O Árabe

Idéias, sentimentos, emoções. Oásis que nos ajudam a atravessar os trechos desérticos da vida...

sexta-feira, 27 de março de 2015

MORTE E VIDA



Buscai compreender o que chamais de morte.
E outra será a vossa concepção sobre a vida. Porque atentareis para a transitoriedade das coisas que tanto vos esforçais para alcançar e aqui forçosamente deixareis, quando o tempo vos trouxer a Grande Viagem.

Sim; de nada servem, àquele que deixa este mundo, as riquezas amealhadas. De nada lhe servirão as roupas e as posses, os bens e a posição social; antes, talvez, lamentará o muito que se consagrou a buscá-las.
Assim, percebereis a vossa pequenez perante o Universo. Pois o sol continuará a nascer e a pôr-se todos os dias, no horizonte; os rios continuarão a correr e as nuvens a brincar no céu, mesmo depois que vos fordes.
As ondas mansas beijarão as praias de areias douradas, e os vagalhões encherão de medo o coração dos marinheiros perdidos no mar encapelado; as crianças ensaiarão os primeiros passos, entre  o temor e a esperança.
Assim será. O mundo continuará a ser o mesmo e a girar em redor do sol, depois que houverdes partido. Os dias e as noites, os meses e os anos se sucederão, como se não fizesse falta a vossa presença. 
Então, talvez vos vejais como as flores, que brotam e fenecem; e que julgais inúteis, enquanto murcham sobre o chão. Lembrai-vos, entretanto, que ao misturar-se ao solo são elas que ajudam a nascer as novas flores.
E assim acontece a cada um de vós, pois deixais as vossas sementes no mundo. Permanecereis vivos, nas lembranças daqueles que vos amam; nos vossos exemplos e nos ensinamentos que espalhardes ao vosso redor.
Como as notas da canção persistem em vossa memória, mesmo depois que o seu som se desvanece no ar; e como o amor se mantém em vossos corações, ainda que junto a vós não mais esteja o ser amado.
O conceito de morte, que mostra a vossa pequenez, é o mesmo que prova a vossa grandeza. Porque, apesar do pouco tempo que o homem tem para caminhar sobre a terra, tanto tendes realizado em vossa caminhada!
Olhai à vossa volta e orgulhai-vos do muito que construístes. As vossas casas, as vossas leis, a vossa linguagem, os vossos automóveis e aviões, todas as vossas invenções são frutos do vosso engenho e da vossa inteligência.
Esta é a verdade. E se tanto fostes capazes de fazer, é porque existe em vós uma centelha da Eternidade, uma fagulha do Coração do Universo. Podeis operar prodígios, construir civilizações, traçar o vosso destino.

Há uma parte de vós, que ignora distâncias e zomba do impossível; que realiza milagres e é capaz de vencer o próprio tempo. Que, invisível aos vossos olhos, é entretanto responsável por traçar os vossos caminhos.
 
Atentai para o que chamais de morte, e outra concepção tereis sobre a vida. Porque todos os dias nascem e morrem flores, animais, pessoas e planetas; todavia, o Universo se mantém e a vida continua a existir.

Atentai e percebereis que as pessoas que amais continuam vivas em vós, ainda que se tenham ido deste mundo. Como persistem em vossas lembranças as vossas canções prediletas e os vossos momentos mais marcantes.
Porque tudo se acaba sobre a Terra, mas o Universo dispõe da Eternidade.

Como o vosso verdadeiro Eu. 

Música:

sexta-feira, 20 de março de 2015

A VOSSA SOLIDÃO


É só, que cada um vem a este mundo.
Ainda que toda a família comemore o aguardado nascimento do bebê, é apenas da sua boca que sairá o primeiro choro; e é apenas nela que se formará o primeiro sorriso.
Só, cada um o deixará. Por melhor que tenha sido o homem e por mais profunda dor que cause a sua partida, somente ele sentirá a derradeira agonia e exalará o último suspiro.
Acostumai-vos a esta verdade, por mais amarga que possa parecer. Observai que, embora as rosas do buquê se sustentem uma à outra, cada uma brota e floresce a seu tempo.
As estrelas, que tão próximas entre si vos parecem à distância, seguem as suas próprias órbitas. E, entretanto, enfeitam juntas o céu noturno, que tanto vos encanta.
Sim; é certo que as vossas vozes se unem, para formar a beleza do coro. Mas é também certo que cada um precisa cantar a sua parte, para que haja a harmonia no todo.
E, ainda que o amor possa unir os vossos corações, lembrai-vos de que cada coração precisará bater por si mesmo, para que a vida e o amor continuem a existir em vós.
Sós estareis, durante todo o tempo de cada jornada. Ainda que vos possais dar as mãos e caminhar juntos, em verdade cada um de vós precisará percorrer a sua própria estrada.
E é com os próprios olhos, que deverá enxergar o seu caminho e vencer os obstáculos que nele encontrar. Com os seus próprios esforços, transpor os seus rios e os seus oceanos.
A cada um, cabe escalar as suas montanhas e descer ao fundo de seus abismos. Pois o objetivo da jornada é o Conhecimento; e este só chega para quem aceita o aprendizado.
Não vos enganeis: podeis até dividir com outrem a vossa cama, porém cada um de vós terá os seus próprios sonhos e os seus próprios pesadelos. E acordará com os próprios olhos.
E podeis dividir os vossos ideais. Contudo, cada um precisará trabalhar para realizar os próprios ideais; pois está escrito que o vosso pão será ganho com o suor do vosso rosto.    
Assim é. Porque ninguém conhecerá a felicidade e a tristeza, se não as encontrar em seus próprios caminhos; ou saberá a dureza das pedras, a menos que sangrem os seus pés.
E ninguém chegará ao Coração do Universo, senão através do seu verdadeiro Eu.  
Música:

sexta-feira, 13 de março de 2015

CADA CASO DE AMOR


Cada caso de amor é único, em si mesmo.
Assim são todos os amores. Porque cada amor tem os seus próprios encantos e desencantos, as suas próprias ilusões e desilusões, a sua própria história, o seu nascimento e o seu final.
Cada amor tem as suas próprias músicas, os seus próprios cenários e os seus próprios sonhos. Os seus segredos, as suas cenas inesquecíveis, os seus momentos de êxtase e de agonia.
Cada caso de amor é um universo próprio, onde nascem e morrem estrelas. Um mundo particular, onde ninguém mais consegue penetrar; uma tela que apenas duas pessoas são capazes de pintar.
Cada caso de amor é uma canção única, audível apenas aos corações dos amantes, que enlaçados dançam aos seus acordes, entre outros pares que volteiam no salão da vida, ao som de suas próprias canções.
Cada caso de amor é um jardim, onde os amantes colhem as suas rosas e magoam-se nos seus espinhos. E cada um julga mais belas as suas rosas e mais dolorosos os seus espinhos.
Cada caso de amor é um conto mágico. Com suas fadas e bruxas, suas varinhas e vassouras, seus elfos e dragões. E, ainda que o final não seja feliz, o encanto da história perdura em vós.
Cada caso de amor é como um raio de sol, que acaricia a vossa alma. E o seu calor, aliado à chuva inevitável das lágrimas, faz brotar os sentimentos mais intensos em vossos corações.
Cada caso de amor é diferente de todos os outros. E todos eles são iguais, em sua essência, porque o amor é sempre o mesmo. Diferentes são as pessoas, e cada uma o vê do seu jeito.
Cada caso de amor é como um navio que zarpa, rumo a um destino desconhecido. E o seu encanto não está na chegada ao porto, mas nas maravilhas e nas emoções que oferece a viagem.
Esta é, talvez, a lição que o Amor busca ensinar-vos: como podereis esperar um amanhã feliz, se hoje o medo do futuro vos angustia? Mais sensato é construir um hoje feliz em cada dia.
Cada hoje é o vosso novo amanhã; e dia virá que será o vosso último. Desfrutai, portanto, da viagem que o amor vos oferece; ninguém sabe quando ocorrerá o desembarque, qual será o seu porto final.
Vivei intensamente os vossos casos de amor; que não pertencem senão a vós e a quem amais. Cada amor é uma joia única; garimpada, entre sorrisos e lágrimas, por vossos corações.
E que mereceis guardar em vosso verdadeiro Eu.  
Música:

sexta-feira, 6 de março de 2015

A NUDEZ



Há, no corpo nu, um quê de imensa fragilidade.

Como se a nudez realçasse a insegurança do ser humano. Como se as roupas lhe pudessem servir de defesa contra o mundo.

E, ao mesmo tempo, uma impressão de força e poder. 

Como se, ao desnudar-se, o homem se aceitasse como é; assumisse a sua beleza e as suas imperfeições.
Há algo de libertador na nudez.

Como se, ao despir as roupas, desnudássemos também a nossa alma e retirássemos a máscara que usamos todos os dias. Como se nos tornássemos incapazes de mentir.

Como se rejeitássemos as imposições da sociedade; como se despíssemos preconceitos e inibições, voltando ao tempo em que nus e livres corríamos pelos campos.

Pois, ao desnudar-se, o homem afasta de si o fantasma da rejeição; triunfa sobre o medo de exibir-se tal como é. E o que é a liberdade, senão a ausência do medo?

Há algo de belo na nudez.

Ninguém existe, que não tenha os seus próprios atrativos. E, às vezes, aquilo que julgamos feio em nosso corpo pode ser de uma beleza insuspeitada, para alguém que nos queira.

Pois todo corpo tem os seus encantos; um mamilo róseo, a curvatura suave de uma coxa, a alcova convidativa dos seios, a sombra dos músculos sob a pele fresca e macia.

Porque é em nós, que vive a beleza; não na simetria das formas, não em nossos olhos, mas em nossa essência. E por isto, aquele que ama encontra a beleza no ser amado.

Há algo de profano na nudez.

Que aguça os nossos sentidos e faz viajar a nossa imaginação, Que nos predispõe ao sexo e ao prazer; que nos leva a desejar sensações intensas, carícias proibidas.
Há algo de sagrado na nudez.

Algo indefinido; uma aragem de sensualidade e pureza, uma sensação de liberdade com o vento que corre na pele, o abandono de compromissos e tabus, a plenitude de ser.

Algo que nos remete à centelha divina que existe em cada um de nós. Que tem a essência dos campos e da mata virgem, do regato manso e cristalino e do oceano encapelado.

Há algo de inquietante na nudez.

Que nos leva ao nosso verdadeiro Eu. 
 Música:

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