições do corpo, são elas que vos permitem fingir o que não sois. E ambas agradam à vossa vaidade.

Sem as mentiras não existiria a sociedade, tal como a conheceis. Porque é a hipocrisia que vos permite a convivência, à medida em que alimenta as vossas mútuas ilusões.

Em verdade, o que chamais de vida não passa de um grande baile de máscaras, onde cada um não se mostra como verdadeiramente é, mas como aquele que gostaria de ser.

Ou como julga que os outros gostariam que fosse. E assim sufoca as próprias verdades, ignora os gritos da sua alma e reprime a si mesmo, em busca da aprovação alheia.

Entretanto, ninguém pode ignorar o seu verdadeiro Eu. E o mais subserviente é aquele que abriga em si a maior revolta; como o mar se mostra mais calmo antes do tsunami.

É dele que mais vos deveis guardar; e ainda mais de como ele vos tornardes. Porque a revolta acumulada é o mais danoso veneno para o homem e aqueles que o cercam.

Necessitais, sim, das vossas máscaras.

Lembrai-vos, porém, que dia virá em que forçosamente as tirareis. E é com o vosso próprio rosto que comparecereis ante o Universo, para prestar contas da jornada que se encerra.

Utilizai-as sabiamente, portanto, para que não se perca a vossa essência. Porque é nu que o homem chega a este mundo e nu ficará, antes da derradeira despedida.

Como aqui abandonais as vossas roupas, aqui deixareis as vossas máscaras. E nada vos será permitido levar, senão as vossas dúvidas e o vosso aprendizado.

Pois a jornada se repetirá. E mais uma vez repetireis os vossos erros e os vossos acertos, para que as dúvidas se possam tornar em certezas e o aprendizado em sabedoria.

É preciso que assim seja. Até o dia em que a voz da Verdade não mais precise ressoar aos ouvidos dos vossos corpos, porque se fará ouvir diretamente em vossas almas.

E não mais necessitareis das vossas máscaras.

sexta-feira, 23 de março de 2012

A BALADA DA COMPREENSÃO


Exercitai a compreensão.

Porque o vosso caminho para a paz de espírito passa pela tolerância e pelo perdão. E para aquele que compreende as causas, é mais fácil perdoar as consequências.

Recordai, sempre, que nada ou ninguém perfeito existe neste mundo; e é do erro que surge o aprendizado, como o malcheiroso estrume faz brotar a perfumada flor.

Deveis compreender os que vos cercam. E não vos agasteis, quando as suas vontades contrariarem as vossas vontades; buscai o consenso e tereis a melhor solução.

Pois o homem que impõe os seus desejos arreda de si os seus irmãos. Como faz o vento inclemente às folhas caídas, que no inverno atapetam as vossas estradas.

Eis que o leão da lenda a todos afastava, com os seus rugidos de dor e raiva. E apegou-se, entretanto, ao corajoso escravo que da pata ferida removeu o doloroso espinho.

Compreender é meio caminho para conviver. Por maior que seja o amor entre duas pessoas, se a compreensão não estiver entre elas será impossível a vida em comum.

E compreender é meio caminho para ser compreendido. É preciso escutar para ser escutado, e respeitar as ideias alheias para merecer o respeito às suas próprias ideias.

O respeito é a base da compreensão. Respeitai os vossos irmãos, ou não respeitareis as suas ideias; e, se não as respeitardes, jamais sereis capazes de compreendê-las.

Como o respeito à força do vento leva o navegante a posicionar as velas, para que o barco siga a rota pretendida, o respeito a novas ideias vos levará a novos conhecimentos.

Aceitai a todos como vossos irmãos, pois na verdade o são. Praticai o amor e a tolerância, e decerto encontrareis o respeito. Cultivai o respeito e colhereis a compreensão.

É assim que afastareis o fantasma da solidão, que habita os vossos piores temores. E descobrireis que a proveitosa colheita tornará mais rápidos os vossos passos e mais fácil a caminhada.

Porque alimentará o vosso verdadeiro Eu.

sexta-feira, 16 de março de 2012

PORQUE EU TE AMO

Um dia, podes deixar de me amar.

Pois o sonho não dura para sempre; como a neblina não resiste ao sol do meio dia e a penumbra suave da noite se dissipa aos primeiros clarões da alvorada.

Um dia, talvez as nossas mãos se separem; talvez os nossos lábios não mais se encontrem, os nossos corpos não mais se pertençam e as emoções do amor não mais existam entre nós.

Um dia, talvez eu não exista sequer em tua memória; ou seja apenas uma vaga lembrança de um tempo que se foi. De um sonho que deixaste no passado.

Talvez que então as nossas horas de loucura nada signifiquem para ti; que os nossos momentos de carinho te provoquem enfado e as nossas juras te soem vazias.

Saberei entender que assim deve ser, para que possas seguir a tua jornada. Porque cada um tem o seu próprio caminho, e nem sempre podemos seguir de braços dados.

Conseguirei sorrir, ao ver a tua alegria. E jamais te pedirei para que voltes, pois não seria justo atrelar um grilhão aos teus pés, depois que o teu amor dotou de asas a minha alma.

Esconderei a minha saudade de nós dois, na lembrança de que um dia fomos um só coração; vencerei o desejo do teu corpo, que assombrará os meus dias vazios sem ti.

Deixa-me dizer-te agora, entretanto, que sempre estarás em mim. Ainda que caia o pano sobre nós, deixar-me-ei ficar nos bastidores, revivendo cada cena da nossa história.

