OS VOSSOS VELHOS
Buscai entender a forma como eles se sentem. Porque, para vós, cada dia é um novo dia; um dia a mais,
que viveis. Já para o velho, é um dia a menos; menos um dia que viverá, adiante.
Sede pacientes com os
vossos velhos. Porque, nos dias passados, eles já foram pacientes convosco; já
vos aguardaram, sorrindo, enquanto fazíeis as vossas explorações pelo mundo.
Hoje, deveis ser
pacientes, enquanto eles se despedem do mundo. Assim como no passado lhes coube
escutar as vossas esperanças, hoje vos cabe escutar as suas lembranças.
Porque esta é a
maldição do tempo; ou, talvez, o seu encanto. Da fonte de onde brota a vida, a
cada dia corre uma água nova e fresca; enquanto a de ontem caminha para seu
desaguar.
Ontem, uma pétala foi
carregada pelo rio; hoje, enquanto a pétala de ontem afunda e apodrece,
uma nova pétala flutua nas águas. E o seu perfume se fará sentir, pelo tempo que durar.
Este é o mistério da
vida: não o quanto, mas o como. O que vos cabe não é viver para sempre; mas
construir algo que fique, naqueles que vos cercam, depois que fizerdes a
Viagem.
Sede pacientes e carinhosos, com os
vossos velhos.
Porque foi convosco
que eles, ao longo dos anos, exercitaram a sua paciência. E muitas foram as vezes
em que vos abriram os braços, depois de alguma travessura ou birra
inconsequente.
Porque, em cada um
deles, há uma história de vida. E essa história, em muitos momentos, precisou
passar pela tolerância. Sede tolerantes; como alguma vez, antes, eles foram
convosco.
Recordai que o tempo passará para vós. E, quando velhos estiverdes, desejareis
encontrar, nas pessoas ao vosso redor, a mesma paciência e o mesmo carinho que hoje podeis oferecer.
Sede pacientes e carinhosos, com os
vossos velhos.
Amai-os, como
vos amaram e vos amam. Acariciai os seus cabelos brancos, ouvi as suas lembranças, afagai a sua pele frágil. Beijai os seus rostos envelhecidos, com todo o vosso amor.
Desfrutai, com prazer e alegria, cada um dos
minutos que a seu lado passardes. Essas serão as
vossas lembranças mais queridas, no futuro, quando eles não estiverem ao vosso lado.
Porque os vossos
velhos jamais serão apenas apenas o passado. Eles são a vossa própria história, os
vossos próprios anseios; a imagem vívida das vossas esperanças e desenganos.
Somos, todos nós, os velhos de amanhã.
Música:
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