MORTE E VIDA
E outra será a vossa concepção sobre a vida. Porque atentareis para a transitoriedade das coisas que tanto vos esforçais para alcançar e aqui forçosamente deixareis, quando o tempo vos trouxer a Grande Viagem.
Sim; de nada servem, àquele que deixa este mundo, as riquezas
amealhadas. De nada lhe servirão as roupas e as posses, os bens e a posição social;
antes, talvez, lamentará o muito que se consagrou a buscá-las.
Assim, percebereis a vossa pequenez perante o
Universo. Pois o sol continuará a nascer e a pôr-se todos os dias, no horizonte;
os rios continuarão a correr e as nuvens a brincar no céu, mesmo depois que vos
fordes.
As ondas mansas beijarão as praias de areias douradas, e os vagalhões encherão de
medo o coração dos marinheiros perdidos no mar encapelado; as crianças
ensaiarão os primeiros passos, entre o
temor e a esperança.
Assim será. O mundo continuará a ser o mesmo e a girar em redor do sol,
depois que houverdes partido. Os dias e as noites, os meses e os anos se sucederão,
como se não fizesse falta a vossa presença.
Então, talvez vos vejais como as flores, que brotam e fenecem; e que
julgais inúteis, enquanto murcham sobre o chão. Lembrai-vos, entretanto, que ao
misturar-se ao solo são elas que ajudam a nascer as novas flores.
E assim acontece a cada um de vós, pois deixais as vossas sementes no
mundo. Permanecereis vivos, nas lembranças daqueles que vos amam; nos vossos
exemplos e nos ensinamentos que espalhardes ao vosso redor.
Como as notas da canção persistem em vossa memória, mesmo depois que o
seu som se desvanece no ar; e como o amor se mantém em vossos corações, ainda
que junto a vós não mais esteja o ser amado.
O conceito de morte, que mostra a vossa pequenez, é o mesmo que prova a vossa
grandeza. Porque, apesar do pouco tempo que o homem tem para caminhar sobre a
terra, tanto tendes realizado em vossa caminhada!
Olhai à vossa volta e orgulhai-vos do muito que construístes. As vossas
casas, as vossas leis, a vossa linguagem, os vossos automóveis e aviões, todas
as vossas invenções são frutos do vosso engenho e da vossa inteligência.
Esta é a verdade. E se tanto fostes capazes de fazer, é porque existe
em vós uma centelha da Eternidade, uma fagulha do Coração do Universo. Podeis
operar prodígios, construir civilizações, traçar o vosso destino.Há uma parte de vós, que ignora distâncias e zomba do impossível; que realiza milagres e é capaz de vencer o próprio tempo. Que, invisível aos vossos olhos, é entretanto responsável por traçar os vossos caminhos.
Atentai para o que chamais de morte, e outra concepção tereis sobre a vida. Porque todos os dias nascem e morrem flores, animais, pessoas e planetas; todavia, o Universo se mantém e a vida continua a existir.
Atentai e percebereis que as pessoas que amais continuam vivas em vós,
ainda que se tenham ido deste mundo. Como persistem em vossas lembranças as
vossas canções prediletas e os vossos momentos mais marcantes.
Porque tudo se acaba sobre a Terra, mas o Universo dispõe da
Eternidade. Como o vosso verdadeiro Eu.
Música: