AS VOSSAS MÁSCARAS
Necessitais das vossas máscaras.
Como o caramujo necessita da sua concha, o guerreiro da sua armadura e a fruta da casca que a protege. Porque são elas que defendem a vossa alma das agressões do mundo.
Como necessitais das vossas roupas. Porque, como as roupas disfarçam as imperfeições do corpo, são elas que vos permitem fingir o que não sois. E ambas agradam à vossa vaidade.
Sem as mentiras não existiria a sociedade, tal como a conheceis. Porque é a hipocrisia que vos permite a convivência, à medida em que alimenta as vossas mútuas ilusões.
Em verdade, o que chamais de vida não passa de um grande baile de máscaras, onde cada um não se mostra como verdadeiramente é, mas como aquele que gostaria de ser.
Ou como julga que os outros gostariam que fosse. E assim sufoca as próprias verdades, ignora os gritos da sua alma e reprime a si mesmo, em busca da aprovação alheia.
Entretanto, ninguém pode ignorar o seu verdadeiro Eu. E o mais subserviente é aquele que abriga em si a maior revolta; como o mar se mostra mais calmo antes do tsunami.
É dele que mais vos deveis guardar; e ainda mais de como ele vos tornardes. Porque a revolta acumulada é o mais danoso veneno para o homem e aqueles que o cercam.
Necessitais, sim, das vossas máscaras.
Lembrai-vos, porém, que dia virá em que forçosamente as tirareis. E é com o vosso próprio rosto que comparecereis ante o Universo, para prestar contas da jornada que se encerra.
Utilizai-as sabiamente, portanto, para que não se perca a vossa essência. Porque é nu que o homem chega a este mundo e nu ficará, antes da derradeira despedida.