Então, o palco escuro se iluminará com o brilho dos teus olhos; o silêncio será preenchido pelo som alegre do teu riso, e a tua imagem bailará na minha lembrança.

Deixa-me dizer-te agora que, ainda que me deixes, jamais sairás de minha alma. Como o aroma suave se impregna no ambiente que tantas vezes perfumou no passado.

Porque a verdade é que estás em mim. Como se fosses parte do meu sangue; como se eu respirasse o teu ar, bebesse o teu sorriso e enxergasse pelos teus olhos.

Sim; um dia, podes deixar de me amar.

E nada me caberá fazer, senão observar-te à distância, para tornar o mais fácil que puder o teu caminho. Para que possa estar presente, se necessitares de mim.

Porque eu te amo.

sexta-feira, 9 de março de 2012

O VOSSO ENCANTO


Pessoas existem que de joelhos atravessam a vida.

Estas não conseguem construir o seu espaço, nem traçar o seu próprio caminho, nem fitar nos olhos os seus irmãos. Porque se comportam como se a eles fossem inferiores.

E pessoas existem que às outras se julgam superiores. Isoladas pelo muro da presunção, deixam de adquirir novos conhecimentos; e é na solidão que percorrem os seus caminhos.

Eu vos digo, porém, que a ninguém sois superiores ou inferiores. Porque, como o pai não faz distinção entre todos os seus filhos, cada um de vós é igualmente precioso para o Universo.

Cuidai-vos, para que em nenhum destes extremos estejais. Pois o homem que olha apenas para cima e suspira pelas montanhas será, talvez, vítima da cobra que rasteja.

E aquele que no chão mantém fixos os seus olhos, arrisca-se decerto ao ataque do gavião faminto, que do céu esquadrinha a terra em busca da presa desatenta.

Sensato é o homem que olha em todas as direções. Que não se julga perfeito, mas busca corrigir os seus defeitos; que defende as suas conviccões, mas aceita novos pensamentos.

A ninguém cabe o monopólio da verdade e ninguém pode estar errado todo o tempo. Deveis, portanto, ouvir de boa-fé os vossos irmãos e expor as vossas ideias.

Porque a sabedoria não é como o pântano estagnado, mas como o grande rio que corre sempre. E cada nova ideia, como cada novo afluente, vem aumentar as suas águas.

Cada um de vós tem a sua própria beleza, o seu próprio encanto, único no mundo. Que pode estar no sorriso, no brilho do olhar, na maciez dos cabelos ou no jeito de falar.

E ainda que nem todos percebam esse encanto, um dia alguém o encontrará em vós. E esse alguém haverá de amar-vos, porque foi capaz de descobrir a vossa essência.

Acreditai, portanto, em vós; porque o pássaro não voaria, se não se arriscasse a bater as suas asas. Nem o lavrador colheria o alimento, se na terra não lançasse a semente.

Respeitai, porém os vossos limites; conhecei a vossa grandeza, mas reconhecei a vossa pequenez. Pois cada um de vós não é um leão entre os insetos.

Mas um irmão entre os seus irmãos.

sexta-feira, 2 de março de 2012

ASSIM É O AMOR

O amor não nos pertence.

Como acontece com a felicidade, ele apenas nos visita. E, enquanto se hospeda em nossa alma, faz mais colorido o dia, mais acolhedora a noite e mais belas as notas da canção.

O amor nos traz a Vida. E bem-aventurado é aquele que o conhece, ainda que por apenas um dia e uma noite; porque voará com as asas do sonho e conhecerá um novo mundo.

Como o templo adornado pelas mais viçosas flores, é o coração onde habita o amor. E o seu altar sagrado é o corpo amado, onde o amante encontra a celebração do Universo.

Sim. E o amor é puro como a alegria da criança, a nuvem branca no céu e o regato cristalino, que entre as pedras inóspitas da montanha faz ouvir a sua canção de esperança.

Comparais o amor à rosa; e eu vos digo que é afortunada a analogia. Porque, se como a rosa o amor é belo e de pétalas macias, como a rosa guarda também os seus espinhos.

É assim que é. E, se ao prático assusta a ameaça dos espinhos, apenas a beleza da rosa importa ao sonhador; e um e outro estão certos, ao temer os seus efeitos e cantar os seus encantos.

No manto encantado do amor, cintilam como estrelas as nossas mais belas ilusões; entretanto, é também nas suas dobras que se ocultam os mais amargos desencantos.

Na sua voz vibram as mais sedutoras promessas, que nos fazem enxergar um futuro de harmonia e felicidade. No seu rastro, todavia, nada se pode ver além da saudade.

Necessitais atender ao seu chamado, porém. Porque é preciso conhecer o amor, para conhecer a si mesmo; para descobrir a magia da companhia e o tormento do ciúme.

Assim é o amor. E se faz presente no primeiro vagido do bebê, nos passos inseguros do infante ou no derradeiro suspiro daquele que bem soube viver o seu tempo.

Assim é o amor. Que se encontra no primeiro olhar, nutre-se do primeiro toque e no primeiro beijo descobre um infinito mar de sensações, que no orgasmo atingem a plenitude.

Assim é o amor. A porta pela qual chegamos a este planeta, a estrada que percorremos para o crescimento, a nossa maior motivação para seguir em frente dia após dia.

Assim é o amor. Que não nos pertence, mas está em nós.

Como a eternidade.

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